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novembro 25, 2024
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Café com ‘pegada de cachaça’ vence o mais importante concurso do setor

Produtores de Minas Gerais dominaram o Cup of Excellence 2024, considerado o “Oscar do Café”

Três produtores mineiros, sendo dois do Cerrado e um da Mantiqueira, venceram o Cup of Excellence 2024, o mais importante concurso do setor no mundo, uma espécie de Oscar da qualidade de café. Entre os top five das três categorias, só dois não são mineiros. No total, 13 cafés receberam o título de “presidencial”, ou seja, tiveram pontuação acima de 90 pontos.

O resultado do concurso que recebeu mais de 700 amostras de café do país foi divulgado no sábado (2/11) em Franca, no interior paulista, em cerimônia que teve a participação da presidente da OIC (International Coffee Organization), a brasileira Vanusia Nogueira.

Na degustação às cegas feita no dia anterior por 25 provadores internacionais de 11 países, liderados pelo mexicano Jesus Alvares, o café mais pontuado foi o de Marcelo Assis Nogueira, da empresa Bioma Caffe, de Campos Altos, no Cerrado, na categoria experimental, que alcançou a média de 93,23 na escala BSA, que vai até 100.

Essa categoria, que estreou no concurso no ano passado, é de cafés que passaram por algum processo de fermentação induzida, com ou sem adição de leveduras comerciais.

Degustação às cegas foi feita por 25 provadores internacionais de 11 países — Foto: Divulgação SCBA
Degustação às cegas foi feita por 25 provadores internacionais de 11 países — Foto: Divulgação SCBA

Dionathan de Almeida, campeão mundial em abril deste ano da Cup Taster, maior competição de provadores de café do mundo, foi um dos três julgadores brasileiros em Franca. Ele escolheu como destaque do concurso o café do Cerrado Mineiro que levou o título da categoria experimental.

“Esse café surpreendeu a todos desde a fase nacional. Ele traz a pegada da cachaça, mas não tão alcoólico, com doçura acentuada, muita complexidade e finalização longa. Dei a ele minha maior nota, 97 pontos, porque foi um dos melhores que já provei até hoje”, disse o campeão mundial, que nasceu em uma fazenda de café e começou a provar a bebida em 2015.

Segundo ele, seus colegas internacionais ficaram surpreendidos com a qualidade dos grãos brasileiros.

“A gente teve excelentes cafés no ano passado e neste ano a qualidade impressionou ainda mais, o que mostra que os produtores brasileiros estão melhorando os processamentos e buscando novas variedades e conhecimentos”, disse.

Com 92,32, Ronaldo da Silva, do Sítio Santa Luzia, do município de Cristina, na Mantiqueira de Minas, foi o campeão da categoria via seca, ou natural, em que o café recém-colhido que pode ser lavado ou não é totalmente seco com casca em terreiro ou secador.

Na categoria via úmida, com pontuação de 91,93, o campeão foi Vitor Marcelo Queiroz Barbosa, da Fazenda Sobro e Bonito de Cima, de Coromandel, também no Cerrado Mineiro. Participam desta categoria cafés cerejas descascados ou despolpados e desmucilados.

Conheça os campeões

Marcelo Nogueira, sócio-diretor da Bioma Café, que também ficou em 6º lugar na categoria natural e em 8º no cereja descascado, disse que a propriedade tem 243 hectares de café e produziu neste ano 13 mil sacas. Desde o início do projeto em 2011, 100% dos cafés da fazenda são especiais (acima de 80 pontos) e 80% são classificados com pontuação superior a 85 pontos.

“Nosso terroir, nosso clima e o trabalho da equipe são voltados inteiramente para a produção de cafés especiais. A produção não é orgânica, mas é totalmente sustentável, com preservação do solo e cuidados no manejo.”

A fazenda exporta diretamente há três anos para Estados Unidos e Europa 99% da produção. Nogueira acredita que o prêmio vai ajudar na prospecção de novos clientes no exterior e também incentivar a venda no mercado interno.

Ronaldo Silva, campeão da categoria via seca — Foto: Eliane Silva/Globo Rural
Ronaldo Silva, campeão da categoria via seca — Foto: Eliane Silva/Globo Rural

O agricultor familiar Ronaldo Silva, campeão da via seca neste ano e terceiro colocado no ano passado, diz que ficou muito emocionado com o troféu. Ele começou no café na fazenda do pai e em 2007 comprou seu sítio, mas a lavoura era muito antiga. O produtor foi investindo ao longo dos anos para mudar processos e variedades e plantou sua primeira lavoura em 2017.

O sítio de 9,1 hectares tem também 1 hectare de banana e outro de mata. Neste ano, ele colheu 80 sacas, sendo 10 sacas de café especial. Entrega toda a produção em cooperativa.

Vitor Marcelo, vencedor da categoria via úmida — Foto: Eliane Silva/Globo Rural
Vitor Marcelo, vencedor da categoria via úmida — Foto: Eliane Silva/Globo Rural

Vitor Marcelo, vencedor da via úmida neste ano e campeão também em 2021 quando era categoria única, disse que a fazenda com 1.060 hectares de café é um negócio familiar que começou com seu avô na década de 70. Cerca de 60% da produção é de grãos especiais. A exportação direta ainda é pequena, cerca de 10%, para Dubai, Coreia do Sul, Inglaterra, Portugal, Austrália e Rússia.

“Somos voltados para a produção de cafés especiais. Nossa fazenda é totalmente sustentável, com 1.160 hectares de reserva legal, ou seja, área maior que a de lavoura. Tudo que era pecuária no tempo do meu avô virou área preservada, nos preocupamos muito com proteção de nascentes, praticamos agricultura regenerativa e temos várias certificações.”

Leilão

Os oito melhores cafés da categoria experimental e os dez melhores da via seca e via úmida serão leiloados em 10 de dezembro, com a expectativa de bater o recorde estabelecido no leilão do ano passado, quando o campeão da via seca produzido na Fazenda Rainha pela Orfeu Cafés, em São Sebastião da Grama (SP), obteve o recorde de R$ 84,5 mil a saca de 60 kg. A japonesa Sarutahiko Coffee adquiriu três sacas.

O Cup of Excellence, realizado há 25 anos, é promovido pela BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais), pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e pela ACE (Alliance for Coffee Excellence).

Top 5 da premiação

Categoria Especial

NotaProdutorFazendaCidade/região
93,14Bioma CaféM&F CoffeeCampos Altos/Cerrado Mineiro
91,00Carmem P. MeirellesSanta Rita do XicãoSão Gonçalo do Sapucaí/Mantiqueira
90,5Fabiano Ferreira da SilvaQueixadasCampos Altos/Cerrado
90,36Abex ExportaçãoLagoa SecaSerra do Salitre/Cerrado
90,14Ipanema AgrícolaRio VerdeConceição do Rio Verde/Mantiqueira

Fonte: BSCA

Categoria via seca

NotaProdutorFazendaCidade/região
92.32Ronaldo da SilvaSítio Santa LuziaCristina/Mantiqueira
91,89Fazenda SertãozinhoRainhaSão Sebastião da Grama/Região Vulcânica
91,57Ipanema AgrícolaRio VerdeConceição do Rio Verde/Mantiqueira
90,89Rafael Naves de FigueiredoBoa VistaGuaxupé/Sul de Minas
90,57Sergio Cotrim D’AlessandroCotrimManhumirim/Matas de Minas

Fonte: BSCA

Categoria via úmida

NotaProdutorFazendaCidade/região
91,93Vitor Marcelo BarbosaSobro e Bonito de CimaCoromandel/Cerrado
90,89Flávio Ferreira da SilvaOlhos D’ÁguaCampos Altos/Cerrado
90,21Ercilei José de OliveiraSítio Pedro VarinhaManhuaçu/Matas de Minas
89,93Waldemar Ferreira NetoVista BrigadeiroPedra Bonita/Matas de Minas
89,75Estevão Denizar DouroSítio DenizarMarechal Floriano/Montanhas do Espírito Santo


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