A companhia de açúcar e etanol São Martinho teve lucro líquido de R$ 106,3 milhões no primeiro trimestre da safra 2024/25 de cana, um resultado 51,7% menor do que o do mesmo período do ciclo anterior. O recuo, segundo a empresa, deveu-se a efeitos não caixa, uma vez que o desempenho operacional foi positivo.
Um desses efeitos não caixa foi a variação no preço do ativo biológico. De acordo com o CEO da companhia, Fabio Venturelli, trata-se de um cálculo contábil que indica quanto vale o canavial que está no campo. No primeiro trimestre da safra passada, os preços do açúcar deram impulso a esse valor. “No primeiro trimestre do ano [safra] passado, foi uma ‘mais valia’ muito expressiva no ativo biológico”, afirmou o executivo.
Felipe Vicchiato, diretor financeiro da São Martinho, acrescentou que outro efeito não caixa que afetou o lucro foi a marcação a mercado do swap de dívidas. “A gente tem algumas operações em que captamos [recursos] no mercado, em debêntures, e tivemos impacto principalmente de uma variação muito grande na taxa de juros”, disse.
Por outro lado, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado da companhia teve um aumento de 20,7% no primeiro trimestre da safra, para R$ 672,3 milhões.
Nos três primeiros meses da temporada, a receita líquida da São Martinho cresceu 22,3% em relação ao mesmo período de 2023, para R$ 1,65 bilhão. “A safra andou bem, todas as unidades que processaram cana produziram suas metas, em etanol e açúcar, com preços melhores. Nossa planta de etanol de milho ainda diluía os custos dos estoques de passagem de milho, mas operacionalmente foi muito bem”, disse Venturelli.
O processamento de cana da empresa cresceu 16,6% no primeiro trimestre do ciclo 2024/25, para 8,85 milhões de toneladas, sendo 5,79 milhões de cana própria e o restante, de terceiros. Na mesma linha, a produtividade média do período cresceu 11,8%, para 91,7 toneladas por hectare.
Apesar do mix de produção mais alcooleiro, uma característica da São Martinho, a produção de açúcar avançou 26,4% no período, para 535,4 mil toneladas. A fabricação total de etanol (de milho e cana) subiu 17,2% e alcançou 393,7 mil metros cúbicos.
O biocombustível do milho representou 50,8 mil metros cúbicos no trimestre, mas foi o que mais cresceu: o volume de produção aumentou 37,2%.
Na avaliação de Felipe Vicchiato, o destaque nos próximos trimestres será justamente a operação de etanol de milho. “Vai ter custo menor, volume de vendas de DDGS [coproduto] maior e mais consumo de etanol”, estimou o executivo. Com o recuo dos preços do milho, espera-se redução de custo.
“Os níveis de consumo de etano estão bastante relevantes”, acrescentou o CEO da São Martinho.
Uma preocupação para o segmento sucroenergético como um todo é a ocorrência do fenômeno climático La Niña, que deixou o inverno ainda mais seco no Centro-Sul do Brasil. “Já sabíamos que essa virada aconteceria. Trabalhamos por dois anos na seleção de variedades [de cana-de-açúcar], ajuste das rotinas e da colheita, e operacionalmente não estamos prevendo impactos sobre a empresa. Mas a indústria, no geral, perdeu produtividade”, afirmou Venturelli.