Bancos liberaram R$ 68,3 bilhões no primeiro bimestre; produtores alegam que restrições ambientais dificultam o acesso
A forte retração nos desembolsos de crédito rural nos dois primeiros meses do Plano Safra 2024/25 ligou o alerta do setor produtivo, que já levou a preocupação aos ministérios da Agricultura e da Fazenda. Produtores alegam que restrições ambientais têm vetado o acesso aos recursos.
Entre julho e agosto deste ano, as instituições financeiras liberaram R$ 68,3 bilhões em financiamentos, queda de quase 40% em relação aos R$ 114,6 bilhões desembolsados no mesmo período da temporada passada.
Em julho, o ritmo das contratações já havia caído pela metade. O acesso de produtores aos recursos continuou limitado em agosto. No primeiro bimestre da safra nova, os desembolsos de custeio caíram de R$ 69,2 bilhões para R$ 47,1 bilhões (-32%) e os de investimentos de R$ 19,3 bilhões para R$ 10,3 bilhões (-46%). Comercialização e industrialização caíram para R$ 5,9 bilhões e R$ 4,9 bilhões, quedas de 53% e 63%, respectivamente.
O Ministério da Fazenda informou que não há problemas de oferta de recursos com a equalização federal nos bancos e cooperativas financeiras, mas admitiu que houve queda na liberação dos recursos, principalmente para grandes produtores em operações com juros livres. A seca e a indefinição sobre o próximo plantio podem ter retardado a busca por crédito.
“O que depende do orçamento do Tesouro Nacional e da Fazenda está rodando bem, sem relatos de problemas até agora”, disse o subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais, Gilson Bittencourt.
Crédito com subvenção
Ele ressaltou que, apesar do atraso na liberação dos recursos equalizados, o acesso aos financiamentos com a subvenção federal está mais acelerado do que no ano passado. A contratação de operações equalizadas passou de R$ 23,5 bilhões entre julho e agosto de 2023 para R$ 38,4 bilhões nos dois primeiros meses desta safra, segundo ele, em mais de 195 mil contratos.
Crédito com taxas livres
A principal queda nesses dois meses foi no desembolso de recursos com taxas livres, provenientes da captação de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que caíram de R$ 47,1 bilhões entre julho e agosto de 2023 para R$ 14 bilhões. Nos recursos obrigatórios, que têm juros controlados, mas sem equalização, o recuo foi de R$ 27,7 bilhões para R$ 15 bilhões.
Na avaliação de Bittencourt, esse desempenho pode ser reflexo da estratégia adotada pelos bancos de liberar primeiro os recursos equalizados nesta safra. No ano passado, as instituições deram vazão ao dinheiro captado pelas LCAs no início da safra, pois o governo havia aumentado a exigibilidade de aplicação de 35% para 50%, o que demandou adaptação no fluxo para cumprir as exigências.
Como não houve mudança nos percentuais das fontes para 2024/25, a hipótese é que pode haver uma preferência dos agentes financeiros por cumprir as programações nas linhas subvencionadas, disse o subsecretário.
Posição dos bancos
Consultado, o Banco do Brasil disse que os desembolsos estão 16% maiores em relação a setembro de 2023 (R$ 6 bilhões em dez dias) e que a participação da instituição nas contratações de crédito rural no país passou de 39% em julho e agosto de 2023 para 46% no primeiro bimestre da safra atual. O BB não respondeu se houve retração em linhas específicas.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que não existe escassez de recursos. “O que pode ocorrer, de forma pontual e em alguns bancos de forma isolada, são ajustes de sistema para adequação de normas, o que pode levar a uma instabilidade na oferta de forma temporária”.
Posição dos produtores
A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) se reuniu recentemente com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, para alertar sobre o cenário de “escassez” de crédito rural. Os sojicultores disseram que os bancos têm feito mais exigências para conceder crédito, principalmente na área ambiental.
“Tudo indica que será uma safra com bem menos investimento em lavouras, devido ao crédito muito restrito”, disse Maurício Buffon, presidente da Aprosoja Brasil.