Empresa é, atualmente, a maior fornecedora de soluções pós-colheita para grãos e açúcar no Brasil
Com a estratégia clara de diversificar áreas de atuação e com R$ 150 milhões em caixa, a Kepler Weber pretende entrar no segmento de armazenamento e soluções pós-colheita para café e sementes. Atualmente, a companhia, que faturou R$ 1,5 bilhão em 2023, é a maior em produtos e serviços pós-colheita do país para grãos e açúcar.
Aquisições não estão descartadas. Os detalhes do plano de expansão, porém, só serão conhecidos em 26 de novembro, no Kepler Day. “Estamos definindo cada ponto nas reuniões do conselho de administração agora, mas esses setores apresentam muita sinergia com o que temos hoje. Por isso, fazem sentido”, disse ao Valor o CEO Bernardo Nogueira.
Além da venda de silos e maquinário para empresas e produtores de café e sementes, a expansão permitiria a ampliação das receitas com prestação de serviços, área que em 2023 representou 17,6% da receita da Kepler.
Dentro desse segmento, os serviços de monitoramento e inteligência artificial da Procer — empresa na qual a Kepler tem 51% de participação — são a joia da coroa. Pelo acordo de aquisição, a Kepler pode comprar o restante da Procer em até cinco anos.
“Apostamos ainda que os sócios da Procer são competentes para tocar o negócio. Mas claramente, a aquisição nos interessa porque os serviços agregam muito ao nosso portfólio”, afirmou Nogueira. Hoje, a Kepler tem 1,7 mil unidades conectadas no Brasil e 100 fora do país.
O executivo está prestes a completar seis meses no cargo, com a função de fazer a Kepler crescer, depois que Piero Abbondi colocou as contas em ordem. Na primeira metade da década de 2000, a Kepler construiu nova fábrica, fez ousadas operações, elevou o nível de alavancagem e quase quebrou em 2006. A empresa passou anos sob dúvidas dos investidores.
Agora, a situação mudou. A Kepler se mostrou resiliente às intempéries do agro, como baixa das commodities, retração da rentabilidade e do investimento do produtor e juros elevados. “O fato de termos ampliado as áreas de atuação, inclusive com maior participação no mercado externo, nos ajudou a mostrar como é possível crescer mesmo em um ambiente adverso”, afirmou Nogueira.
Ele e outros executivos da Kepler Weber receberam analistas e jornalistas no porto de Santos (SP), na última sexta-feira, para mostrar a atuação da empresa na área de portos e terminais. Em 2023, essa divisão representou 6,3% do faturamento da companhia.
“Queremos crescer com esses projetos que agregam muito valor absoluto à receita da empresa, mas não os vemos aumentarem participação no bolo total porque têm margem menor que outras áreas de atuação da Kepler”, disse Nogueira.
O déficit de armazenagem, de 100 milhões de toneladas no país também deve permitir boa rentabilidade nos próximos anos, segundo ele. “O produtor e as empresas estão mais cautelosos com os investimentos, mas entenderam que a armazenagem traz ganhos no longo prazo ao permitir que eles definam a melhor hora para vender seus grãos”, argumentou.
Levantamento da Cogo Consultoria, feito a pedido da Kepler, mostra que o setor perdeu R$ 41,4 bilhões em 2023/24 ao comercializar os grãos com prêmios negativos. Os prêmios são um valor definido pelo mercado para o pagamento da soja ou milho no porto. Leva em conta a cotação do grão em Chicago, a oferta interna e o câmbio.
Na avaliação de Nogueira, a resiliência da Kepler a afasta da eventual “contaminação” de mercado causada pelo pedido de recuperação judicial do Agrogalaxy. “Acho que o mercado nos enxerga de forma diferente, embora atuemos no mesmo setor”.
Ao conversar com vários analistas de bancos e corretoras no evento da Kepler, a reportagem teve a mesma sensação. Todos afirmaram que o perfil da empresa é muito diferente do Agrogalaxy. Entretanto, talvez as ações sofram um pouco, devido ao desconhecimento sobre o agro.
“É natural alguns investidores preferirem ações do que está mais perto do seu dia a dia, mas o nosso papel é mostrar que o agronegócio tem várias vertentes e setores dentro dele, que é o mais importante para o PIB do país”, afirmou um analista, que pediu para não se identificar.
As ações da Kepler Weber encerraram o pregão de sexta-feira a R$ 9,99, com queda de 0,30% no dia. Desde 2018, a taxa de crescimento anual composta (CAGR) da Kepler é de 21,3%. A margem Ebitda (relação entre lucro operacional e receita líquida) no período passou de negativa em 4,9% em 2018 para positiva em 22,3% no fim do ano passado.