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Franca
setembro 8, 2024
Agricultura

Frio prejudica a qualidade dos frutos de café – Por Prof. José Donizeti Alves

No início da segunda quinzena de maio, a temperatura nas lavoura de café caíram drasticamente, sem, no entanto, chegar ao ponto de formar geada significativa. Em alguns lugares isolados verificamos uma leve geada que, apesar de não ter queimado muitas folhas, provocou uma significativa queima de frutos verdes, principalmente no baixeiro das plantas. Um atraso na maturação dos frutos, também foi um dos efeitos residuais do frio bem como o encurtamento na janela de cereja com o aumento de frutos secos na planta. Em textos publicados recentemente, eu explico as causas dessas duas anormalidades fisiológicas:  Frio prejudica a qualidade dos frutos de café 
Como se não bastasse esses danos nos frutos que vão prejudicar a qualidade da atual safra e causar um prejuízo extra e inesperado para o cafeicultor, este frio foi seguido de aumentos nas temperaturas que, somados a continuidade da seca, promoveram a desfolha das plantas. Como o lançamento de novas folhas neste período de outono/inverno está paralisado, esta área foliar perdida não vai ser recuperada a tempo de favorecer os processos de pré e pós-florada, que exigem uma adequada reserva de energia para se viabilizarem. Em vista da desfolha generalizada das lavouras, associada a incapacidade do cafeeiro de lançar novas folhas e do tempo muito exíguo para estas folhas se tornarem fotossinteticamente ativas, é muito provável que tenhamos problemas no vingamento da florada e no pegamento de frutos. Essas anormalidades fisiológicas em resposta à tríade frio, calor e seca, podem frustrar a expectativa de uma grande safra para 2023. 

As plantas necessitam de processos metabólicos ativos para seu crescimento e reprodução. Para tanto, elas se valem de reações bioquímicas que, tanto sintetizam moléculas orgânicas, como as que as degradam, para liberar energia. Como exemplos de processos fisiológicos de síntese e degradação, temos a fotossíntese e a respiração, respectivamente.  A manutenção da vida depende de um complexo equilíbrio de síntese e degradação e sempre que um exceder o outro, ocorre uma série de problemas fisiológicos que invariavelmente afetam a produção. 
Como a degradação de carboidratos pela respiração, é o principal processo de geração de energia na célula, a garantia da continuidade do crescimento e desenvolvimento das plantas fica comprometida, sempre que algum fator externo acelerar esse processo. Dos fatores externos, a temperatura é o  que exerce maior efeito sobre a respiração. Para cada 100 C de aumento na temperatura, a respiração costuma aumentar de duas a três vezes. Esse aumento na taxa respiratória, esgota as reservas das plantas que serão fundamentais nas próximas etapas da produção, a pré e pós-florada. Uma simples conferência da oscilação da temperatura nos últimos dias, mostra que a amplitude térmica superou os 100 C. Há pouco tempo, as temperaturas estavam na faixa de 3 a 60 C hoje, elas se encontram na casa de 26 a 280 C ou até mais. 
Rápidos aumentos nas taxas respiratória podem provocar alguns danos ao cafeeiro: 
(i) Aumento na síntese de etileno: aceleração da colheita e desfolha
Em frutos climatérios, como é o caso do cafeeiro, dias antes do início da maturação, ocorre um aumento na produção de etileno que coincide ou não com um abrupto aumento respiratório e na sequência, a maturação. 

Como a taxa respiratória de um produto está diretamente relacionada a sua vida útil, redução da respiração durante o amadurecimento dos frutos, como observado em cafés cultivados nas montanhas, altitude elevadas e sombreados, garante a manutenção da qualidade do café. Essa é uma das grandes vantagens de se plantar café em altitudes elevadas.
(iii) Esgotamento de reservas na planta: problemas na pré e pós florada 
Fotossíntese faz carboidratos e respiração utiliza esses carboidratos para liberar energia, fundamental para manter os processos metabólicos da planta. Sempre que faltar carboidratos, seja pela incapacidade de síntese ou seja pela sua utilização excessiva, os processos vegetativo e frutificação são prejudicados. Por exemplo, agora no outono/inverno, a produção fotossintética de carboidratos pelos cafeeiros está prejudicada pelas baixas temperaturas. Por outro lado, a seca e as amplitudes térmicas que ultrapassaram a 100 nesse período,  aumentam a respiração em níveis elevados a ponto de esgotar as reservas da planta. Ou seja, a bomba atômica se formou quando se “juntou a fome (baixa fotossíntese) com a vontade de comer (alta respiração)”. O primeiro efeito dessa mistura explosiva foi a queda de folhas. O segundo, virá mais tarde quando, por falta de reservas e de energia, a florada e os frutos, terão um baixo nível de vingamento e pegamento, respectivamente. Resultado disso é que a próxima safra, dependendo da magnitude dessas anomalias fisiológicas vai ser bem menor que a esperada.    
(iv) Estresse oxidativo: diminuição da tolerância do cafeeiro a estresses biótico e abiótico
Como mostrado acima frio, calor e seca inibem a fotossíntese e estimulam a respiração. Além de todo as consequências já discutidas, essas anomalias climáticas e fisiológicas induzem a planta a produzir, descontroladamente, Espécies Reativas de Oxigênio (EROs). Recentemente publiquei um texto com mais informações sobre esse estresse: http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=97882
As EROs por serem compostos que reagem facilmente com outras moléculas, podem levar à oxidação de componentes celulares importantes como membranas celulares, lipídeos e até mesmo do próprio material genético da célula, predispondo as plantas a uma menor tolerância a estresses bióticos e abióticos.  
A capacidade das plantas em tolerar estresses ambientais  envolve, além dos mecanismos de defesa antioxidante, o acúmulo de solutos orgânicos de baixo peso molecular. Mas, para que isso aconteça,  as partes fisiológica e nutricional do cafeeiro tem que estar em equilíbrio. No caso presente, a fotossíntese e a respiração estão em desequilíbrio e as plantas depauperadas, ficam sem condições de absorver e incorporar os nutrientes nos compostos orgânicos. E como uma reação em cascata, as EROs tendem a aumentar e prejudicar ainda mais a o crescimento e produção de café.

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