Forrageiras tropicais: a importância do melhoramento genético nos futuros sistemas leiteiros

Entre os grandes produtores mundiais de leite haverá uma retração do rebanho leiteiro nos próximos anos, segundo o World Markets and Trade, USDA. Mesmo excluindo o Brasil, mas o clima continuar a piorar nos principais países produtores de leite, a oferta mundial pode ficar comprometida. Se essas previsões se confirmarem, os ganhos de produtividade serão decisivos para que a produção se expanda e traz oportunidade para que o Brasil se insira definitivamente como exportador no mercado internacional de lácteos.

Algumas tecnologias são capazes de atuar pontualmente na produtividade de determinado fator. Por exemplo, a mecanização é capaz de elevar diretamente a produtividade da mão de obra; o manejo do pasto (fertilização, irrigação e gramíneas mais produtivas) incrementa a produtividade da terra; a genética e a nutrição aumentam a produtividade da vaca. Contudo, quando o assunto é pastagem, a sua utilização com maior eficiência para alcançar altas produtividades deve estar alicerçada no uso de forrageiras que apresentem expressiva capacidade de suporte, bom valor nutritivo e adaptadas aos biomas nacionais. Lógico que para isso será necessário mudar paradigmas sobre forrageiras tropicais e criar um novo portfólio de pesquisa embasado em espécies que detenham estas qualidades, onde geneticistas e nutricionistas estariam afinados e trabalhando juntos.

No entanto, as tecnologias não atuam isoladamente, se complementam e potencializam seu efeito de forma sinérgica podendo gerar impacto significativo na eficiência técnica e econômica do sistema produtivo. Um exemplo típico é o melhoramento de forrageiras tropicais, que não atendem à diversidade edafoclimática do país. Estima-se que a produção de leite esteja presente em 554 das 558 microrregiões geográficas levantadas pelo IBGE. É uma atividade heterogênea em escala de produção e padrão tecnológico de exploração, indicando a necessidade de que alguns conceitos sobre sistemas futuros de produção de leite de forma competitiva e sustentável sejam repensados.

A introdução de novas espécies forrageiras que respondam ao uso de tecnologias tem sido um fator preponderante para que os sistemas a pasto tenham sucesso.

A escolha correta da espécie adaptada às particularidades climáticas locais constitui ponto central para o sucesso da exploração. Dessa forma, garante-se a persistência da pastagem, aspecto de grande importância para se garantir satisfatório desempenho animal ao longo do tempo. O ajuste do manejo da pastagem requer conhecimentos prévios sobre os fatores que afetam a produção de forragem e, por consequência, a produção por área. Portanto, na utilização das pastagens, o conhecimento das características morfológicas e fisiológicas das plantas é essencial para se estabelecerem procedimentos adequados de manejo e, nesse contexto, é importante ressaltar que existem grandes diferenças entre as espécies forrageiras. Por essa razão, as bases para programas de melhoramento de forrageiras são fundamentais e é essencial que os princípios de manejo sejam conhecidos e aplicados para que as pastagens possam se manter produtivas e persistentes.

Não se pode pensar em sistemas futuros sem a participação expressiva de forrageiras com as características de alta concentração de nutrientes, fibra equilibrada e amido ajustado, de forma a ter elevada eficiência nutricional e admitir menores gastos com alimentos concentrados. A concentração de energia da dieta e a qualidade da fibra do alimento volumoso são pontos fundamentais para se produzir leite a pasto com eficiência. O que a pesquisa procura na verdade é substituir os concentrados convencionais a base de milho e soja, demandados como commodities agrícolas e na alimentação de suínos e aves, por alternativas eficientes em produtividade e rentabilidade.

A maior parte das áreas de pastagens cultivadas no Brasil são com as espécies Brachiaria brizantha e Panicum maximum, que juntas representam mais de 90% das pastagens tropicais brasileiras. Contudo, estas forrageiras apresentam fortes restrições de cultivo em áreas sujeitas a estresses ambientais como, frio, períodos secos prolongados e solos úmidos ou encharcados. Devido a estas restrições uma significativa área que poderia ser incorporada como pastagem, não tem sido aproveitada por falta de cultivares melhoradas e adaptadas às condições ambientais adversas. Ainda mais, há restrições legais à abertura de novas áreas de pastagens, reforçando a necessidade de recuperar pastagens degradadas, bem como incorporar novas áreas que hoje estão fora da faixa de adaptação das principais forrageiras tropicais.

O capim Setária (Setaria sphacelata, Schumach), amplamente cultivado em diversas regiões do mundo pelo potencial produtivo e bom valor nutritivo ao longo do ano, aparece como alternativa forrageira para cultivo em áreas sujeitas a estresses ambientais nos diferentes biomas brasileiros, condições em que a maioria das forrageiras tropicais não é eficiente.

Há possibilidade de ser utilizado em áreas hoje consideradas marginais para a formação de pastagens, a exemplo das sujeitas ao encharcamento do solo nos biomas Amazônia e Pantanal, ou sob condições de baixas temperaturas na região Sul e nas áreas de montanha, com altitude acima de mil metros, que durante o período de inverno, estão sujeitas à ocorrência de geadas, ou ainda sob condições de seca, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, onde estão localizados os biomas Caatinga e Cerrados, caracterizados pela baixa pluviosidade ou ocorrência de períodos secos prolongados, respectivamente.

Recentemente, a Embrapa recebeu dos Estados Unidos (USDA/ARS) uma coleção de 80 acessos de Setária com o objetivo de caracterizar o germoplasma e iniciar um programa de melhoramento com esta promissora forrageira. Considerando a variabilidade genética existente no germoplasma, a excelente capacidade adaptativa a ambientes sob estresse abiótico, a Setária constitui uma importante alternativa forrageira, sendo para isso necessário selecionar populações melhoradas desse capim que apresenta propagação por semente, bom desempenho forrageiro e adaptado às condições de seca prolongada, solos úmidos e temperaturas frias. Inovar é levar ao mercado produtos e tecnologias que ainda não existem. Isso contribui para que a produção se torne mais rápida, facilitando o crescimento do setor.

Fonte: MilkPoint

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