Pesquisador fala sobre como essa variedade de café está deixando de ser considerada de “segunda linha”
Até pouco tempo considerados cafés de segunda linha, daqueles que serviam apenas para baratear blends ou matéria-prima para a indústria de solúveis, os novos Robustas chegaram pra ficar!
É uma nova forma de enxergar o Coffea canephora (conilon e robusta), e essa transformação não veio ao acaso. Se deve, basicamente, aos produtores pioneiros que começaram a adotar novas tecnologias do plantio à pós-colheita. No campo, as grandes inovações passam por seleção genética, novos arranjos espaciais, irrigação e podas de renovação.
O produtor de Robusta também aprendeu a valorizar o fruto do seu trabalho. Colheitas cuidadosas e secagem lenta têm feito a grande diferença. Há ainda cafeicultores que têm investido em técnicas de processamento via úmida e processos fermentativos diversos.
Esse conjunto de mudanças deu origem a um tipo de grão que a cadeia de transformação do café ainda não conhecia. Esqueça os cafés neutros e cereais! Os Robustas agora são achocolatados, frutados, amendoados e exóticos. Se você gosta de um café fino, mas não abre mão de uma bebida forte e encorpada, este é o seu café!
Quem provou um, viu todos! Errou! Os Robustas agora são amazônicos, capixabas, baianos e, pasmem, até mineiros. É uma infinidade de aromas e sabores que chegam a desconcertar os degustadores mais preparados. Os mais incautos chegam a se confundir e dizem, de forma tímida e insegura: é arábica?
Mas, para os produtores dos novos Robustas, a comparação com os cafés arábicas ficou no passado. São cafés novos, diferentes com características organolépticas únicas. Inclusive existe até um Protocolo de Degustação de Robustas Finos que foi lançado em Uganda no ano de 2010. São cafés em que os açucares e a acidez são mais sutis e o corpo mais pronunciado, mas isso só o deixa mais equilibrado. A cafeína, que costuma ser o dobro da espécie arábica, deixa um certo amargor, mas que lembra o do chocolate. Essa é apenas uma definição protocolar dos novos Robustas, porque o sabor e o aroma deles vai muito além.
São cafés que podem ser servidos puros ou em blends, com arábicas igualmente finos. E o retrogosto, esse é o ponto forte! São cafés densos, licorosos e marcantes. Os novos Robustas vieram pra ficar e, agora, querem andar bem acompanhados em misturas com Gueixas e Bourbons, e eu recomendo!
Além de originarem bebidas excelentes, os cafés Robustas são plantas fascinantes. São altas, vigorosas e crescem em multicaule, ao contrário do arábica, que tem um formato de pinheiro. São plantados via semente ou propagação vegetativa (clonal). E, esta tecnologia clonal é a principal razão da verdadeira revolução que acontece no campo. Os cafeicultores cultivam linhas intercaladas de seis ou mais clones, cada um com a sua característica de porte, produção, tamanho de frutos e ciclo de maturação. São materiais genéticos extremamente responsivos aos tratos culturais e irrigação, em lavouras bem tratadas e tecnificadas, não raro, ultrapassam 150 sacas por hectare.
Fonte: Globo Rural