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novembro 25, 2024
AgriculturaARTIGOS TEC.

Café orgânico

A busca por cafés produzidos de forma sustentável é crescente, pelos quais há grande preocupação com a origem dos grãos. Nesse sentido, o mercado de cafés orgânicos certificados vem aumentando constantemente nos últimos anos, nos quais a responsabilidade com os aspectos sociais e ambientais, como os sistemas de produção adotados, são levados em consideração.

Mais rentabilidade

Os produtores aderem ao sistema de produção orgânica de café em busca do mercado justo (‘fair trade’), com base nos princípios da agricultura agroecológica, sem a adoção de modelos pré-estabelecidos, mas devido à preocupação com o meio ambiente, questões sociais envolvidas na produção, além de ser economicamente viável.

Dentre os benefícios econômicos do certificado de café orgânico, destaca-se a agregação de valor da saca, com preço superior ao café convencional, e a independência dos mercados de comodities por meio de estratégias alternativas de acesso ao mercado.

Geralmente os cafés orgânicos apresentam um ágio de 30 a 50% em relação ao preço dos cafés convencionais, porém, a comercialização de cafés orgânicos, em sua maioria, não responde diretamente às tendências de mercado devido à alta procura dos compradores e baixa oferta do produto.

Manejo

Antes da implantação da cafeicultura orgânica, é muito importante que o produtor se conscientize a respeito dos princípios e normas relacionadas ao modelo de cultivo, para então dar início à transição do sistema convencional para o orgânico.

Como na produção orgânica é exigida a certificação especial, este período é essencial para que os produtores possam fazer as adequações e melhorias necessárias. Em pequenas propriedades a conversão pode ser de no mínimo 18 meses, enquanto em propriedades maiores e tecnificadas este período chega a ser de três anos.

Normalmente, durante a conversão os interessados elaboram, juntamente com o órgão certificador, um projeto que contempla um plano anual de execução, o qual tem como principal função auxiliar os produtores no manejo e domínio das novas técnicas. Durante esse período de conversão, os produtos (cafés) continuam sendo comercializados como comodities, até o recebimento do selo de comprovação de produto orgânico.

Após o início do período de transição, a aplicação de fertilizantes minerais é imediatamente sessada e substituída por produtos naturais, como: estercos, compostos, biofertilizantes, que passam a fornecer os nutrientes exigidos pelas plantas para sua manutenção e produção. No caso das pragas e doenças do cafeeiro, as caldas bordalesa e sulfocálcica, adicionadas a preparados como o bokashi, são utilizadas em substituição aos agrotóxicos.

Integração nas operações

Nos cultivos orgânicos o manejo é totalmente integrado, ou seja, todas as intervenções realizadas na lavoura estão intimamente relacionadas. No controle de pragas e doenças, as técnicas culturais, como os quebra-ventos e uso de plantas de cobertura, são amplamente utilizadas em integração com as técnicas biológicas, uso de extratos e bioinseticidas.

O manejo das plantas invasoras integra os métodos mecânicos, em sua maioria roçadas e capinas, com os métodos culturais de cultivo das entrelinhas da cultura. Esses métodos também estão ligados ao manejo da fertilidade, devido ao uso de cobertura morta por meio da ceifa de plantas capazes de ciclar nutrientes e preservar a microbiota solo.

As propriedades produtoras de orgânicos também trabalham com manejos ecológicos e agroflorestais. Na cafeicultura orgânica são comumente empregadas técnicas de sombreamento, com o cultivo de espécies arbóreas em consórcio com o cafeeiro, as quais melhoram o equilíbrio do agroecossistema. 

Produtividade

A produtividade do cafeeiro orgânico pode variar de acordo com as práticas de manejo adotadas e a região de cultivo, podendo chegar à média de 25 sc.ha-1, muito próximo da média de produtividade nacional de 28 sc.ha-1. Nesse contexto, o cultivo do café orgânico apresentou grandes avanços relacionados à produtividade ao longo dos anos, principalmente devido às práticas de manejo sustentáveis adotadas e adaptadas para essa realidade de produção.

Entretanto, em relação ao cultivo convencional, muitos fatores podem contribuir para perdas em produtividade, como por exemplo a ocorrência de doenças, pragas e plantas daninhas. Desse modo, destaca-se o uso do manejo integrado, com foco no equilíbrio nutricional das plantas, como uma das alternativas para melhorar a produtividade do cafeeiro orgânico.

Em campo

O sistema de produção de cafeeiros orgânicos, quando manejado de forma a manter o equilíbrio nutricional das plantas, pode apresentar aumento nos teores foliares de P, K, Ca, Mg devido às fontes orgânicas utilizadas, com destaque para a casca de café originária da própria lavoura.

O aumento da matéria orgânica do solo pode aumentar a capacidade de troca de cátions, além de melhorar a disponibilidade de P no solo, visto que os solos brasileiros são, em sua maioria, deficientes nesse mineral. Destaca-se, também, que essa melhor disponibilidade de nutrientes por meio da adubação orgânica equilibrada pode reduzir a incidência de doenças, como a cercosporiose do cafeeiro, muito influenciada por desordens nutricionais e disponibilidade de água.

Ainda, o cultivo orgânico pode reduzir os efeitos da bienalidade no cafeeiro, fazendo com que haja o menor esgotamento da planta durante a fase produtiva em comparação com o sistema convencional.

Muito cuidado!

Segundo o agrônomo Marcus Vinicius, consultor na empresa Meta Agricultura Ecológica, especializado em agricultura ecológica e orgânica, a falta de disponibilidade de insumos registrados para a produção de café orgânico é uma das principais causas do insucesso da cafeicultura orgânica, o que causará a elevação demasiada do custo de produção, ou até mesmo impossibilitará o cultivo orgânico da planta em algumas regiões.

Outras dificuldades comumente encontradas são a falta de técnicos especializados, alta incidência de pragas e doenças, baixa disponibilidade de mão de obra e a dificuldade em se fazer a nutrição adequada e balanceada das plantas.

Para evitar esses problemas, o produtor deve fazer um planejamento técnico observando a disponibilidade de insumos registrados para a cafeicultura orgânica na região. Buscar, se possível, diversificar a produção na fazenda, produzindo também animais de forma orgânica, pretendendo aproveitar seus dejetos para a nutrição da lavoura de café.

Escolher cultivares resistentes à pragas e doenças, fazer colheita e repasse, a fim de evitar frutos remanescentes na lavoura que vão propiciar o aumento da broca-do-café, fazer o plantio de café em consórcio com plantas de cobertura, principalmente leguminosas, a fim de fornecer nitrogênio ao cafeeiro.

O bom manejo das plantas de cobertura, com roçadas jogando os restos culturais na linha do cafeeiro, também facilitará o manejo de plantas daninhas, diminuindo a necessidade de mão de obra para se realizar capinas.

Alternativas

Algumas alternativas para agregar a esta técnica são a utilização de cultivares resistentes visando a ferrugem do cafeeiro, uma das principais doenças da cultura, bem como o manejo integrado de doenças, pragas e plantas daninhas, com práticas como colheita bem feita e com repasse, cobertura do solo, uso de plantas de cobertura com deposição dos restos na linha do cafeeiro após a roçada, nutrição adequada por meio da adubação orgânica, uso da casca de café da própria fazenda, uso de composto orgânico, adubação verde com objetivo de aumentar o aporte de nitrogênio no sistema de produção, manejo do solo para melhorias nos atributos químicos, físicos e biológicos, produção de matéria orgânica no sistema, proporcionando também a maior retenção de água no solo e, como consequência, melhor eficiência de absorção de nutrientes.

Todas essas práticas, aliadas à produção de cafés especiais, certificados e com rastreabilidade do processo produtivo, podem, além de agregar valor ao produto, proporcionar incrementos em produtividade no sistema de produção orgânico.

Fazendo as contas

O custo de produção do café orgânico é mais elevado, principalmente pela alta demanda de mão de obra, pois, esse modelo de produção é normalmente realizado em pequenas propriedades da agricultura familiar, onde se tem menor capacidade de investimentos em máquinas e implementos agrícolas.

Já em propriedades maiores, a principal fatia do custo de produção está relacionada à nutrição das plantas, visto que, como não se pode utilizar fertilizantes químicos com alta concentração de nutrientes, necessita-se de grande volume de fontes orgânicas para suprir as necessidades nutricionais da cultura.

Em artigo publicado por Menegueli e colaboradores, os quais estudaram o custo da produção familiar de café orgânico no Estado do Espírito Santo no período de 2006 a 2016, na média dos 11 anos, o custo da saca de café beneficiado foi de R$ 476,14, com a produtividade média de 25,18 sacas por hectare, sendo 72% deste custo acarretado pela mão de obra. 

Vale a pena?

Devido à não utilização de produtos químicos, os quais facilitam o controle de pragas, doenças e plantas daninhas e a nutrição na produção de café convencional, a cafeicultura orgânica possui custo de produção mais elevado. Por outro lado, como é um nicho de mercado, o produto orgânico tem maior valor agregado.

Os consumidores do café orgânico, pensando não somente na ausência de produtos químicos nos grãos, mas também no aspecto socioambiental, não se importam em pagar um valor maior para adquirir o produto.

No mesmo trabalho, Menegueli e colaboradores encontraram que em cada R$ 1,00 investido na produção de café orgânico, o produtor obteve retorno médio de R$ 1,27. Ou seja, houve aproximadamente 27% de lucratividade com o cultivo. Se ele tivesse investido o dinheiro gasto com a produção, por exemplo, na poupança, ele teria o retorno médio no mesmo período de apenas 7,45%.

Portanto, a cafeicultura orgânica, quando realizada de forma consciente em relação aos aspectos citados, oferece boa rentabilidade aos produtores.

Marina Scalioni Vilela – Engenheira agrônoma, mestra em Agronomia/Fitotecnia e doutoranda em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – marinasv3p@gmail.com

Mauro Magalhães Leite Faria – Engenheiro agrônomo, mestrando em Agronomia/Fitotecnia e servidor técnico agropecuário da UFLA – mauro.faria@ufla.br

Otávio José de Figueiredo – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Fitotecnia – UFLA – otaviofigueiredo460@gmail.com

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