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outubro 25, 2025
Agricultura

Viabilidade de cultivo do trigo como cultura de inverno intercalar em cafezais na Zona da Mata de MG.

Fonte: Café Point

Um estudo inicial de introdução do trigo intercalar em cafezal na Zona da Mata de MG foi feito em uma pequena parcela em 2022/23.

A cultura do trigo é tradicional na região Sul do Brasil por seu clima mais frio. Por produzir pouco uma quantidade insuficiente para o consumo interno, é necessário importar o produto. 

Diversos esforços têm sido feitos para ampliar o cultivo do trigo em regiões de maior altitude, especialmente nos cerrados. A Embrapa considera aptas, para cultivo do trigo, as regiões em altitudes acima de 600 m em Minas Gerais, onde também coincide a aptidão para cultivo de cafeeiros arábicas. 

O cultivo de culturas intercalares em cafezais tem sido indicado na fase de formação das lavouras ou pós-poda drástica, quando existe maior área livre nas ruas da lavoura. O trigo tem sido pouco usado como cultura intercalar em cafezais, por ser plantado no inverno e em regiões sujeitas a geadas, sendo que a cobertura vegetal do solo torna o ambiente mais frio e com maior risco de ocorrência desse fenômeno adverso. 

Em Minas Gerais já se cultiva trigo, em maior escala, em área solteira nas regiões do Triângulo, do Alto Paranaíba e Sul de Minas. A região da Zona da Mata não tem qualquer cultivo. Um estudo inicial de introdução do trigo intercalar em cafezal na Zona da Mata de MG foi feito em uma pequena parcela em 2022/23 (Matiello et alli, 2023). 

A região cafeeira da Zona da Mata de Minas não apresenta risco de geada em cafezais, então poderia haver o cultivo de trigo no inverno. Embora seja uma cafeicultura em área montanhosa, o cultivo intercalar é feito por pequenos produtores, de forma manual, sendo mais comum o plantio de feijão e milho. 

No presente trabalho, objetivou-se ampliar a pesquisa para a nova região da Zona da Mata de MG, considerando a oportunidade de oferecer uma alternativa de cultura de inverno. Foi instalada uma área experimental de cultivo de trigo, em 2025, na Fazenda Experimental da Fundação Procafé, em Lajinha (MG), conduzida em convênio com a Coocafé. 

A altitude da área é de 700 m e o solo lva. O trigo, da variedade Feroz (da empresa OD sementes), foi plantado em duas ruas de cafeeir, da variedade catucaí amarelo 2SLSF, com idade de dois meses e no espaçamento de 3×0,5 m. Foram plantadas seis fileiras de trigo por rua do cafezal, no espaçamento de 20 cm entre linhas de trigo e com cerca de 30 sementes por metro. Nos sulcos de plantio, foram aplicados calcário e superfosfato simples, cada um a razão de 30 g por metro. O plantio do trigo foi feito na segunda quinzena de abril de 2025. Durante o ciclo da cultura, foram feitas duas molhações com mangueiras, por ocasião da molhação das plantas de café, e foram registrados 54 mm de chuva no ciclo da cultura. Foi feita apenas uma aplicação foliar de micronutrientes – zinco, boro e cobre (oxicloreto) – nas plantas de trigo, quando da aplicação nos cafeeiros e apenas uma capina na área. 

As observações e avaliações que foram feitas no experimento mostraram que houve desenvolvimento normal das plantas de trigo, as quais completaram o ciclo, até a seca das plantas, com 100 dias, alcançando uma altura média de cerca de 75 cm. O ciclo foi menor do que o normal da variedade, cujo ciclo se situa entre 114 e 125 dias, provavelmente por ser uma região de menor altitude, por isso mais quente, e pelo plantio mais cedo. Não foram observadas quaisquer doenças ou pragas na cultura, provavelmente pela inexistência de cultivos de trigo na região. A produtividade obtida foi equivalente a 2700 kg/ha, considerando a área efetivamente plantada com o trigo. Como foi ocupada uma área equivalente a 40% da área do cafezal (faixa de 1,20 m em 3 m de rua), a produção correspondeu a 1080 kg de trigo por ha de área de cafezal.

Verificou-se, ainda, ser possível fazer novo plantio do trigo, em novo ciclo, ainda no início de agosto, o que foi feito no experimento e será objeto de novo trabalho. 

Conclui-se que: é viável o cultivo de trigo intercalar em cafezal em regiões de maior altitude, na zona cafeeira da Mata de Minas Gerais. Trata-se de uma alternativa complementar de cultivo intercalar, em período de inverno, quando não se cultiva outra cultura. Apesar do trigo ser bastante resistente à estiagem, a molhação eventual, combinada com a dos cafeeiros jovens, se torna útil em anos onde as chuvas ficam muito escassas.

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