A ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, apareceu no Brasil em janeiro de 1970, na Bahia, e logo se disseminou para todas as regiões cafeeiras do País. Já em março de 1970 foi constatada no Espírito Santo, em junho/70 em Minas Gerais, em jan/71 em São Paulo e em out/71 no Paraná, mostrando a facilidade de disseminação da doença.
Os programas de controle executados no início previam a erradicação-exclusão, mas logo verificou-se a impossibilidade dessas medidas e passou-se a um programa de convivência baseado em três pilares:
1) Pesquisa e difusão de tecnologias – para tornar o controle eficiente e econômico.
2) Renovação de cafezais: com zoneamento, sistemas novos de plantio, para viabilizar produtividade e facilitar o controle.
3) Crédito para viabilizar novos plantios e a adaptação de lavouras: investimento e custeio. Como resultado foi obtida a implantação de cerca de dois milhões de hectares de cafezais renovados, os quais constituem a base da nova cafeicultura brasileira, mais produtiva e moderna.
Controle químico
Com as lavouras renovadas a prioridade passou a ser o controle químico da doença, pois todo o parque cafeeiro era constituído de variedades, como a Mundo Novo e a Catuai, suscetíveis à ferrugem.
Nos 10 últimos anos tem sido feita a introdução gradativa de novas variedades, que possuem resistência à ferrugem.
Evolução
Na 4ª etapa, que aconteceu de 1980-90, houve viabilização do controle com fungicidas sistêmicos via solo, sendo uma evolução marcante no controle químico da ferrugem especialmente a partir de 1985-87, quando foi viabilizado o uso extensivo de produtos sistêmicos triazóis via solo, uma inovação tecnológica desenvolvida inteiramente no Brasil – um dos primeiros casos de sucesso de uso dessa modalidade a nível mundial.
Na 5ª etapa, de 1990 a 2000, houve a expansão no uso dos fungicidas triazóis, com a entrada no mercado de novos produtos, principalmente para uso via foliar – Epoxiconazole, Hexaconazole, Triadimenol + Tebuconazole e o Tetraconazole.
Passou-se a usar o sistema curativo-protetivo – com triazóis em duas aplicações foliares, com intervalo de 60 dias. Também passou-se a utilizar formulações à base de Cyproconazole via solo, granuladeiras para enterrar os produtos granulados e se iniciou a associação do controle da cercosporiose e ferrugem – cúprico foliar mais mistura fungicida/inseticida via solo.
Nessa mesma etapa verificou-se o efeito na ferrugem da 1ª estrobilurina – o Azoxystrobin, o efeito hormonal dos triazóis via solo e foi lançada a Calda Viçosa – micronutrientes, sulfato de cobre e cal.
Na 6ª etapa (2000-2019) houve evolução para uma integração dos sistemas de controle, com a estratégia de associar sistemas de aplicação e produtos com ativos diferenciados, devido à redução de eficiência no uso dos fungicidas triazóis isoladamente, principalmente na modalidade via solo. Inicialmente eram programas com mistura ou a alternância de triazóis com estrobirulinas, depois formulações já prontas, com esses grupos fungicidas.
Na 7ª etapa, em que nos encontramos atualmente, têm sido introduzidas formulações com carboxamidas e formulações com combinações de ativos antigos, multissítios (mancozeb, clorotalonil e cobre) para quebra de resistência, combinados com produtos atuais, à semelhança do que se faz com a ferrugem da soja.
Opções
Os sistemas de controle que podem ser usados para a ferrugem do cafeeiro são:
– Controle protetivo: fungicidas protetores, basicamente à base de cobre. Atualmente, apenas em combinação.
– Controle protetivo curativo via foliar: pulverizações com fungicidas sistêmicos, triazóis ou suas combinações com outros fungicidas, como as estrobirulinas e os cúpricos.
– Controle preventivo-curativo via solo: com fungicidas triazóis mais translocáveis, absorvidos pelo sistema radicular do cafeeiro.
Na prática, é mais usada a combinação dos três sistemas de controle, com associação de aplicações via solo com foliares e associação de produtos protetivos com sistêmicos.
A doença – fatores influentes
A ferrugem causa a desfolha das plantas e perdas de produção no ano seguinte, sendo que o nível de ataque está relacionado ao estresse das plantas, pela carga pendente, falta de água e de nutrientes, entre outros, que as torna mais suscetíveis à condição ambiente (temperatura e umidade) e ao inóculo residual do ciclo anterior.
Na lavoura influem: o sistema de cultivo (as variedades, o espaçamento, o número de hastes, fechamento, etc.), que interfere na suscetibilidade e no microclima. O manejo dos tratos, a adubação/nutrição das plantas, as podas, as capinas etc., que interferem na suscetibilidade, no microclima e na capacidade dos cafeeiros de suportar a doença.
O nível de produção das plantas tem sido o fator mais determinante da evolução da ferrugem sobre os cafeeiros, conforme pode-se observar na tabela 1.
Tabela 1 – Infeção pela ferrugem em cafeeiros com dois níveis de produtividade, manejados em condições naturais, com desfolha ou com eliminação de inóculo. Venda Nova (ES), 1984.
Tratamentos | % de folhas c/ ferrugem (junho/84) |
A- Condição normal | |
A1 – Baixa produção | 8,70 a |
A2 – Alta produção | 30,70 b |
B- Eliminação do inóculo | |
B1 – Baixa produção | 8,50 a |
B2 – Alta produção | 23,50 ab |
C – Com desfolha | |
C1– Baixa produção | 16,00 ab |
C2- Alta produção | 43,50 b |
Obs: 1) Elim. do inoculo e da folhagem (50%), em dez/83
2) Produção registrada: Alta produção = 25 sc/ha; Baixa produção = 7,6 sc/ha Fonte: Mansk Z. e Matiello, J.B Anais 11º CBPC, 1984, p. 128-0.
Ciclo da ferrugem do cafeeiro e eficiência de controle
O ciclo de evolução da ferrugem, nas condições da cafeicultura brasileira, tem se mostrado bem definido, repetindo-se ano a ano. A doença evolui a partir de novembro-dezembro até abril-maio, e com o “pico” da doença, com maior número de folhas infectadas, acontecendo em julho-agosto, decaindo, em seguida, pela desfolha natural e pela colheita. Verifica-se que o monitoramento não possibilita início do controle.
Quanto aos níveis de eficiência de controle, pode-se considerar que:
þ Níveis de infecção finais (junho-julho) inferiores a 10% de folhas infectadas e desfolha inferior a 20% significam elevada eficiência de controle.
þ Níveis de 10 – 20% de infecção e desfolha inferior a 30% significam um controle bom.
þ Níveis de infecção de 20 – 40% e desfolha de 30 – 50% representam um controle pouco eficiente.
þ Índices de infecção superiores a 40% e desfolha superior a 50% significam falta de controle.
Nessa condição média considerada, a testemunha, sem controle, apresentaria infecção de 60-90% e desfolha de 70-90%.
Ferrugem tardia e problemas de falta de controle
Um dos problemas observados nos últimos anos é a ocorrência de ferrugem tardia, sendo que os principais condicionantes desse problema são:
” Chuva demais ou estresse hídrico em dezembro/janeiro, ocorrendo lavagem de adubos e estresse das plantas.
” Adubação insuficiente no último parcelamento causando estresse nas plantas e uma maior suscetibilidade, ou seja, as plantas ficam fracas e, assim, mais suscetíveis à doença.
” Controle termina cedo, em fevereiro e, ainda, por uso de doses baixas dos fungicidas.
” Período chuvoso prolongado e temperaturas pouco mais altas que o normal no período de abril/junho, então a ferrugem aparece forte mais tarde, escapando, em muitos casos, apesar do controle químico praticado.
Alguns problemas de falta de controle têm acontecido devido à perda de eficiência dos triazóis, a qual tem diminuído, especialmente na via solo. A solução tem sido a combinação de triazol com estrobilurina, pois os triazóis são inibidores da síntese de ergosterol e as estrobilurinas na respiração dos fungos, assim o fungo necessita mutar em dois pontos, para resistência.
Na ferrugem da soja houve problemas sérios de resistência, primeiro aos triazóis e agora, também, com as estrobilurinas e mais recentemente com as carboxamidas. Para a ferrugem do cafeeiro não se tem resistência de forma comprovada, porém, é observada na prática a resistência do fungo aos fungicidas. Entretanto, já estão disponíveis novos grupos fungicidas, com o uso já de carboxamidas e agregação de outros grupos.
O uso de variedades com resistência à ferrugem vem evoluindo bastante e já pode ser uma ferramenta de controle da doença.