Amostras de materiais genéticos são preservadas de várias maneiras para desenvolver novas variedades. Entenda como funcionam
O germoplasma é um conjunto de amostras de materiais genéticos que guardam características de espécies, sejam plantas ou animais. Esse material pode ser parte do tecido vegetal, órgãos das plantas, plantas inteiras, e DNA de animal.
O banco de café da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o maior do país, é um exemplo que ilustra a importância deste tipo de acervo: cerca de 90% do café consumido no país utiliza variedades desenvolvidas a partir do acervo no local, que pode estar em risco, com um plano do Governo do Estado de São Paulo de vender parte da propriedade.
A palavra “germoplasma” foi utilizada pela primeira vez em 1892 pelo biólogo alemão August Weismann, no livro “Keimplasma: eine theorie der vererbung” (Germoplasma: uma teoria da herança). É uma fonte de variabilidade genética que pode ser usada para melhorar plantas. Por exemplo, estudando plantas mais resistentes à seca ou a uma doença específica.
A criação do primeiro banco de sementes iniciou-se no século XX com o biólogo, botânico e geneticista russo Nikolái Vavílov, em São Petersburgo. Ele viajava o mundo atrás de sementes de cereais. Em 1930, já possuía mais de 230 mil amostras.
Quais os tipos de germoplasma?
As coleções de germoplasma se dividem em base, ativa, nuclear e de trabalho, segundo estudo da Universidade Federal do Paraná, com base nos livros “Melhoramento Genético de Plantas”, de Ronzelli Júnior, e “Melhoramento Genético”, de Faria Montalván.
A Coleção Base agrupa a variabilidade possível das espécies, incluindo parentais selvagens, cultivares, cultivares tradicionais e elites. Tem a função de conservar o germoplasma a longo prazo e prevenir contra possíveis perdas. Não é usado para distribuição ou intercâmbio. As coleções base são utilizadas para a preservação de sementes ou plantas adequadamente armazenadas. São mantidas por instituições nacionais ou internacionais, como a Embrapa e o próprio IAC.
A Coleção Ativa faz conservação a curto e médio prazo, para gestão e distribuição. Nestes locais são mantidas amostras oriundas de coleções base, dedicando-se a avaliação, documentação e intercâmbio de germoplasma. A Embrapa Soja, em Londrina (PR), por exemplo, possui um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de soja.
A Coleção Nuclear reúne a maior variabilidade genética de uma espécie no menor número possível de amostras. Os acessos duplicados são eliminados, diminuindo o número de amostras similares. Visa facilitar a gestão e fomentar a utilização de germoplasma.
A Coleção de Trabalho ou do Melhorista fornece material para o cientista ou para instituições de pesquisa que fazem melhoramento. As sementes são conservadas a curto prazo. A coleção é sempre de tamanho limitado e geralmente composta por germoplasma elite.
Quais os tipos de banco de germoplasma?
Conforme o tipo de amostra, os bancos de germoplasma podem ser divididos em: bancos de sementes, bancos de campo, bancos in vitro e bancos in situ.
Os Bancos de Sementes conservam sementes em condições controladas de temperatura e umidade. Um exemplo de banco de semente é o de milho da Embrapa Milho e Sorgo em Sete Lagoas (MG).
Os Bancos de Campo conservam espécies com sementes resistentes ou de propagação vegetativa (café, citrus, cacau, mandioca, cana-de-açúcar). Um exemplo de Banco de Campo é o Banco Ativo de Germoplasma de Citros (BAG – Citrus) do Centro de Citricultura do IAC, em Cordeirópolis (SP).
As sementes de café não podem ser mantidas em câmaras frias. Elas perdem o vigor em um ano. Portanto, a única maneira de preservar a genética é plantando, por isso o banco do IAC é uma lavoura. Com ele, os pesquisadores desenvolveram cultivares resistentes à ferrugem e, mais recentemente, ao bicho mineiro. Outros estudos apontam que há também variabilidade genética para tolerância à seca e ao calor, características fundamentais para enfrentamento dos efeitos causados pela emergência climática, que já estão acontecendo no Brasil.
Os Bancos in Vitro são coleções de germoplasma mantidos em laboratório em condições que reduzam o crescimento das amostras. A conservação é feita por meio de tecidos das plantas. A Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA), possui um banco in vitro de mandioca.
Os Bancos in Situ são coleções de germoplasma conservadas no local de origem. Esses bancos são constituídos de reservas genéticas ou conservação de ecossistemas.
Onde fica o maior banco de germoplasma do mundo?
O mais importante banco de germoplasma do mundo fica na Noruega, e se chama Svalbard Global Seed Vault. Ele consegue armazenar mais de 4 milhões de sementes. O bunker fica localizado em uma região remota próxima ao Polo Norte, em um túnel de 125 metros, dentro de uma montanha.
Com proteção máxima e segurança 24 horas, o local é aberto apenas quatro vezes ao ano. Em uma dessas ocasiões, em 2014, o Brasil enviou diferentes tipos de amostras de feijão para serem armazenados.
A escolha do Polo Norte como sede para o Svalbard não foi por acaso. O objetivo é garantir que em caso de guerras ou desastres, em que falte energia elétrica no mundo todo, as sementes sejam refrigeradas naturalmente.