Demanda da indústria por polvilho incentiva a produção, que bate recorde
A busca por uma alimentação mais saudável, da qual a tapioca faz parte, está impulsionando o consumo de derivados de mandioca e estimulando a produção. Mas o pão de queijo também tem seu papel. Ambos são produzidos a partir da fécula de mandioca, o polvilho, cujo consumo e produção cresceram, respectivamente, 17% e 12% no ano passado, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP.
Em 2024, foram produzidas aproximadamente 680 mil toneladas de fécula, maior volume anual da série histórica do Cepea, iniciada em 2004. Já o consumo ficou pouco acima de 640 mil toneladas.
“Até pouco tempo, a tapioca era consumida predominantemente no Nordeste. Com esse novo olhar da tapioca como alimento fit consolidado, o consumo se expandiu para o Centro-Sul”, diz João Orlandi Fadel, produtor e proprietário de processadora de mandioca em São Pedro do Turvo (SP). “No caso do pão de queijo, a constante evolução da tecnologia de processamento e vendas congeladas permitem maior interesse do consumidor e melhores condições de logística.”
Pesquisadores ressaltam algumas características da mandioca que também são um estímulo à produção. Entre elas, a resistência a condições climáticas adversas e o bom desenvolvimento mesmo em solos mais pobres.
Embalagem e até cerveja
José Carlos Feltran, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), considera o cenário atual animador para os produtores da raiz.
“Sua resistência às condições adversas oriundas das recentes alterações climáticas, como aumento da temperatura e menor quantidade de chuvas, é uma vantagem para o cultivo. Além disso, as variedades vão bem em solos pobres. Por isso mesmo, acabam sendo escolhidas para áreas de recuperação de pastagens e na rotação de culturas.”
Acompanhando essa demanda crescente, as pesquisas para melhorar o aproveitamento da mandioca também avançam. O IAC, por exemplo, desenvolveu novas variedades com maior teor de amido, o componente que mais interessa à indústria. Segundo Feltran, “quanto maior o percentual de amido por raiz, maior aproveitamento no processamento.”
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/n/E/PCuG5qRNyABvoUuYq6xg/mandioca-produtor.jpg)
Outro uso menos da mandioca é como matéria-prima de embalagens biodegradáveis, que podem ser consumidas ou destinadas à compostagem. A Oka Bioembalagens, de Botucatu (SP), é especializada na produção de embalagens a partir de mandioca, que levam apenas 30 dias para se decompor.
“Foram muitos anos para consolidação de um mercado que absorvesse um novo tipo de produto, a partir de novos hábitos, mas agora é um caminho sem volta”, diz Erika Cezarini Cardos, designer e sócia da Oka, que fez o primeiro projeto para uso de mandioca em embalagens em 1999, na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Hoje, a empresa comercializa mais de 20 itens diferentes entre copinhos de sorvete, embalagens para ovos, cases para cosméticos, cápsulas para sementes, entre outros projetos personalizados.
Há ainda a iniciativa de um grupo de cervejeiros artesanais que, em busca de uma cerveja com a cara do Brasil, teve a ideia de usar mandioca. A manipueira (o líquido amarelo extraído da mandioca) contém micro-organismos que podem ser utilizados para fermentar bebidas alcoólicas — inclusive a cerveja.
“Isso faz com que a cerveja, hoje tão industrial, passe a ser um produto que é fruto do contato com a ruralidade e a agricultura familiar”, diz Diego Simão Rzatki, sócio-fundador e mestre cervejeiro da Cozalinda, de Florianópolis (SC).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/e/N/jlsFBkRNu6hKFd9Dqqtw/mandioca-plantio.jpg)
Tapioca é fit mesmo?
A tapioca é uma goma hidratada da fécula de mandioca, mas mantém as características nutritivas da mandioca, segundo a professora Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva Torres, do Departamento de Nutrição da USP. Apesar disso, a tapioca é metabolizada de forma diferente.
“A carga glicêmica da tapioca é superior à da mandioca, o que significa que, considerando porções com o mesmo peso, a tapioca carrega mais carboidratos, que também atingem a corrente sanguínea mais rápido, elevando rapidamente o índice glicêmico”, explica.
É essa rapidez com que o carboidrato chega à corrente sanguínea que dá a sensação mais imediata de energia, e que atrai aqueles que fazem exercícios físicos, consumindo a tapioca antes do treino. Dessa forma, quem tem problemas relacionados à glicemia deve ficar atento à quantia consumida, afirma a professora.
