Surtos de gripe aviária foram registrados na América do Norte, na Europa e, mais recentemente, na Colômbia, no México e no Peru. Isso acende um alerta para o Brasil, onde as autoridades sanitárias ressaltam que os produtores devem estar vigilantes e reforçar as medidas de biosseguridade em seus estabelecimentos, mesmo que o País nunca tenha registrado casos da doença. “A influenza aviária de alta patogenicidade é uma doença exótica no Brasil, ou seja, nunca foi detectada no território nacional. Porém, isso não significa que se possa assumir uma postura de tranquilidade, uma vez que esses vírus podem cruzar fronteiras de países e até continentes”, destaca Bruno Pessamilio, médico veterinário e chefe da Divisão de Sanidade de Aves do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A biosseguridade constitui-se em um conjunto de medidas estruturais e de procedimentos que visam justamente prevenir a entrada, a manutenção e a disseminação de agentes patogênicos em estabelecimentos avícolas de produção. Causada pelo vírus da influenza tipo A, a gripe aviária é uma doença altamente contagiosa que afeta espécies de aves domésticas e silvestres, podendo atingir também o homem. Os vírus podem levar as aves à morte súbita, sem apresentar sinais clínicos, ou à doença severa com depressão intensa, sintomas neurológicos e respiratórios.
Sua transmissão se dá principalmente por aves silvestres e migratórias, que percorrem grandes distâncias. “O Brasil possui rotas de aves migratórias que passam por outros países que registraram focos de influenza aviária”, destaca Bruno. A transmissão pode ser também pelo contato indireto, como a contaminação de água, alimentos, objetos, equipamentos, pelo trânsito de pessoas, seus veículos, vestuários, produtos, ou por insetos, roedores e outras pragas.
Medidas de biosseguridade
“A avicultura no Brasil tem uma verdadeira fortaleza, que são nossas barreiras sanitárias”, enaltece Luciana Dalmagro (@vidadegranja), coordenadora adjunta da Comissão Técnica de Aves e Suínos da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). Contudo, ela ressalta a necessidade de se manter o status de país livre da gripe aviária.
Um manual da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que pode ser acessado aqui, fornece recomendações básicas de biosseguridade para a produção avícola. Alguns dos pontos listados são:
• O galinheiro deve ser separado e afastado da residência e de outros sistemas de produção como bovinos e suínos
• Cercar o sistema de criação com cercas de altura mínima de um metro, podendo existir cerca viva (evitar plantas frutíferas) como medida adicional – esta deve ser capaz de evitar a entrada de animais no ambiente dedicado às galinhas)
• O galinheiro deve ser telado com malha que impeça a entrada de aves e pequenos roedores. Todas as frestas e orifícios nas paredes e telhados devem ser vedados para impedir a entrada de aves silvestres
• Na área de acesso ao galinheiro, instalar pia ou tanque para lavar as mãos
• Dispor de uma área fechada e separada para aves doentes
• Dispor de estrutura para descarte e tratamento das carcaças e ovos não aproveitados para o consumo (exemplo: composteira)
• Dispor de local de armazenamento do esterco longe das aves e com acesso limitado de pessoas e animais
• Não plantar árvores frutíferas ou vegetação que atraia aves silvestres nos piquetes e nas imediações do galinheiro
• As pessoas precisam sempre utilizar roupas e calçados limpos para entrar na área de criação das aves, assim como lavar e desinfetar as mãos antes e após tocar nas aves ou nos ovos
• Permitir apenas o acesso de pessoas absolutamente essenciais ao sistema de criação (granjeiro, médico veterinário, extensionista, técnicos do Serviço Veterinário Oficial, entre outros)
• As aves devem ser obrigatoriamente vacinadas contra doença de Marek nos incubatórios antes da expedição das aves de um dia (solicitar comprovante de vacinação ao fornecedor das aves)
• Alojar, no máximo, sete aves por metro quadrado de piso do galinheiro. Fornecer poleiros, bebedouros e comedouros em quantidade adequada ao número de aves.
De acordo com o representante do MAPA, é importante esclarecer que a detecção de um vírus de influenza aviária de alta patogenicidade em aves silvestres e migratórias, bem como a detecção desse agente patogênico em propriedades de subsistência que não comercializam seus produtos avícolas, não deve implicar a adoção de medidas restritivas aos produtos, por parte dos países compradores, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal. “No entanto, essas detecções são extremamente importantes, pois elas sinalizam a presença do vírus e a necessidade de reforço das medidas preventivas”, acrescenta Bruno.
A notificação imediata de casos suspeitos é obrigatória junto ao serviço veterinário oficial por parte de qualquer produtor ou pessoa que esteja envolvida no processo produtivo das aves, quando tenha conhecimento da suspeita. A rápida detecção de um foco possibilita a rápida adoção de medidas sanitárias de contingência, evitando-se a disseminação do vírus para outras propriedades e prejuízos ainda maiores.
Portanto, esse é o momento de o País continuar fazendo a lição de casa no quesito “prevenção”, com um olhar ainda mais atento. “Em relação aos produtores mundiais de aves, como Estados Unidos e China, nosso grande diferencial é que somos historicamente livres da gripe aviária. Devemos continuar zelando por nossa excelente biosseguridade, para manter esse status sanitário tão importante”, destaca Luciana.