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setembro 19, 2024
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Emissão de crédito de carbono desacelera em 2024

Estudo da consultoria Systemica mostra 39% de diminuição no primeiro semestre do ano

Em um cenário global cada vez mais preocupado com as mudanças climáticas, o recente relatório da consultoria e assessoria de soluções ambientais Systemica mostra que as emissões de créditos de carbono desaceleraram em 2024.

De acordo com relatório obtido em primeira mão pelo Valor, o volume de emissões no mundo caiu 39% no primeiro semestre em comparação ao mesmo período do ano passado e de 2022. Até junho, a geração de novos créditos estava em 102 MtCO2e (milhões de toneladas de carbono equivalente).

Considerando apenas o segundo trimestre de 2024, também houve diminuição de geração de novos créditos da ordem de 34% em relação aos primeiros três meses do ano. Os baixos preços e a demora nos registros pelas empresas verificadoras, que fornecem as metodologias de comprovação dos ativos, ajudam a explicar o mau momento do setor.

Segundo Munir Soares, CEO e fundador da Systemica, notícias negativas no mercado internacional e brasileiro assombram ainda o setor e geram desconfiança de sua seriedade por algumas empresas. Desde 2023, foram divulgadas uma série de denúncias e investigações sobre créditos fantasmas, fraudes e baixa integridade de projetos, principalmente do tipo REDD+, que busca preservar a mata nativa para garantir a absorção de gás carbônico da atmosfera por aquela vegetação.

Isso também se refletiu no preço dos ativos. Cada crédito equivale a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente removida da atmosfera (tCO2e). No segundo trimestre, houve declínio de mais de 6% no preço dos créditos de REDD+ globalmente, para uma média de US$ 4,10 por tCO2e.

No mesmo período, os créditos de projetos de geração de gás a partir de resíduos de aterros sanitários (em inglês, landfill gas credits) foram negociados por US$ 4,70/tCO2e. A média de preço negociado de todos os ativos foi de US$ 5,80/tCO2e no segundo trimestre, 18% maior do que nos primeiros três meses do ano.

Os créditos de restauração florestal (ARR – Afforestation, Reforestation and Revegetation), que visam recuperar áreas degradadas e que, até então, absorviam pouco CO2 da atmosfera, se destacaram no período e elevaram a média geral. Com o aumento da procura, o valor médio desses títulos ficou em US$ 12,70 por tCO2e, o maior entre todos.

“O mercado, conforme já apontado, vem demonstrando iniciativas para aumentar a qualidade geral dos projetos. É vital que essas iniciativas continuem e que padrões claros sejam estabelecidos para avaliar os projetos que efetivamente demonstram alta integridade e adicionalidade”, comenta.

Soares cita como exemplo, o Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM) e o Voluntary Carbon Markets Integrity Initiative (VCMI), órgãos internacionais que se debruçaram sobre a revisão de regras e diretrizes, elevação do padrão de qualidade e integridade necessário e a verificação se as metodologias existentes estão subindo a barra.

“Embora haja avanços significativos, o estabelecimento desses padrões é um processo gradual, e a recuperação dos preços tem ocorrido de forma lenta”, pondera. Ele ressalta que isso tudo pode trazer maior conforto e aumentar a confiança dos investidores.

Falta consenso

Outra discussão “quente” e que atrapalha o desenvolvimento do mercado voluntário de créditos de carbono é a falta de consenso sobre o uso de créditos de carbono para a neutralização das emissões de escopo 3 (emissões indiretas). Esse contexto incerto também acabou prejudicando o volume de aposentadorias de créditos, ou seja, quando eles são contabilizados oficialmente para neutralizar as emissões do inventário da companhia em um determinado período e não podem mais ser usados. No primeiro semestre de 2024, o volume de créditos aposentados chegou a crescer 3% e registrar volumes recordes (55 MtCO2e), mas perdeu força nos meses seguintes, com queda de 39% nas aposentadorias entre abril e junho. Mesmo assim, a estimativa da Systemica é que as aposentadorias cheguem a 180 MtCO2e até o final do ano.

Muitos desenvolvedores estão aguardando sinais de preços mais favoráveis para proceder com a verificação e emissão de seus créditos. E, em paralelo, as principais certificadoras também enfrentam atrasos nos processos de verificação e emissão, ao aguardarem novas diretrizes mais rígidas, o que também contribui para a desaceleração dessa tendência.

“Os créditos de carbono oferecem uma solução para que as empresas possam implementar ações climáticas imediatas enquanto buscam soluções de longo prazo. São ferramentas complementares em uma estratégia robusta e realista de descarbonização”, diz Soares.

Brasil lidera o número de projetos de crédito de carbono na América Latina com 40% do total

O próprio REDD+, diz, pode ser uma ponte até que os créditos de restauração, cujos projetos levam, no mínimo, cinco anos para começar a gerar créditos em grande volume, cheguem ao mercado. “Embora a média dos preços dos projetos REDD+ ainda esteja baixa, alguns projetos de alta integridade chegaram a alcançar valores de até 17 US$/tCO2e neste segundo semestre”, comenta o executivo.

Ele diz ainda que algumas companhias abandonem compromissos oficiais alegando alto custos e prazos incompatíveis com suas metas, outro movimento segue forte, o de empresas apostando em vários tipos de soluções para remoção de carbono: créditos de carbono vindos de soluções baseadas na natureza, tecnologias de engenharia, captura direta de carbono (DAC), bioenergia com captura e armazenamento de carbono.

“Mesmo que tenha sido vista uma queda substancial nas transações e nas aposentadorias de créditos de carbono no segundo semestre, tanto no Brasil quanto no mundo, o mercado tem registrado um aumento no interesse por contratos pelo chamado ‘offtake’, compra antecipada de créditos e acordos de fornecimento”, conta.

Google e Microsoft, por exemplo, têm visto suas emissões dispararem – com o crescimento do uso de tecnologia, data centers e, em especial, inteligência artificial – e vêm investindo no segmento. Em junho, o BTG Pactual Timberland Investment Group (TIG) e a Microsoft formaram um acordo de compra e venda de até 8 milhões de créditos para remoção de carbono baseados na natureza até 2043. Os créditos serão entregues por meio da estratégia de reflorestamento e restauração de 135 mil hectares de florestas nativas do BTG Pactual TIG na América Latina.

Soares também lembra que o número de empresas comprometidas com metas de descarbonização baseadas na ciência, submetidas e aprovadas pelo Science Based Targets Iniciative (SBTi), cresceu em 963 companhias até o fim do segundo trimestre. Ao todo, passa de 8 mil companhias alinhadas ao SBTi, com metade entrando apenas no último ano.

O setor de serviços, como de consultoria e auditoria, é o que mais se destaca em metas submetidas ao órgão, seguido por software e serviços de tecnologia; processamento de alimentos e bebidas; têxtil, calçados e acessórios e máquinas, equipamentos elétricos e maquinários. Por outro lado, empresas do setor de petróleo não estão comprometidas com o SBTi, evidencia o relatório.

A Systemica também traz recorte por regiões. Na América Latina, o Brasil é o líder, com 40,5% do total de projetos e 28,4% das reduções anuais de emissões em termos de volume. Ao todo são 118 projetos. Como base de comparação, a Colômbia tem 45 projetos, Peru, 28, Chile, 24, Uruguai, 16, e Argentina tem 12.

O relatório compila, trimestralmente, dados públicos e disponibilizados pelas empresas verificadoras ACR, CAR, Gold Standard, Verra e outros.

Os ventos podem mudar com o esforço coletivo de agentes do mercado para aumentar a credibilidade – e a própria integridade – dos créditos gerados e vendidos, e também o avanço da aprovação do mercado regulado que põe preço na emissão de carbono. O Brasil, por exemplo, é um dos países que discute no Congresso um projeto de lei para regular o mercado de carbono.

Para Soares, se for para frente, a legislação também pode ter um impacto significativo no mercado de carbono voluntário. Isso porque está previsto, pelo menos no texto hoje em análise pelo Senado, uma interseção entre os créditos de carbono voluntários e os créditos do mercado regulado. Ou seja, empresas e outras organizações que emitirem mais do que o teto poderão também comprar créditos do mercado voluntário para compensar o excesso, caso o texto seja aprovado com o item.

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