Massificação das apólices para atividades ainda pouco contempladas é um dos desafios do setor
O panorama do crédito e do seguro rural no Brasil foi o tema do segundo painel dos Novos Desafios da Safra, evento promovido pela Globo Rural, em São Paulo. O diretor de gestão de risco do Ministério da Agricultura, Pedro Loyola, e o consultor, especialista em crédito rural e ex-diretor da Febraban, Ademiro Vian, trouxeram os pontos de vista do governo e do setor privado.
Ademiro Vian começou falando da importância da política agrícola vigente no país, que tem o crédito rural como balizador das taxas de juros do crédito rural. “Não temos uma política agrícola sobre os seus macroaspectos, temos uma política de crédito, um emaranhado de normas de crédito, criado há 50 anos, que prevalece até hoje. Não vejo como ultrapassada, porque ela tem sido a base do financiamento agrícola”, avaliou. “O crédito rural é o balizador das taxas de juros. Como ele é compulsório, ele acaba sendo o balizador das outras taxas”, acrescentou Vian.
Segundo Loyola, a atual gestão da ministra Tereza Cristina pretende fazer uma transformação da política agrícola totalmente voltado para o crédito rural sustentável com gestão de risco. Atualmente abrangendo 5 milhões de hectares no Brasil, Loyola diz que a meta é mais que triplicar a área, atingindo 18 milhões de hectares em um ano e meio. “Vamos conseguir atender a essa demanda, que é dinâmica. Os Estados Unidos levaram 40 anos para desenvolver a política que possuem hoje. Aqui ainda é jovem, está amadurecendo. Vamos entregar essa gestão em 2022 com uma contratação do seguro rural mais massificada”, destacou.
Seguro rural
As novas regras para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) foram anunciadas este mês pelo Ministério da Agricultura, que serão válidas a partir de 1º de janeiro de 2020, com a elevação para R$ 1 bilhão.
Com isso, Loyola explicou que o governo pretende ampliar a adesão do seguro rural para atividades agropecuárias que ainda possuem pouca participação, como cultivo de trigo, milho safrinha, frutas, florestas, pecuária e aquícola. “Temos menos de 2% das apólices no Nordeste, onde existem atividades de risco em função da seca, e pouca adesão do seguro na pecuária”, ressaltou.
O aumento da concorrência dos bancos na oferta de crédito rural também foi abordado pelo consultor Vian. “A transformação do sistema financeiro tem sido muito rápida. É urgente que se busquem novos mecanismo para fortalecer o financiamento no setor agro. Vejo um movimento muito tímido das instituições financeiras para entender o mercado de títulos e capitais (CPR, CDCA, CRA e LCA)”, disse Vian.
Para ele, títulos como LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) não deve ser tributada ou gerar qualquer benefício direto para as instituições financeiras. “Hoje, está (a favor) para o banco e contra o cliente. Somente 35% da captação volta ao sistema produtivo. Eu acho que é isso que está errado. Deveria 100% de retorno para o setor”, defendeu o consultor. De acordo com Vian, um grande desafio é trazer mais agentes para financiar, buscar alternativas para o agro no mercado de capitais, “viabilizando esses títulos, massificando, treinando, expandindo, e não deletando”.
“O segundo desafio é incentivar o cooperativismo de crédito para atender o produtor, que entenda a necessidade do produtor. Assim, o dinheiro fica disponível para o produtor, o setor se autofinancia”, completou.
Vian também criticou o subsídio de custeio no agrícola. Para ele, o crédito rural teve um importante papel na criação da estrutura que existe hoje, mas que já atingiu a exaustação, segundo ele. “Já é pensada a hora de chamar para discutir essa questão de investimentos de uma forma geral”.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) foi outro aspecto destacado pelo Loyola como uma das mais eficientes estratégias de desenvolvimento econômico sustentável e saudável para a produção do país, inclusive na prevenção dos problemas sanitários. Com isso, o Proagro teve uma economia de mais de R$ 2 bilhões em 2018 graças à segurança ao investimento proporcionada pelas informações do zoneamento.
Loyola lembrou, ainda, que foram utilizados cerca de R$ 700 milhões para pagar R$ 2,9 bilhões em indenizações aos produtores de janeiro de 2018 a junho de 2019. “Hoje, temos em torno de 85% dos produtores como pequeno ou médio dentro do programa (Proagro). Porque os grandes (produtores) às vezes acham que não vale a pena contratar e buscam outras alternativas. Isso mostra que quem está buscando realmente o seguro é o pequeno e médio”, disse Loyola.
“O governo deve estar participando especialmente na agricultura familiar, que é um desafio de governo e de Estado e é assim que tem que ser, para investimento e no custeio. O grande e o médio estão buscando alternativas de mercado de capitais”, completou Vian.
Fonte: Globo Rural