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novembro 25, 2024
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Cerrado ficará sem dados de desmatamento a partir de abril

Primeiro alerta foi dado no ano passado por organizações socioambientais da Rede Cerrado; confirmação vem no momento em que o desmatamento bate recordes no bioma

O recurso do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para o monitoramento do desmatamento no Cerrado acabou. Por falta de verbas, o instituto desmobilizou a equipe de pesquisadores focados no monitoramento do bioma e dados sobre o desmatamento no Cerrado serão mantidos apenas até abril deste ano. 

Ainda no ano passado, organizações da Rede Cerrado fizeram um alerta sobre o caso. Sem previsão orçamentária para a continuidade do serviço, Yuri Salmona, pesquisador diretor do Instituto Cerrados, entidade associada à Rede Cerrado, reforça que o encerramento é consequência da falta de interesse do governo federal em destinar provisões existentes no orçamento que podem ser descentralizadas para manter a fiscalização do desmatamento no bioma.

” É extremamente importante manter o monitoramento do desmatamento no Cerrado.  Também é necessário deixar claro que o governo optou por abrir mão desse monitoramento. E aí a pergunta que a gente faz é: quem ganha com isso? Dois milhões e meio por ano para manter o monitoramento de uma área que é um quarto do país, a savana mais biodiversa do mundo. Não monitorar o desmatamento do Cerrado é como atravessar a rua de olho fechado. Estão ignorando a possibilidade de acessar informações que podem impedir graves erros e manter questões importantes como o serviço ecossistêmicos. A sociedade está perdendo muito, e nós, do Instituto Cerrados, estamos nos preparando para colaborar e manter monitoramento de desmatamento no bioma. O Cerrado não pode esperar”, ressaltou Salmona.

O Cerrado é, atualmente, o bioma mais ameaçado pelo desmatamento no Brasil em proporção territorial, uma vez que a Amazônia tem o dobro do seu tamanho. Segundo o balanço mais recente divulgado em dezembro pelo Inpe, o desmatamento no Cerrado aumentou 7,9% entre agosto de 2020 e julho de 2021.

Matopiba bate recorde histórico

Somente o Matopiba, – que compreende os Estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins – bateu recorde de concentração do desmatamento no Cerrado.

Do total de vegetação suprimida no bioma entre agosto de 2020 e julho de 2021, 61,3% (5227,32 km²) esteve concentrado na região. Trata-se de um registro histórico para a série Prodes (2002–2021), superando o ano de 2017, quando a região foi responsável por 61,1% da derrubada no Cerrado.

A análise é de pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), também associada à Rede Cerrado, e vem à tona na sequência da consolidação dos dados do Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para o mapeamento de supressão da vegetação nativa do Cerrado no período.

A área total desmatada no bioma é a maior desde 2015 e equivale a quase seis cidades de São Paulo: foram 8.523,44 km² de corte raso, um aumento de 8% em relação aos 7.905,16 km² suprimidos nos 12 meses anteriores.

“O Matopiba tem estado há anos entre as regiões do país onde a vegetação nativa tem sido mais convertida em agropecuária”, disse a diretora de Ciência no IPAM, Ane Alencar. “Essa região precisa de um olhar especial para os conflitos que têm se acirrado por conta dessa conversão. O aumento do desmatamento no Cerrado mostra que a falta de governança ambiental e os conflitos socioambientais decorrentes dela não são prerrogativas somente da Amazônia”.

Organizações socioambientais fizeram alerta

Em 15 de julho de 2021, um grupo de deputados federais apresentou em conjunto requerimento de informações para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e para o Ministério do Meio Ambiente (MMA), quanto à continuidade do monitoramento e forma de divulgação dos dados de desmatamento, degradação florestal e queimadas no bioma Cerrado. Igualmente, as organizações da sociedade civil, Instituto Cerrados, ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza), e o IPAM, em conjunto com as demais organizações da Rede Cerrado, apresentaram requerimento com base na Lei de Acesso à Informação, com o mesmo teor e pedido.

Na época, o MMA informou que o monitoramento seria mantido e fortalecido, mas o Ministério não informou como isso seria feito.

Sem monitoramento, abastecimento hídrico no Brasil fica ameaçado

Isso porque é no Cerrado que estão as principais bacias hidrográficas do Brasil. Ele abriga oito das doze regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias hidrográficas do Brasil (Amazônica, Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Paraguai). Além disso, é no Cerrado onde estão localizados três dos principais aquíferos do país: Bambuí, Urucuia e Guarani.

“São bacias importantes para a distribuição de água e a geração de energia para o país. O Cerrado é uma floresta invertida, ou seja, troncos curtos, mas com raízes longas e profundas, que capta a umidade gerada pela floresta Amazônica e como uma esponja absorve e abastece essas grandes bacias. Sem a vegetação nativa, essa função ecossistêmica fica gravemente comprometida”, alertou Kátia Favilla, secretária-executiva da Rede Cerrado.

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, com 198 milhões de hectares, e apresenta diferentes tipos de vegetação nativa. Como hotspot de biodiversidade, é a savana mais biodiversa do mundo e está sob elevado grau de ameaça. Quase metade já foi desmatada: 54,5% de seu território ainda é coberto por vegetação nativa, sendo que 44% encontra-se justamente no Matopiba.

Foto: acervo ISPN/Thomas Bauer

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