Polinização assistida com abelhas melhora lucro e qualidade do café

Inserção de colmeias manejadas nos cafezais tem gerado bons resultados para produtores

No mercado financeiro, uma injeção de capital via um fundo de investimento pode render lucros e novos ativos para o serviço agropecuário. No café arábica, esse aporte pode vir das abelhas e gerar um cenário semelhante de lucratividade por meio de polinização assistida. A técnica das abelhas aumenta a produtividade em 16,5% por hectare e pode elevar a receita anual do café arábica em até R$ 22,43 bilhões.

É o que aponta um estudo inédito realizado pela Syngenta em parceria com a Embrapa em fazendas de café dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, entre 2021 e 2023. Pesquisadores e técnicos monitoraram o efeito da inserção de colônias de abelhas manejadas nos cafezais, onde notaram também uma melhora na qualidade do café. A introdução de colmeias de abelhas africanizadas (Apis mellifera) na produção de café foi comparada aos resultados com áreas onde a polinização era realizada apenas por insetos silvestres.

Em detalhes, o impacto significativo no valor de mercado calculado por pesquisadores foi: o preço da saca de café chegaria a R$ 2.014,90, aumento de 13,15%. No total, o mercado cafeeiro brasileiro saltaria dos atuais R$ 70,490 bilhões para R$ 92,919 bilhões, até que alcançasse a lucratividade que o estudo cita de R$ 22,43 bilhões.

“A nota sensorial da bebida aumentou em 2,4 pontos”, diz a Embrapa, em nota científica divulgada na quarta-feira (30/10).

A classificação de grãos passou de regulares para especiais em algumas fazendas, agregando valor ao produto. “O salto de qualidade elevou o valor da saca em 13,15%, o que representa um ganho de US$ 25,40 por saca”, informou a entidade.

Qualidade do café também aumentou com a polinização manejada — Foto: Gustavo Facanalli/Embrapa

Os resultados positivos são expressivos e podem ajudar em um momento de dúvidas sobre a produtividade do arábica na safra 2025/26, em especial devido à seca forte e às altas temperaturas, que se sustentaram por mais de 150 dias nos Estados analisados.

A coordenação da pesquisa ficou nas mãos dos cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil em fazendas de café com sistema convencional de plantio, e não o regenerativo que já costuma utilizar abelhas, inclusive para a produção de mel de café, um subproduto de valor agregado para o produtor.

A pesquisa debate o fato de que a polinização assistida pode gerar impactos econômicos significativos na cafeicultura, tornando o manejo de abelhas uma “ferramenta poderosa para melhorar a rentabilidade dos cafeicultores”, enfatizou o estudo.

Os cientistas monitoraram, ainda, a saúde das colônias de abelhas nativas sem ferrão expostas a um dos inseticidas sistêmicos mais utilizados no controle de pragas da cultura, o tiametoxam. Colaboraram para o estudo a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a AgroBee, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Natural England e a Eurofins.

As abelhas africanizadas desempenharam um papel crucial na melhoria dos resultados. “A introdução das colmeias não só aumentou a quantidade de grãos por hectare, como também influenciou positivamente a qualidade do produto final. O aumento da nota sensorial, que leva em consideração características como sabor e aroma, permitiu que parte da produção alcançasse o status de café especial, um mercado com valor agregado substancialmente maior”, acrescentou a Embrapa.

Para Cristiano Menezes, pesquisador da entidade e um dos líderes do estudo, esses resultados mostram o potencial da integração entre o manejo de polinizadores e a cafeicultura de larga escala. “O uso de abelhas manejadas demonstra uma clara oportunidade de ganho econômico, ao mesmo tempo em que contribui para uma agricultura mais sustentável e eficiente”, afirmou.

Com base nos dados do estudo, os pesquisadores calcularam que, se todos os cafeicultores brasileiros adotassem a tecnologia de polinização assistida, a produção de café no País poderia ser transformada. Considerando os resultados da pesquisa e os valores atuais estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a produção cafeeira em 2024, haveria um aumento de 16,5% na produtividade com a presença das abelhas, o que representaria 6,5 milhões de sacas adicionais, elevando a produção total para 46,1 milhões de sacas.

Embrapa concluiu que a polinização assistida é uma técnica essencial para o café, particularmente, porque pode auxiliar na mitigação dos problemas gerados pelas imprevisibilidades climáticas, seja financeiro, como de sustentabilidade ambiental.

Produtor garante eficácia

O produtor rural Gustavo José Facanali, da Facanali Cafés, cultiva 120 hectares em São Paulo e no sul de Minas e inicialmente duvidava da eficácia da técnica, uma vez que a flor do café se autofecunda em mais de 80%.

Contudo, ao participar de um experimento, os resultados o surpreenderam. “Nas áreas onde as abelhas foram introduzidas, a produtividade aumentou 17%, de 110 para 128 sacas por hectare. Com o preço atual do café, isso representa um ganho de R$ 27 mil por hectare”, detalhou Facanali.

Na propriedade, foram utilizadas abelhas-sem-ferrão da espécie Mandaguari, introduzidas sete dias antes da floração e mantidas na lavoura por 21 dias. “Durante esse período, não fizemos intervenções na área, o que facilitou o manejo”, conta.

Além do aumento na quantidade, a pontuação da bebida subiu de 78-80 para 82 pontos. “Estamos vivendo um clima instável, que tem gerado perdas na produtividade. A polinização assistida pode ser um contraponto a esses desafios, ajudando a manter a rentabilidade com sustentabilidade”, argumentou.

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