19.3 C
Franca
novembro 25, 2024
AgriculturaNotícias

Desconhecimento dificulta análise de informações que a agricultura de precisão possibilita

“Alguns produtores não utilizam praticamente nada, por falta de informações e de conectividade”, segundo o diretor do Instituto Mato-Grossense de Algodão

Criada para identificar as diferenças de produtividade do solo e áreas mais afetadas por pragas a fim de aplicar a quantidade correta de fertilizantes e insumos, entre outras funções, a chamada agricultura de precisão está presente em grandes propriedades. Mas ainda enfrenta obstáculos para ser adotada em larga escala no país.

Embora os primeiros maquinários de aplicação variável de insumos e monitoramento da colheita tenham começado a ser introduzidos no Brasil no início dos anos 90, boa parte dos produtores rurais ainda carecem de informação sobre o rol de tecnologias disponíveis no mercado e não sabem como extrair o máximo do potencial da inovação tecnológica.

Pesquisa realizada pela empresa Kleffmann Group e apresentada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) mostra que, de um universo de 992 produtores entrevistados, 45% responderam que utilizam alguma técnica de agricultura de precisão na propriedade, como aplicação de sementes em população variável, pulverização e fertilização em doses variáveis, e mapeamento da fertilidade do solo.

O levantamento feito entre produtores de soja, trigo e milho revela que, deste universo, pouco mais de 15 % dos produtores utilizam, de fato, técnicas de amostragem de solo para obter mapas com diagnósticos da variabilidade espacial da fertilidade da terra. O resultado equivale a 9 milhões de 59 milhões de hectares pesquisados.

A pesquisa foi feita em 2013 nas regiões Sul, Cerrado e Matopiba (composta pelos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O estudo identificou ainda que a tecnologia mais adotada pelos produtores é o uso de piloto automático e que 58% dos agricultores tinham intenção de continuar investindo em novas tecnologias.

O professor José Paulo Molin, coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão da Usp-Esalq, justifica que a adesão ainda é baixa, pois o assunto é muito novo no mercado, com cerca de 16 anos de existência, fator que acarreta uma certa limitação do entendimento sobre a atividade.

Ele resume que o principal desafio neste cenário é o acesso ao conhecimento e aos investimentos. “Tem que conhecer para entender e fazer. E, se quiser fazer, tem que ter algum empenho financeiro. Então, o que precisa é massificação da informação, divulgar em todos os níveis por meio de formadores de opinião para que adquira valor nas comunidades”, recomenda Molin.

O pesquisador Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), destaca que o sistema ainda é complexo e exige muita informação, o que torna a adoção complicada pelos agricultores.

“Nós desenvolvemos muito conhecimento, mas é um pouco difícil de ser absorvido pelo setor produtivo. Nós temos uma porcentagem significativa de produtores que já adotam agricultura de precisão, mas para aumentá-la, entendemos ser necessário desenvolver procedimentos mais adequados que favoreçam a aplicação”.

Parceria

Pesquisadores da Embrapa, de instituições privadas e produtores de diferentes culturas fazem parcerias para ampliar a adoção da agricultura de precisão nas propriedades e otimizar o uso de tecnologias. Um dos trabalhos da Embrapa está sendo realizado junto ao Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMA).

Segundo o diretor-executivo do IMA, Álvaro Salles, por meio da parceria o instituto está desenvolvendo metodologias e procedimentos para facilitar o uso das tecnologias. O IMA entra com recursos e o trabalho em campo e a Embrapa com o apoio técnico de pesquisadores de ponta na área.

“Lançamos um desafio junto com a Embrapa para desenvolver um sistema que sirva ao produtor para a tomada de decisões a tempo de corrigir eventual distorção de produção, da lavoura ainda para esta safra”, comenta.

Salles destaca que a maior dificuldade entre os produtores da região é interpretar as informações colhidas em campo pela tecnologia e utilizá-las em tempo hábil. Ele defende que esta lacuna seja superada com investimento em pesquisa e capacitação.

“O desafio é realmente pesquisa e correlacionar os dados, porque a tecnologia está correndo muito mais rápido do que o conhecimento disponível”.

O produtor relata que o projeto permitiu identificar que poucos produtores de soja e algodão do Mato Grosso utilizam todo o potencial da tecnologia disponível no mercado.

“Alguns produtores não utilizam praticamente nada, muito por desconhecimento e falta de conectividade. Compram uma máquina nova que tem todo o aparato, tecnologia embarcada, mas junto de máquinas antigas que não dispõem dessa tecnologia”, comenta Salles.

Mobilização

Com o apoio do Mapa e da comissão de agricultura de precisão foram criadas duas associações nacionais para organizar a aplicação desses mecanismos. As entidades têm mais de 100 empresas associadas e enviado representantes a eventos internacionais para conhecer novas tecnologias e formas de fazer agricultura que podem ser adaptadas ao Brasil.

Além das parcerias de assistência técnica, o Mapa ainda trabalha para aperfeiçoar a legislação que envolve o tema, entre elas, a lei geral de proteção de dados. Aprovada no ano passado pelo Congresso Nacional, a lei estabelece regras de controle e de privacidade de informações pessoais. Porém, integrantes do setor agropecuário avaliam que ainda é necessário maior rigor para evitar que os dados coletados em campo sejam utilizados de forma inadequada.
“Hoje, o campo está coletando muita informação. De quem realmente são os dados que esses prestadores de serviço estão coletando para o produtor? O produtor está pagando, mas a empresa está recebendo, manipulando, filtrando, lapidando os dados”, questiona Juntolli.

O setor também quer um marco legal para estimular a aplicação das técnicas inovadoras de produção no Brasil. No Congresso Nacional tramitam dois projetos de lei para criar uma Política Nacional de Incentivo à Agricultura e à Pecuária de Precisão. Uma é de autoria da ministra Tereza Cristina.

Fonte: Débora Brito

Related posts

Desempenho do frango, boi e suíno vivos em janeiro de 2020

Fabrício Guimarães

Treinamento sobre colhedeira de café da CASE na Tracan em Franca – SP

Fabrício Guimarães

Projeto de conectividade rural de cooperativa melhora qualidade de vida de produtores no RS

Fabrício Guimarães

Deixe um comentário

Usamos cookies para melhorar sua experiência no site. Aceitar Leia Mais