Ainda há uma estimativa que a safra brasileira pode ser de cerca de 54 milhões de sacas, além de uma expectativa de boa qualidade do grão
As cotações internacionais do café, cujos contratos futuros rondam os menores níveis dos últimos 13 anos na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), devem continuar em baixa, no mínimo, pelos próximos três ou quatro meses, até que a colheita no Brasil se intensifique, afirmou o presidente a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Ricardo Silveira, durante coletiva da cerimônia premiação do 15º Concurso Nacional Abic de Qualidade do Café, em São Paulo.
“Acho que, por esses próximos meses, até a colheita começar e se criar um ímpeto da colheita, que ainda está muito lenta, a gente vai ter esses preços defasados. Depois de colher o café, depois de vermos o que realmente foi a colheita e a qualidade desse café, eu acho que pode dar um diferencial. Mas, por esses três, quatro meses, não vejo muita expectativa”, disse ele.
Silveira comentou, ainda, que estima que a safra brasileira pode ser de cerca de 54 milhões de sacas e que a expectativa é de boa qualidade do grão. O diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, vai na mesma linha: “A qualidade do café no Brasil melhorou muito, especialmente nos últimos 10 a 15 anos.”
Herszkowicz demonstra, no entanto, preocupação com os níveis atuais de preço e afirmou que há a possibilidade de produtores não conseguirem cobrir custos: “Quando a gente analisa o histórico de preços dos últimos cinco anos, por exemplo, se vê que os preços atuais do café, em reais, estão menores do que em 2015. Num período em que houve incorporação de tecnologia e aumento de produtividade, mas também aumento de custo”, afirmou.
“De maneira que, conversando com produtores, muitos sentem que não têm segurança nenhuma com relação a cobrir os seus custos ou ter uma margem que todo negócio precisa ter. Eu acho que, nos níveis atuais, os preços realmente não são atrativos (para o produtor)”, disse.
Ele afirmou, ainda, que a indústria, assim como os produtores, são prejudicados pelos baixos preços: “O setor industrial é muito concorrido, temos 1.400 indústrias de café no Brasil, a maioria pequena ou média, então a concorrência é muito grande para os cafés tradicionais – para esses, os preços baixam à medida que cai a matéria prima, então os níveis de hoje podem não cobrir o custo da indústria também.”
O diretor Comercial da Santo Grão – rede de cafeterias que passou a investir em torrefação -, Fernando Dourado, também se preocupa com os preços. “Se o produtor não tiver capital, ele não consegue cuidar direito da fazenda e produzir com melhor qualidade. E, nessa situação, nós também não conseguimos mostrar para o consumidor final que aquele café vale o preço que ele pode pagar. Isso, para nós, é péssimo”, concluiu ele.
Fonte: Globo Rural