A iniciativa do Federal Reserve de elevar as taxas de juros de longo prazo dos títulos de tesouro causou turbulência nas economias menos estabilizadas ao redor do mundo, obrigando nossa vizinha Argentina a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). No Brasil, que está com as contas um pouco menos desorganizadas, mesmo a autoridade monetária afirmando que possui reservas suficientes e que poderia atuar no mercado para evitar a escalada do dólar, o cenário político conturbado causado pelas incertezas com progressivo incremento do déficit fiscal, conduzindo os investidores a apostarem contra a moeda brasileira.
De acordo com Celso Luís Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, “a desvalorização do real, em maio de 2018, acentuou o movimento dos investidores nos contratos futuros negociados na B3. Ainda que o País conte com expressiva reserva, a desconfiança por parte do mercado, fatalmente trará consequências nefastas para a economia já em situação de beirada de abismo”, afirmou.
As cotações do mercado futuro de café arábica registradas na Bolsa de Nova York contabilizadas em maio de 2018 refletem medianamente a intensidade do movimento de desvalorização cambial brasileiro.
Entre a primeira e a terceira semanas do mês, as médias das cotações futuras exibiam baixa consistente. Na posição de dezembro deste ano, por exemplo, declinaram de US$ 129,61/lbp para US$ 123,33/lbp, ou seja, declínio de 4,84% no período, percentual esse que, porém, foi parcialmente devolvido com alta sustentada nas duas semanas seguintes do mês.
A Bolsa de Londres exibiu médias semanais para as cotações futuras de robusta muito próximas às registradas para o arábica em Nova York, ou seja, queda nas cotações médias entre a primeira e a terceira semanas do mês e incremento na quarta. Na última semana do mês, o robusta voltou a cair, destoando do arábica que se manteve em ligeira alta.
Na região de Franca, principal cinturão produtor de arábica do Estado de São Paulo, os cafeicultores receberam, na média do mês de maio, R$ 445,14/sc pelo tipo 6, bebida dura. Comparando-se esse preço com a média da cotação futura em segunda posição (quinta semana de setembro) de US$ 123,94/lbp, após efetuar as devidas conversões e ajustes, obtêm-se uma vantagem de 5% frente à venda no mercado físico, o que, em tempos de declínio da Selic e baixo retorno para as aplicações financeiras, pode ser um atrativo relevante para aumentar o número de operações contratadas.
A sinalização de que o mercado não deve encontrar constrangimentos no fluxo de suprimento é atestada pela prevalência da posição vendida entre os fundos e grandes investidores. “Em junho inicia-se o inverno no Hemisfério Sul, caso o rigor do inverno se mantenha nos mesmos moldes dos anos anteriores, uma reação para as cotações somente deve ser esperada a partir de outubro, quando começam a se formar as expectativas para a próxima safra”, concluiu o pesquisador.
Fonte: Último Instante via CNC/CCCMG