Especialista fala sobre como as condições climáticas atuais impactam no plantio do café

José Alves Donizeti, professor e pesquisador da Universidade Federal de Lavras (Ufla), aponta que as condições climáticas adversas estão impactando até a forma de plantar café. Até quatro ou cinco anos atrás, o produtor entendia que a melhor época para plantio de novas mudas era entre setembro e outubro, mas no ano passado, com a intensa seca e as altas temperaturas, o produtor que fez o plantio neste período enfrentou problemas. O professor observou que há pelo menos 20% de mudas perdidas em Minas Gerais.

O especialista explica que dentro de um clima ideal para a cafeicultura, quando a planta passa por um período de veranico já esperado, ela suporta o excesso de calor e a falta de água, se tornando ainda mais resiste no longo prazo, mas no caso das mudas que foram plantadas entre setembro e outubro, o cenário é o oposto e o produtor precisou optar pelo replantio.

“Não tem jeito, as plantas que enfrentaram essa condição morreram e o produtor precisou de replantio. Quando a seca é muito prolongada, a planta do café sofre danos permanentes, não se desenvolve bem, não responde com a adubação e já é uma planta condicionada a produzir bem menos ou quase nada no futuro”, afirma o professor.

Com o calor, a seca e o sistema radicular pouco desenvolvido, incapaz de repor a água perdida pelas folhas, os estômatos, estruturas presentes na face abaxial (parte inferior) das folhas do café (responsáveis pela entrada de CO2 e saída de O2 e água), se fecham, interrompendo o fluxo de água no sistema solo-planta-atmosfera. Nessa nova condição, as plantas deixam de absorver água e minerais do solo, murcham, queimam e, em casos extremos, secam e morrem.

O professor destaca ainda que o produtor que escolheu fazer o plantio de forma tardia, em janeiro, acompanhado do retorno das chuvas, também pode ter se prejudicado, considerando que mais uma vez o mês foi marcado por um intenso veranico. “As mudas morreram no campo, salvo quem tinha irrigação”, comenta. Ainda assim, Donizeti destaca que as plantas que não foram substituídas e resistiram ao intenso calor, no longo prazo, se tornarão mais resistentes. “Essa planta tem condição de passar por novos episódios de seca, naturalmente ela estará mais resistente”, comenta.

“De certa forma, ao se fazer a aclimatação das mudas no viveiro dias antes do plantio, elas já passam por esse processo de ‘endurecimento’, que as condiciona às altas radiações e ciclos de calor e seca, ambiente esse que brevemente estarão expostas quando estiverem no campo”, afirma o especialista.

Para entender as condições da lavoura, Donizeti destaca que o produtor precisa estar atento às características apresentadas pela planta, observando a lavoura nas primeiras horas da manhã. “Quando ele chegar no campo é a primeira coisa que tem que observar. Se ele chegar no campo e a muda estiver murcha, por volta das 7h, já entende que aquela muda precisa ser substituída”, afirma. Destaca ainda que o produtor precisa fazer a análise pela manhã, considerando que é comum observar que nas horas mais quentes do dia cafés recém-plantados murchem suas folhas e, na manhã seguinte, recuperem a turgescência por completo e sigam normalmente o seu curso de desenvolvimento.

Falando no cenário atual da safra 2021, o professor destaca que após o estresse hídrico, as condições são mais positivas, com a recuperação do café adulto e o produtor se prepara para a colheita da safra, que deve iniciar em junho. “O processo de granação está dentro do esperado. O café adulto recuperou o ciclo e dentro das nossas perspectivas o cenário é positivo, precisamos aguardar para fazer como será a próxima etapa importante, que é a colheita”, finaliza.

As informações são do artigo publicado no Guy Carvalho.

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