Maior utilização da variedade e alta nos preços influenciaram na decisão pelo plantio
A produção de café conilon, da família de cafés canéforas, tem ganhado novos ‘terroirs’ no Brasil. Com o grão em alta no mercado internacional, além de ter plantas mais resistentes, alguns produtores e entidades do oeste paulista estão apostando no cultivo da espécie.
Majoritariamente, as concentrações de conilon no país ficam no Espírito Santo e no Sul da Bahia, mas a oportunidade de mercado também faz com que indústrias, como o grupo Melitta, e torrefadores se interessem ainda mais por conilon de alta qualidade, de sistema orgânico para dar contraste de sabor e intensidade nos blends.
Já não se fala mais que conilon é café de bebida amarga, tampouco se deprecia a sua potência aromática e financeira, que ganhou mais força desde o ano passado em razão de uma quebra nas safras dos países asiáticos Vietnã e Indonésia, maiores produtores globais da variedade.
A lacuna na oferta abriu oportunidade para o Brasil que tem lucrado com esse tipo de grão e influenciado no aumento do arábica também.
Dados os fatores de mercado e possibilidade de experimentar um novo cultivo, o pequeno produtor Vanderlei Benites, ao lado do filho, William Pinheiro Benites, planta 20 hectares na cidade de Tupi Paulista.
“Começamos com apenas um hectare, como teste. Mas o plantio e as vendas se mostraram vantajosos, e decidimos aumentar”, relata.
“Neste ano, o clima complicou os resultados, mas sabemos que foi uma seca excepcional. A perspectiva é que o clima melhore no segundo semestre, e na próxima safra seja possível ter melhor floração e consequente produção”, avalia.
Os cafeicultores já cogitam investir em melhorar irrigação e começar a plantar variedades mais adaptadas à região. A busca por essas variedades é uma tendência no Brasil, estimulado há anos por entidades como a Embrapa Café, mas que emergiu com mais força agora, devido às adversidades climáticas.
Produtores veteranos, que estão fazendo a poda das plantas improdutivas de café, depois de 20 anos, já procuram cultivar novas cultivares que foram testadas correspondendo a características regionais, de microclima, de análise de solo, velocidade dos ventos, umidade do ar, entre outras.
Essa seleção agronômica é o primeiro passo para um manejo regenerativo dos cafezais, como explica a especialista e diretora da Auma Agronegócios, em Patos de Minas (MG), Lucimar Silva.
Ela acrescenta que a agricultura regenerativa tem captado a atenção de produtores de conilon e arábica, não só pela qualidade da bebida e da economia de custos, mas pelo aumento de produtividade nas duas espécies.
Embora esse manejo seja mais difundido entre os cafeicultores de arábica, em especial os que exportam, é um conjunto de técnicas procurado por empresas cada vez mais, inclusive, no grão conilon.
O grupo Melitta, por exemplo, lançou esse ano seu primeiro café moído e torrado de varejo com 100% dos grãos provenientes da espécie canéfora. Não é gourmet, nem café especial, mas um pacote de alta qualidade para o consumidor final que reúne grãos principalmente de cafeicultores do Espírito Santo.
“À medida que alguns torrefadores se interessam pelo grão que não era tão querido assim – e começam a aprender a lidar com ele – o grão começa a aparecer em espressos mais elaborados ou bebidas 3 em 1, como os cappuccinos”, explica Fernando Takayuki Nakayama, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta Regional).
A entidade coordena alguns projetos com pequenos agricultores no oeste paulista para incentivar o plantio de café, aproveitando poucos hectares, que propiciam alta rentabilidade.
As oportunidades de mercado dentro do Brasil despertam o apetite de produtores como Edson Teixeira, que planta conilon na cidade de Adamantina, também no oeste paulista.
“As bebidas refletem uma busca por cada detalhe da jornada, da fazenda até a xícara e um orgulho pelos resultados. Nesse cenário, o conilon entra na composição de uma bebida mais encorpada, com um brilho de vitalidade que pode ser simples, mas confere diferença na xícara de café”, diz.
“O amargor é equilibrado por acidez viva e um toque de suavidade, proporcionando um retrogosto satisfatório”, completa. Teixeira cultiva dez hectares e o negócio o levou a comercializar também as máquinas de espresso, com diferentes tipos de extração, de olho no nicho personalizado.
Brasilidades do café
“Cada região tem suas características e exigências, fornecemos para todo o Estado de São Paulo e algumas cidades do Paraná”, afirma Fernando. O produtor e empresário mantém um café no bairro e Perdizes, em São Paulo, que serve como vitrine tanto do café produzido na sua propriedade, quanto das máquinas que conferem extração apropriada.
Segundo Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic), a demanda pelo canéfora, seja conilon ou robusta amazônico, está aquecida, impactando positivamente os preços pagos ao produtor. “A indústria vem mudando e se adaptando conforme as oportunidades”, afirma.
Isso influencia nas medidas das mesclas de café e em novas descobertas de baristas e provadores que, também, têm feito questão de evidenciar o conilon brasileiro.
“O consumo mantém-se em alta, mas é preciso salientar que o comportamento de compra desse consumidor vem mudando”, destaca Nakayama. De acordo com ele, há uma tendência de consumo de blends, criações praticamente infinitas na combinação de variedades de grãos.
Segundo o pesquisador, o grão tem apelo crescente junto ao público que procura novidade e preço. “O café conilon possui duas vezes mais cafeína do que o arábica, então é inicialmente procurado para conferir um toque extra ao espresso, mas também dá peso e corpo à bebida, ao equilibrar a riqueza do leite vaporizado e a espessura do creme, e vem conquistando seu espaço nesse nicho”.
Conilon com sabor paulista
Com a percepção dessa oportunidade de mercado, a Apta Regional de Adamantina se uniu a pequenos produtores do oeste paulista para aprimorar a produção de conilon da região. Com áreas produtivas nas cidades de Lins, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, os profissionais trabalharam no melhoramento genético de mudas trazidas do Espírito Santo.
“Tínhamos 25 plantas inicialmente, e chegamos a 14 matrizes clonais que mais se adaptaram ao clima da região. Tivemos um salto de qualidade das variedades, agora mais resistentes às pragas, variações regionais de temperatura e adaptação à altitude mais baixa”, explica o pesquisador.
Nakayama informa, inclusive, que produtores interessados podem procurar a Apta Regional. Além de área disponível para plantio, é necessário ter disponibilidade para implantar sistema de irrigação.