19.3 C
Franca
novembro 25, 2024
Política Rural

G20 e agro: países do grupo aumentam barreiras no comércio global; Brasil deve fechar acordos com China

Com 85% das trocas internacionais, G20 tem multiplicado políticas unilaterais de restrição

Os líderes do G20, reunidos no Rio nesta segunda (18/11) e terça-feira (19/11), vão se comprometer a combater o protecionismo e defender o sistema de regras comuns, como fazem normalmente na cúpula anual. Na prática, porém, o que se vê é o aumento de restrições no comércio internacional tendo como fundo a multiplicação de políticas unilaterais adotadas por países do grupo, que fazem 85% da produção global.

O agronegócio brasileiro está atento aos debates e espera firmar acordos na ocasião, mostrando protagonismo em temas correlatos como transição energética, resiliência climática e produtividade sustentável. Por outro lado, antes do encontro oficial, realizou debates para apresentar pautas específicas do setor, como informou a Globo Rural em setembro.

Na semana passada, o ministro da Agricultura e Pecuária Carlos Fávaro demonstrou otimismo ao confirmar que em um encontro programado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da China, Xi Jinping, trará anúncios que serão benéficos ao agronegócio brasileiro.

Entre os segmentos de destaque a serem debatidos durante a Cúpula estão as frutas, biocombustíveis, como o etanol de milho, gergelim, sorgo, moídos bovinos e suínos. Atualmente, a bilateralidade agropecuária entre as nações conta com 43 novas plantas brasileiras frigoríficas habilitadas para compra por parte dos chineses, enquanto 12 unidades tiveram os embargos suspensos.

Nesta terça-feira (19), haverá a última reunião de cúpula sobre transição energética e mudanças climáticas. Depois, o governo brasileiro coordena um encerramento para marcar a transmissão da presidência do G20 para a África do Sul.

Mais unilateralismo?

Dados que a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala, leva para a cúpula presidida pelo Brasil atestam mais unilateralismo e mais políticas focadas na proteção interna.

Os países do G20 introduziram 91 novas medidas restritivas ao comércio entre outubro de 2023 e outubro de 2024, numa alta de 85,7% em relação ao relatório anterior fornecido para a cúpula do G20 na India no ano passado.

É verdade que foram, ao mesmo tempo, adotadas 141 medidas que facilitam as trocas de mercadorias, também sobretudo do lado das importações. Mas a tendência de mais restrições e o valor de comércio envolvido inquietam ainda mais pelo impacto em termos de escassez, volatilidade de preços e incertezas.

Para 2024, o valor de comércio coberto por restrições no G20 atingiu US$ 829 bilhões comparado a US$ 246 bilhões em 2023. O total de restrições em vigor cobre US$ 2,3 trilhões, ou 12,7% das importações do G20 e 9,4% das importações globais.

As medidas de facilitação de comércio aumentaram para US$ 1 trilhão comparado a US$ 318,8 bilhões no ano passado.

Nada menos de 22 medidas de restrições às exportações foram adotadas. A tendência “positiva” é que no total agora só há 70 restrições às exportações de alimentos, insumos e fertilizantes em vigor.

Várias medidas de restrições foram aplicadas em países do G20 sob argumento de proteção da segurança nacional. Medidas de defesa comercial, especialmente anti dumping, continuam também a ser centrais no G20.

Entre janeiro e junho, houve aumento de 47% no número de investigações antidumping iniciadas por países do G20, comparado ao período julho-dezembro de 2023. Uma consequência é a imediata elevação de incertezas entre os operadores, sobre se, e quanto, vão pagar de sobretaxa se comprovado o dumping.

A Índia abriu 43 investigações antidumping no primeiro semestre deste ano comparado a 29 no semestre anterior. Os EUA vêm em seguida com 35 comparado a 33 antes. O Brasil abriu 14 (e três antes).

Políticas industriais estão se tornando o suporte central para indústrias e setores estratégicos em países do G20, e deverão ter impacto na concorrência e no comércio internacional.

Mais e mais a OMC vê evidencia de fragmentação do comércio ligado a preocupações geopolíticas. Exportações e importações são crescentemente feitas entre países “like-minded” (compartilham certos valores comuns), uma tendência acelerada pela guerra na Ucrânia. Ao mesmo tempo, a entidade não constata ainda uma mudança mais ampla em direção à regionalização ou “near-shoring” (deslocar a produção para a mais perto).

A preocupação aumenta com os planos de governo de Donald Trump a partir de janeiro. Unilateralismo mais agressivo de Trump pode conduzir uma desordem econômica maior, e ser acompanhada por extremismo político e guerra.

Relembre o G20 do agro, em Mato Grosso

Entre os dias 9 e 10 de setembro, o Brasil realizou um encontro de ministros da agricultura de países que compõe no município de Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, Estado escolhido por ser o maior produtor de grãos do país. Na ocasião, os representantes de Estado debateram oportunidades para avançar na produção de alimentos de forma sustentável e com segurança alimentar, na transição energética, além de uma elaboração de uma declaração ministerial conjunta para ser apresentada Cúpula de Chefes de Governo e Estado, no Rio de Janeiro.

Durante a programação, organizada pelo Mapa, foram realizadas reuniões técnicas, bilaterais e ministeriais, que também definiu os quatro eixos do GT da Agricultura no G20 Brasil como:

  • Sustentabilidade nos sistemas agroalimentares em seus múltiplos aspectos;
  • Ampliação da contribuição do comércio internacional para a segurança alimentar e nutricional;
  • Reconhecimento do papel essencial da agricultura familiar, camponeses, povos indígenas e comunidades tradicionais para sistemas alimentares sustentáveis, saudáveis e inclusivos; e
  • Promoção da integração sustentável da pesca e aquicultura nas cadeias sociais locais e globais.

O Grupo de Trabalho de Agricultura do G20 no Brasil reuniu-se por quatro dias, com representantes ministeriais de 40 delegações. Além do Mapa, também integram o GT da Agricultura os Ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Pesca e Aquicultura (MPA), Relações Exteriores (MRE) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Depois, em outubro, alguns líderes, como o ministro da Agricultura da Nova Zelândia, Todd McClay, visitou São Paulo e Brasília para conduzir uma das reuniões, aproveitando para estreitar laços agropecuários e comerciais entre os dois países.

O Brasil assumiu no dia 1º de dezembro de 2023 a Presidência temporária do G20 pela primeira vez no formato atual do G20. O mandato tem duração de um ano e se encerrará em 30 de novembro de 2024. Ao longo do mandato, o Brasil realizou mais de 100 reuniões de grupos de trabalho e 20 reuniões ministeriais, contando com o encontro que está acontecendo na capital fluminense.

Related posts

Para analistas, PIB fraco afasta investidor

Fabrício Guimarães

Senado aprova Política Nacional de Incentivo ao Café de Qualidade

Fabrício Guimarães

Brasil se destaca em segurança energética, diz ministro

Fabrício Guimarães

Deixe um comentário

Usamos cookies para melhorar sua experiência no site. Aceitar Leia Mais