Com o fechamento dos serviços de alimentação em decorrência de medidas para conter o avanço do coronavírus no Brasil, as perspectivas são de queda no faturamento da indústria de lácteos, informou o Centro de Estudos Avanços de Economia Aplicada (Cepea).
Segundo os pesquisadores, a interrupção no atendimento por esses estabelecimentos “impactou severa e negativamente o consumo de lácteos refrigerados, como queijos – que respondem por mais de 30% da alocação do leite nas indústrias”.
“Assim, as indústrias lácteas poderão se deparar, em poucas semanas, com um cenário de baixo faturamento, o que será transmitido aos produtores”, afirma o Cepea.
Em algumas regiões onde a produção de derivados lácteos tem maior peso sobre o consumo total de matéria-prima, o centro constata que a captação de leite no campo já foi interrompida.
“Vale lembrar que, no episódio da greve dos caminhoneiros, a interrupção da coleta de leite durante uma semana levou ao descarte de mais de 300 milhões de litros nas fazendas, o que somou prejuízo de R$ 1 bilhão ao setor”, afirma a instituição, em nota.
Captação cai, preço sobe
Se as perspectivas futuras são de menor consumo de derivados e queda no faturamento, as condições de mercado em março foram positivas para o setor. Segundo o Cepea, o preço nominal do leite UHT (longa-vida) recebido pelas indústrias, em negociações no Estado de São Paulo de 2 a 27 de março, registrou alta de 24,7%.
A valorização, explica o Cepea, reflete o aumento da demanda após as incertezas acerca do abastecimento quando as primeiras notícias sobre a pandemia começaram a circular. Por outro lado, o cenário ainda é de queda na captação, reflexo tanto dos problemas climáticos, quanto do abate de matrizes e maiores custos de produção no início deste ano.
Na média nacional, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) calculado pelo Cepea apresentou queda mensal de 4,35% em fevereiro, acumulando retração de 7,9% este ano. Com isso, o preço médio pago ao produtor em março, referente ao leite captado em fevereiro, registrou alta de 1,4%, cotado a R$ 1,4376 o litro.