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novembro 25, 2024
Agricultura

De olho no clima: E como ele afeta a agricultura paulista?

por FAESP

O impacto dos eventos climáticos extremos na produção nos últimos anos e os desafios para se evitar perdas

Não há para onde correr: onde quer que esteja, o produtor rural é afetado pelo clima. A ausência ou abundância de chuvas pode tanto garantir o bom andamento da produção, quanto decretar perdas e prejuízos econômicos, dependendo da data de ocorrência, intensidade, condições e o estágio das lavouras. Além da chuva, altas temperaturas, ventanias e queda de granizo, entre outros eventos climáticos, como as geadas, impactam intensamente quem trabalha no campo. Os chamados eventos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais comuns, e isso acende um alerta sobre o campo.

“É chavão que o clima é um dos principais fatores de risco do agronegócio, que transcende a capacidade de gestão dos agricultores. Além de interferir na produtividade, as condições climáticas também podem gerar atrasos em etapas importantes como plantio e colheita, que alteram todo o ciclo produtivo e consequentemente a vida do produtor rural, seja na agricultura ou na pecuária. Além do comprometimento da produção, há reflexos em termos de diminuição do faturamento, margens e dificuldades para quitar compromissos financeiros”, sintetiza Antonio Salvador Consalter, produtor de Santa Cruz do Rio Pardo, coordenador da Comissão Especial de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Energia e membro da Comissão Técnica de Política Agrícola, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). O desafio é continuar produzindo, mesmo exposto a condições e eventos difíceis de prever.

Este desafio, para enfrentamento das alterações climáticas, está no radar da gestão pública por meio do Plano de Ação Climática 2050 (PAC 2050), criado pelo Governo do Estado de São Paulo com o objetivo de desenhar uma trajetória de desenvolvimento econômico sustentável. O Plano busca implementar medidas que permitam limitar o aumento de temperatura, buscando a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa, colaborando com os compromissos nacionais do Acordo de Paris. A ideia é mitigar as emissões até 2050 em diversos segmentos econômicos – entre eles, a agricultura.

Vida de produtor

Consalter trabalha com pecuária de corte e grãos em duas fazendas. Na atividade desde meados da década de 1980, ele já vivenciou muitos acontecimentos de natureza econômica e climática. Nos últimos anos, as recorrentes intempéries climáticas comprometendo as safras têm preocupado. “O maior impacto do clima nos dois últimos anos foi a ocorrência de geadas nos meses de junho e julho, que foi de média a severa em nossa região, agravando os danos e a queda de produtividade que a seca prolongada, em 2021, já havia provocado nas lavouras e pastagens do Estado”, afirma. O milho safrinha, que tinha potencial de colheita de 82,64 sacas por hectare, foi colhido a 34 sacas por hectare. Em 2022, os meses de outubro e novembro, com temperatura noturna abaixo dos 16 graus, implicou atraso do plantio da safra de verão de soja e desenvolvimento das plantas abaixo do esperado.

Neste início de primavera, o clima teve influência significativa no desenvolvimento e recuperação das pastagens”, observa o produtor. Já a ocorrência de chuvas acima da média não causou problemas.

Os eventos de 2022 não foram os únicos que fugiram do comum. Em 2021, a distribuição de chuvas na região também foi atípica. “Observou-se falta de chuvas em praticamente 90 dias no período de junho a outubro, e com geadas nos meses de junho e julho. Considero isso inesperado”, avalia Consalter. Ele explica, baseado em sua experiência, que existem medidas que colaboram para a resiliência climática de campos e pastos – ou seja, a capacidade da propriedade resistir, tanto quanto possível, das intempéries fora do comum.

A agricultura sustentável é aliada

No plantio de grãos, Consalter aposta na utilização de plantio direto com rotação de cultura, além de um mix de plantas de coberturas. “A intenção é utilizar diversas espécies diferentes de plantas de cobertura, cada uma com um sistema radicular, função no solo e comunidade de microrganismos diferentes, de modo a fortalecer a estrutura física e biológica do solo”, diz. O mix de cobertura é uma prática em desenvolvimento no munícipio e na região de Santa Cruz do Rio Pardo, cujo objetivo é manter o solo protegido, diminuir perdas de água dos terrenos e disponibilizar nutrientes.

A utilização de irrigação também ajuda. “Principalmente com uso de pivôs, é possível reduzir o problema da seca ou falta de chuvas e ou umidade”, aponta o produtor. Mas é preciso planejamento financeiro, já que o custo desse tipo de solução é elevado.

Na pecuária, ele indica o manejo de pastos, utilizando o pastoreio rotativo, dentre outras providências. “Número de piquetes em função do tipo de forrageira, adubação de manutenção e pasto deferido (vedar piquetes em maio para usar a partir de agosto, por exemplo) e, quando possível, integração lavoura-pecuária-floresta”, ensina o experiente pecuarista. Quando isso não acontece, é possível suplementar durante o período de inverno, mas os gastos maiores com alimentação do rebanho, cujos custos estão altos, acabam comprometendo a receita da atividade.

Já a ocorrência de granizos de maneira pontual e em diversos períodos do ano é um fator de risco climático, por exemplo, que escapa ao controle do produtor. A prevenção, indica Consalter, é utilizar um seguro rural que tenha cobertura contra os principais riscos climáticos, como a ocorrência de seca, geada e granizo, a fim de, pelo menos, reduzir os prejuízos. “O seguro rural é um instrumento para gestão de risco na agricultura, que dá garantia ao produtor em momentos de dificuldades, como catástrofes climáticas e quebra de safra. No entanto, as atividades do agro necessitam e é anseio de todo produtor um seguro de produção e renda. Precisamos evoluir para um seguro de receita agrícola (faturamento), que cubra simultaneamente os riscos climáticos (produtividade) e de mercado (preços), pois, o que temos hoje é um seguro de produção, que não cobre completamente a necessidade dos produtores que é a garantia de renda”, diz Consalter.

Compromisso coletivo

O PAC 2050, formulado pelo governo estadual, indica uma série de orientações para diversos setores produtivos que precisam unir esforços na redução de emissão de gases de efeito estufa. Trata-se de uma responsabilidade coletiva. No Estado de São Paulo, as atividades de agropecuária, as florestas e usos do solo são responsáveis por 28% das emissões de gases estufa, contra 60% no Brasil. Entre nós, os transportes e a energia também contribuem muito para o fenômeno, emitindo 29% e 27% dos gases, respectivamente. Resíduos (13%) e indústria (3%) também entram na conta.

O Governo de São Paulo indica, na agricultura, a implementação da agricultura de baixo carbono, com potencialização de remoção de carbono através de restauração ecológica e da melhoria de manejo do solo, com plantio direto e adoção de insumos menos intensivos. O trabalho também envolve a recuperação de pastagens degradadas e modificação de dieta de bovinos e melhoramento genético visando a redução de emissões de metano.

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