Realizado de 6 a 10 de junho, o 1° Encontro Brasileiro de Degustadores de Cafés aconteceu no município de Cacoal (RO), local conhecido como a “Capital do Café na Amazônia”. A cidade está incrustada numa região conhecida como Matas de Rondônia, que é o centro de origem dos Robustas Amazônicos. Esta região possui uma das cafeiculturas mais emblemáticas do Brasil e detém o título de primeira Indicação Geográfica, do tipo Denominação de Origem, para cafés canéforas (robusta e conilon) sustentáveis do mundo.
“Este evento foi um divisor de águas para a cafeicultura brasileira. Conseguiu reunir um público muito diverso que atua com café, desde pesquisadores, mestres de torra, baristas, produtores, empresários e quem ama café para tratar de assuntos muito relevantes e que, certamente, se insere no calendário anual da cafeicultura. E, principalmente, muda a mentalidade quanto aos cafés canéforas, provamos cafés excepcionais aqui”, aponta o cafeólogo e empresário Edgard Bressani.
A abertura do evento foi realizada pela jornalista e especialista em conteúdo de café, Mariana Proença. Foram cinco dias intensos de atividades e experiências sensoriais. O encontro reuniu mais de 200 participantes, tanto do Brasil como também da Colômbia, Espanha e Chile. Contou com palestras de pesquisadores renomados, mesas redondas, degustações, oficinas e um ambiente rico que tratou da produção de cafés de qualidade, arábica e canéfora (robusta e conilon) e seus protocolos de degustação. Além disso, proporcionou visitas aos produtores de cafés de Cacoal, que são modelo em qualidade e sustentabilidade, incluindo também visita a uma aldeia indígena que faz parte do Projeto Tribos, da 3Corações e parceiros, que promove a produção de cafés com qualidade, protagonismo indígena e proteção à floresta entre outras atividades.
Para o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, o evento foi um ponto de inflexão para a cafeicultura nacional, que veio da necessidade de unificar a linguagem da cadeia de produção e transformação de cafés. Um momento de valorização da diversidade cultural, ambiental e genética dos cafés brasileiros, que passa pelo uso de tecnologias de produção, processamento e, principalmente, pelos protocolos de degustação. “A cafeicultura que desconhece as características que produz, não sabe o valor que tem”, diz o pesquisador, que destaca a integração e a união de forças em prol da cafeicultura brasileira como ponto forte do evento.
Segundo Enrique e Lucas Louzada, professor do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), este foi o maior encontro de degustadores de café já registrado no mundo. “Conseguir concentrar num mesmo espaço tantos profissionais do café e produtores, promovendo uma atualização científica ampla, com a degustação de cafés arábica e, principalmente, cafés canéfora excepcionais e exóticos, com tamanha interação é algo extraordinário e que se torna, com certeza, um marco para a cafeicultura brasileira”, afirma Louzada.
O professor complementa ainda que este evento promoveu o engajamento da comunidade cafeeira, com o compartilhamento de novos conhecimentos científicos produzidos nas universidades e institutos, facilitando o acesso dos produtores a novas técnicas que, se adotadas, podem promover a transformação no campo, assim como um café de maior qualidade na xícara. “Este encontro é uma grande convergência em prol da qualidade dos cafés do Brasil”, conclui.
O maior cupping profissional do mundo: Aromas e sabores excepcionais
O encontro proporcionou trocas de conhecimentos, experiências e uma verdadeira imersão nos valores socioculturais, agronômicos e ambientais do terroir Amazônico para cafés especiais. “Os principais players do mercado participaram do evento. É algo histórico! Exemplo disso foi o maior cupping profissional do mundo, com mais de 130 degustadores e cerca de 1.300 xícaras sendo provadas simultaneamente”, comenta o presidente da Associação dos Produtores de Café de Rondônia (Caferon), Juan Travain. O cupping é uma degustação do café realizada por profissionais para determinar a qualidade do café.
Segundo o especialista em cafés especiais, Silvio Leite, que comandou os cuppings profissionais no evento, foram avaliados os atributos sensoriais de cafés arábicas e também canéforas – Robustas Amazônicos de Rondônia e o conilon do Espírito Santo e da Bahia – que foram as grandes novidades do evento. “Os cafés canéforas provados foram inéditos para os degustadores, são sabores diferenciados e que vão surpreender positivamente os consumidores. São cafés com muita personalidade e a grande novidade para o mercado”, afirma Silvio.
Durante o evento, além de degustação de cafés arábica e canéfora especiais, também teve degustação de cafés solúveis, com os novos protocolos da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), degustação de cafés especiais pelo Método PQC ABIC e degustação de cafés exóticos, com uma seleção do Cup of Excelence México 2022.
Para animar ainda mais os participantes, foi realizada uma competição, o “Cupping Tasters Contest”. Foram para a final três degustadores do Espírito Santo, Tassio Souza, Dério Brioschi Jr. e Herick Novaes, e uma degustadora de Rondônia, Daliana Dalazen. O campeão foi Tassio Souza, que levou o prêmio de R$ 5 mil.
Durante o evento, já foi definida a 2ª edição do Encontro Brasileiro de Degustadores de Cafés, que será realizada no Espírito Santo, grande produtor de cafés arábica e canéfora.
Protagonismo indígena e feminino: Marca registrada da cafeicultura de Rondônia
Em um momento dedicado à valorização dos cafés canéforas especiais, a gerente de projetos especiais do grupo 3corações, Patrícia Carvalho, apresentou o Projeto Tribos e anunciou a inclusão das produtoras de canéfora no Projeto Florada. Um dos destaques deste painel foi o anúncio de que as próximas edições da linha de produtos do grupo 3corações, que contam com cafés Robustas Amazônicos, terão em sua embalagem o selo da IG Matas de Rondônia. “Queremos valorizar este centro de origem como referência na produção de cafés especiais no Brasil”, afirma Patrícia Carvalho.
O Projeto Tribos atende mais de 130 famílias indígenas produtoras de café Robusta Amazônico e está baseado em um tripé indissociável: protagonismo indígena, produção de cafés Robustas Amazônicos com qualidade e sustentabilidade, proteção da floresta. O projeto conta com a parceria da Embrapa Rondônia, Funai, Emater-RO, Secretaria de Agricultura de Alta Floresta D’Oeste e Câmara Setorial do Café.
Patrícia apresentou também a 1ª edição do Concurso Florada Premiada 100% Canéfora, em que as produtoras desta espécie de café passam a fazer parte do maior concurso do mundo feito para as cafeicultoras brasileiras. A iniciativa da 3 Corações acontece em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), com a Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA) e com Silvio Leite, referência mundial em qualidade do café. O Projeto Florada para espécie arábica está em sua 5ª edição.
O evento contou com a participação de indígenas durante toda a programação e, em especial, na apresentação destes projetos, com fala da liderança indígena Almir Suruí, que destacou a importância da valorização dos cafés Robustas Amazônicos produzidos nas aldeias, com melhoria da qualidade de vida do povo indígena e a preservação do meio ambiente.
Realização e parceiros
O 1° Encontro Brasileiro de Degustadores de Cafés é uma realização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Venda Nova do Imigrante e da Associação dos Produtores de Café de Rondônia (Caferon). Foram patrocinadores do evento a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec), Eco Power Energia Solar, Sistema OCB/ES, SICOOB – Credip, Pinhalense, Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), 3corações, Projeto Tribos, LEOGAP – Probat Group.
O Encontro contou com apoio do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade de Viçosa (UFV), Instituto Federal de Rondônia (IFRO), Câmara Setorial do Café de Rondônia, Consórcio Pesquisa Café, Coffee Design, Cacoal Selva Park e Selva Café.