“Trabalho com produção de leite desde que me conheço por gente. Já vem de várias gerações.” É o que diz Álvaro Paulino, 54 anos, produtor do município de Caiuá. Ele se formou como técnico agrícola em 1988 e, em parceria com o irmão, teve uma lavoura de abacaxi, comprou um açougue, depois teve um comércio, até que começou a trabalhar com bovinocultura de leite. Mas como não tinha muito conhecimento técnico, acabava “gastando errado” os recursos que investia. “Sempre cuidei da genética do meu rebanho e sempre tive vacas boas, mas eu tratava muito mal da alimentação, e a produção ficava prejudicada”, conta o Sr. Álvaro. Em 2018 ele soube da existência do Proleite, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de São Paulo (SENAR-SP), que tem como objetivo capacitar os pequenos criadores para o manejo intensivo de produção leiteira a pasto, em pequenas propriedades rurais, visando aumentar a produtividade e diminuir os custos.
No ano seguinte ele começou a participar do programa. O produtor lembra do diálogo que teve com o instrutor logo no início das aulas:
– Álvaro, quantos animais você tem na lactação e quantos litros está produzindo? – perguntou o instrutor.
– Dezessete vacas e 120 litros no total.
– Você quer mudar isso?
– Quero, sim! – disse o Sr. Álvaro.
– Pois bem, então você me traz anotado tudo, vaca por vaca, a quantidade que cada uma produz e quanto você gasta de ração com elas.
O Sr. Álvaro anotou tudo e passou as informações para o instrutor, que analisou e disse:
– Vamos ter que soltar nove vacas, você topa?
Ele pensou consigo: “E agora? Meu leite vai acabar, dependemos disso para sobreviver.” Mas ele confiou e seguiu a orientação. Separou os animais indicados, soltou-os em outra pastagem e ficou só com oito vacas, as que mais davam leite, que passaram a comer melhor e a produzir mais. Resultado: em apenas dois dias, chegou nos mesmos 120 litros, com menos da metade dos animais. Segundo o Sr. Álvaro, a produtividade melhorou muito. “Cheguei a descobrir vaca que antes dava de 15 a 18 litros por dia e que, depois do que aprendi no Programa Proleite, passou a dar 50 litros”, comemora.
Para atingir esses números, o investimento não foi muito alto e o retorno foi acima das expectativas. No primeiro ano o Sr. Álvaro construiu um poço semiartesiano e completou os materiais que faltavam para completar um hectare de pastagem irrigada. Depois, mais 1,5 hectare de pastagem em 2020 e, no ano seguinte, mais 1 hectare de cana irrigada.
Ele lista outras coisas que aprendeu e que considera muito importantes:
- correção do solo para melhoria da propriedade e dos recursos empenhados.
- fazer anotações para melhor controle, tanto da questão financeira como das características do rebanho.
- divisão de tarefas para cada membro da família, otimizando o esforço de todos.
Eliana Gomes Barreto Garcia, coordenadora do Sindicato Rural de Presidente Venceslau – onde o Proleite deste ano teve início em fevereiro e vai até novembro no município sede do sindicato e na extensão de base, em Marabá Paulista – explica que os participantes são selecionados dentre os pequenos proprietários que já possuem uma pequena produção e que procuram aperfeiçoar seus conhecimentos. O objetivo é capacitá-los profissionalmente para que consigam atender a pequenas demandas, mas também comercializar com grandes laticínios.
O Programa Proleite é bem completo no sentido de oferecer as orientações para a profissionalização da atividade. Envolve o gerenciamento da propriedade e do capital empregado, a plantação de cana-de-açúcar (para alimentação dos animais), manejo de pastagem, sistema de irrigação da propriedade, instalação de cerca elétrica, plantio de pastagem de inverno, sanidade, manejo reprodutivo, métodos de ordenha e controle da produção, dentre vários outros. A parte prática ocorre em uma propriedade demonstrativa – que deve ser de um dos participantes – onde todo esse conteúdo é ensinado. “Tem todo um preparo do terreno onde os animais vão viver e se alimentar. Tem de cuidar bem das vacas”, diz Eliana. “Cuidando corretamente do terreno, não haverá perigo de faltar comida durante o período de seca, mantendo o padrão de qualidade e quantidade do leite ao longo do ano todo”, ressalta.
Os produtores que participam do Programa Proleite, após passar por toda capacitação, são capazes de oferecer um produto de melhor qualidade, fator de extrema importância, porque através dela podem agregar um valor maior e, assim, têm mais condições de negociar com os compradores. O Sr. Álvaro valoriza muito o que aprendeu. “Quando você tem o conhecimento e investe sua vida e o esforço da família, tudo vira ouro. Hoje, com as melhorias que fizemos, conseguimos manter nosso filho no último ano da faculdade, sendo que antes até cogitamos de encerrar a produção”, diz. Ele participou também dos cursos de inseminação artificial, de mecanização agrícola, manejo e recuperação de pastagem. Não quer parar com os cursos do SENAR-SP e recomenda que outros produtores façam o mesmo.
Cursos do SENAR
Para participar deste e outros programas e cursos, o interessado deve procurar um parceiro do SENAR-SP (Sindicatos Rurais, prefeituras conveniadas ou associações) de seu município ou próximo a sua região e fazer sua inscrição. Para conhecer os cursos disponíveis, acesse o site https://faespsenar.com.br/cursos/.