Como o Brasil é um país exportador de café, sua posição geográfica intensificou os problemas de logística causados pela pandemia
Entre janeiro e novembro de 2021, as exportações de café do Brasil recuaram 10% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Entre os principais motivos estão uma safra menor, por conta da bienalidade negativa e problemas de logísticas que afetaram o comércio internacional. Em relação à rentabilidade, 2021 foi um bom ano, com valorização de quase 130%.
Em 2021, o Brasil produziu pouco mais de 48 milhões de sacas de café, contra pouco mais de 63 milhões de sacas em 2020, redução de 24,4%. A explicação está na bienalidade negativa e de problemas climáticos que afetaram boa parte da região sudeste durante o ano. Com uma oferta menor e uma demanda aquecida, o grão teve uma excelente valorização no mercado. Em dezembro de 2020 a saca do tipo arábica era negociada a R$ 600,82. Em igual mês do ano passado, o valor chegou a R$ 1.447, aumento de quase 130%.
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“Além da bienalidade negativa, nós tivemos os problemas logísticos que vem com a recuperação da economia e o mundo tentando se equilibrar ainda do contexto do pós-pandemia. Mas mesmo com as vacinações, portos sobrecarregados no mundo tivemos problemas. Esse desbalanceamento entre fechar todo o planeta e as reaberturas que aconteceram”, explica o diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos
Como o Brasil é um país exportador de café, sua posição geográfica intensificou os problemas de logística causados pela pandemia, especialmente no valor do frete.
“O custo de exportação de Santos a New Orleans ficava em US$ 1,7 mil o trajeto. Esse valor foi para US$ 4 e hoje já temos indicação de US$ 10 mil. É um valor multiplicado muitas vezes dado essa desorganização que nós tivemos. Faltou contêineres para fazer essa vazão e a gente puder obter valores melhores nas nossas exportações”, diz Matos.
Entre maio e novembro deste ano, por exemplo, o Brasil deixou de embarcar 3,7 milhões de sacas de café e a situação deve demorar para se normalizar.
“De janeiro a novembro nós exportamos 36,3 milhões de sacas, ou seja, uma queda de 10% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando nós embarcamos 40,3 milhões de sacas. Alguns indicam o primeiro semestre de confusões logísticas, e a partir do segundo semestre nós teríamos uma normalização. Outros já apontam 2023”, ressalta o diretor do Cecafé.
Com essa crise logística surgiram soluções atípicas, como por exemplo, o transporte de uma carga de café especial do brasil para o reino unido feito de avião.
“Vimos aqueles cafés de maior valor agregado sendo exportado via avião que é menos de 1% dos embarques. Mas nós temos também tivemos a criatividade sendo utilizada pelos exportadores que são as exportações pelo break Booking, que são navios completos com cargas de café em big bags, acondicionados nos porões do navio”, explica.
Café valorizado
A maioria dos principais importadores comprou menos em 2021, mas o café brasileiro, principalmente o especial, segue muito valorizado no mercado internacional.
“O Japão que é o número cinco nesse ranking cresceu 5,7% com 2,24 milhões de sacas e Colômbia que é um país produtor, importou 1 milhão de sacas, crescendo 39%. Se a gente olhar todos os países produtores concorrentes do Brasil que compram o nosso café, crescemos 3% que é quase 3 milhões de sacas. Apesar o cenário desafiador, nós temos aspectos a acrescentar”.
Projeções
Em relação a 2022, ainda é cedo para projetar safra. No entanto, o Cecafé cita algumas demandas importantes para o ano que vem, uma das mais importantes, é o investimento em logística.
“Nós ouvimos a situação do setor produtivo e suas demandas. Eles estão dispostos a fazer uma agenda de trabalho para que de uma forma emergencial tentar solucionar os nossos desafios. Não existe solução de curto prazo. A gente já sabe disso, vamos lidar com isso ao longo de 2022”, pondera Marcos Matos.
Outro desafio, segundo o dirigente do Cecafé, é melhorar o marketing do café brasileiro.
“O Brasil está sendo alvo de inúmeros ataques lá fora. Então o nosso foco vai ser a sustentabilidade e tentar humanizar o café. Levar ao conhecimento da opinião pública global, europeus, jornalistas, governos e convidá-los para interagir com as mais de 33 regiões produtoras de café do Brasil. Projetar a imagem linkada com a questão da sustentabilidade. Temos o nosso projeto de carbono indo para a sua conclusão”.
“Quando o consumidor comprar o café e ver origem Brasil que ele tenha o orgulho e a ciência que aquele produto gera progresso humano na região, gera riqueza e que foi cultivado com boas práticas agrícolas. Que ele consuma aquele café tendo isso em mente. Esse é o desafio de todos nós brasileiros”, completa Matos.