Você já observou que dificilmente se passa um dia sem que seja publicado mais um artigo sobre alimentos e dietas? O que comemos influencia não apenas na saúde e concentração de nutrientes em nossos organismos, mas também está diretamente relacionado ao nosso humor e disposição ao longo do dia.
Alimentos como a alface contêm ácido fólico, que atua na síntese dos neurotransmissores como a serotonina, dopamina e noradrenalina. Estes, quando em quantidade adequada em nosso cérebro, ajudam a regular as sensações de ansiedade. Além disso, a alface também ajuda na produção de aminoácidos no nosso corpo, e muitos deles atuam nesses neurotransmissores importantes para o bem-estar emocional.
Atualmente existem mais de 70 espécies de hortaliças cultivadas com a finalidade de comercialização, e dentre estas, o grupo das folhosas têm como componentes mais expressivos a alface, repolho, couve, rúcula, espinafre, almeirão, agrião, acelga e chicória, que se destacam devido ao sabor e à coloração.
Diferentes quanto à textura, sabor e cor, elas são um convite irrecusável a uma alimentação saborosa e diversificada. Para aqueles que querem um sabor suave, as alfaces mimosa e lisa, e a couve-chinesa são a escolha ideal. O sabor picante você encontra na rúcula e no agrião. A mostarda, o almeirão e a chicória possuem sabor levemente amargo, e não poderíamos deixar de lado as hortaliças regionais, tais como a taioba e a bertalha, ou cosmopolitas como o espinafre, que têm sabores bem particulares.
Cuidados
Para o produtor, o cultivo de folhosas exige atenção, visto que a parte comercializável é juntamente às folhas, fazendo com que elas necessitem de manejo adequado para atingir alta produtividade. Nesse sentido, cuidados com o preparo do solo, como calagem, adubação e irrigação, além de prudência com o controle de pragas e doenças (que muitas vezes danificam toda a área foliar), são pontos fundamentais.
Partindo para a linha de manejo fitossanitário, várias perguntas podem surgir, como: quais são as principais pragas e doenças? Quais são os prejuízos mais observados? Quais são as formas de controle? Dentre tantas outras que acometem o produtor durante o cultivo. A grande verdade é que a resposta para todas essas perguntas é a resposta padrão de um agrônomo: “Depende”.
Depende de vários fatores, como a região onde o produtor está inserido, tipo de clima e solo, técnicas de manejo, cultivar utilizada, entre outros. Por isso acreditamos que a melhor forma de manejar o sistema é conhecê-lo. Isso inclui conhecer as peculiaridades de cada praga e doença as condições climáticas do local de cultivo e as interações entre as duas.
Dentre as pragas que mais causam prejuízos ao cultivo de hortaliças folhosas, destacam-se tripes (Thrips sp. e Frankliniella sp), pulgão (Dactynotus sonchi), mosca-branca (Bemisia tabaci), ácaro rajado (Tetranychus urticae), traça-das-crucíferas (Plutella Xylostella) e cochonilhas (Dactylopius coccus).
Tripes (Thrips sp. e Frankliniella sp)
O tripes Frankliniella occidentalis (Pergande) (Thysanoptera: Thripidae) é um inseto pequeno com 1,0 mm, de comprimento, de ampla distribuição mundial com registro em mais de 500 espécies de plantas hospedeiras.
Ele pode ser encontrado na parte inferior das folhas, onde sugam a seiva e são responsáveis por transmitirem doenças viróticas que definham as plantas e provocam redução da produtividade. Essa espécie é uma das mais importantes pragas em cultivos protegidos, principalmente de plantas hortícolas e ornamentais.
As principais estratégias de controle dessa praga baseiam-se, predominantemente, em aplicações de inseticidas. Contudo, essa prática realizada de maneira errada pode levar a sérios problemas de desenvolvimento de resistência da praga a inseticidas de diferentes grupos químicos, fato já observado em vários países.
Diante disto, uma estratégia que tem sido adotada é o uso de agentes biológicos de controle, com destaque para Orius insidiosus, que é um predador de pequenos artrópodes, tais como: tripes, ácaros, mosca-branca e pulgões. A liberação desses predadores deve ser realizada no início da infestação e são utilizados de 15.000 a 20.000 predadores por hectare.
O manejo da água também é fator importantíssimo no controle desta praga. Como o tripes é um inseto que vai aparecer em épocas mais secas, o produtor pode “molhar um pouco mais” a planta, inclusive molhar a folha, para reduzir e presença do inseto na área de cultivo.
Pulgão (Dactynotus sonchi)
Os pulgões são insetos pertencentes à família Aphididae e à ordem Hemiptera. São muito pequenos, com 2,0 – 3,0 mm de comprimento, corpo mole, antenas bem desenvolvidas e aparelho bucal tipo sugador, que sugam a seiva dos brotos, deixando as folhas engruvinhadas.
Podem também promover danos indiretos causados pela grande quantidade de “honeydew”, que corresponde a um líquido açucarado excretado pelos pulgões. Esse líquido é considerado um meio rico para o desenvolvimento de fungos que causam a chamada fumagina, que é uma película preta que fica sobre a folha, prejudicando a respiração e a fotossíntese, além de ser atrativo às formigas.
Ainda como dano indireto do pulgão, é importante falar sobre as viroses. Pelo menos cinco espécies de vírus são transmitidas por pulgões para a cultura da alface, sendo elas vírus do mosaico da alface (Lettuce mosaic virus – LMV; gênero Potyvirus, família Potyviridae), vírus-do-mosaico-do-nabo (Turnip mosaic virus – TuMV; gênero Potyvirus, família Potyviridae), vírus-do-mosaico-do-picão (Bidens mosaic virus – BiMV; classificado tentativamente no gênero Potyvirus); vírus do mosqueado da alface (Lettuce mottle virus – LeMoV; classificado tentativamente no gênero Sequivirus, família Secoviridae) e o vírus-do-mosaico-do-pepino (Cucumber mosaic virus – CMV; gênero Cucumovirus, família Bromoviridae) (Guimarães et al., 2019).
Assim como para o tripes, a principal forma de controle se baseia no uso de inseticidas. No caso do pulgão da alface, principalmente o grupo dos neonicotinoides e para o da couve neonicotinoides, piretroides e organofosforados.
[rml_read_more]Contudo, o manejo correto envolve várias práticas, desde a escolha de matérias resistentes a viroses, manejo das mudas dentro do viveiro, evitar o plantio sucessivo na mesma área e monitoramento de pulgões até o manejo da adubação, porque o ataque de pulgões na alface, por exemplo, é favorecido pelo uso excessivo de fertilizantes, especialmente os nitrogenados.
Mosca-branca (Bemisia tabaci)
A mosca-branca, Bemisia tabaci, pertencente à ordem Hemiptera e família Aleyrodidae, é um inseto fitófago que possui 1,0 mm de comprimento e pode causar injúria considerável às plantas em decorrência do seu hábito de sugar a seiva e injetar toxinas, causando deformação foliar, podendo comprometer o desenvolvimento, principalmente quando o ataque ocorre nas mudas ou nas plantas recém-transplantadas (fase inicial).
Uma das formas de reduzir o incremento populacional do inseto ao longo das sucessivas gerações que ele pode apresentar nos diferentes cultivos que o hospedam e nas espécies espontâneas é por meio do cultivo de variedades com reconhecida resistência ao seu ataque.
Ácaro rajado (Tetranychus urticae)
Dentre os ácaros fitófagos, o ácaro rajado (Tetranychus urticae Koch) é considerado praga para várias culturas economicamente importantes em todo o mundo, esse inseto de aproximadamente 0,5 mm de comprimento, quando em infestações severas, chega a ocasionar desfolha precoce da planta.
Atualmente, o manejo desses ácaros pode ser realizado com insetos predadores. Esses são ácaros fitoseídeos pertencentes ao grupo I, destacando-se o gênero Phytoseiulus, que são especialistas, alimentando-se exclusivamente de ácaros fitofagos do gênero Tetranychus.
No entanto, para que esses inimigos naturais sejam utilizados de maneira correta, a orientação e o suporte técnico são fundamentais.
Traça-das-crucíferas (Plutella Xylostella)
Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae), conhecida como traça-das-crucíferas, é uma das pragas de maior importância as culturas pertencentes à família das brássicas, devido aos sérios danos que causa às plantas, podendo ocorrer durante todo o ano. Contudo, as épocas de temperaturas elevadas e de ausência de chuvas são mais favoráveis à sua ocorrência e crescimento populacional.
O produtor precisa ficar atento ao ciclo do inseto, porque a cerca de três ou quatro dias após a oviposição, as lagartas eclodem e penetram nas folhas, iniciando sua alimentação no parênquima, onde permanecem por dois a três dias, quando então passam a se alimentar da epiderme abaxial das folhas, causando perfurações.
Além do controle químico, que deve ser criterioso, há algumas alternativas como o uso de armadilhas luminosas e/ou com feromônio para a captura de adultos, incremento de inimigos naturais, uso de inseticidas biológicos. Um destaque especial deve ser dado à nutrição equilibrada, com fornecimento adequado de molibdênio e cálcio. Além de evitar o excesso de nitrogênio, essa prática contribui para a redução do ataque das lagartas em função da parede celular da planta ficar mais rígida.
A utilização conjunta do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum e de formulações comerciais de Bacillus thuringiensis é considerada uma excelente opção no manejo da traça-das-crucíferas em brássicas. Há, no mercado, inseticidas biológicos à base de Bacillus thuringiensis, com registro para todos as culturas com ocorrência do alvo biológico o que facilita o manejo na área.
Para a traça-das-crucíferas, a aplicação desse produto é recomendada quando forem constatadas as primeiras lagartas pequenas.
Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)
Uma outra praga que merece uma atenção especial é Spodoptera frugiperda, conhecida como lagarta-do-cartucho. Esta se trata de um inseto polífago, que ataca diversas culturas economicamente importantes, sendo a principal praga da cultura do milho.
Este inseto também ataca e causa danos a culturas como o algodão, arroz, alfafa, amendoim, abóbora, batata, couve, espinafre, feijão, repolho, sorgo, trigo e tomate. Além destes hospedeiros, na literatura há relatos de 186 hospedeiros para S. frugiperda, distribuídas em 42 famílias.
Dentre estas, as mais frequentemente mencionadas foram Poaceae (35,5%), Fabaceae (11,3%), Solanaceae e Asteraceae (4,3%), Rosaceae e Chenopodiaceae com (3,7%), Brassicaceae e Cyperaceae com (3,2%).
Alguns pesquisadores relatam que essas lagartas podem migrar de cultura para cultura nas localidades, alimentando-se de folhas e brotos, podendo ocasionar danos severos, iniciando sua alimentação pela parte inferior das folhas, ocasionando furos, afetando a capacidade fotossintética e comprometendo a comercialização das folhas.
Não bastasse a quantidade de pragas com as quais o produtor precisa lidar durante o cultivo, existem ainda as doenças. Só na cultura da alface já foram relatadas mais de 75 doenças causadas por microrganismos parasitas no mundo. E, ainda, existem as doenças de caráter abióticos, chamadas distúrbios fisiológicos, que estão geralmente associadas a fatores climáticos, nutrição da planta, déficit hídrico ou até mesmo fitotoxicidade pelo uso de agroquímicos.
Autores
Mônica Bartira da Silva – Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora – UNEMAT (MT) – monica.bartira@gmail.com
Luan Fernando Ormond Sobreira Rodrigues – Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP –luanormond@gmail.com
Luiz Felipe Guedes Baldini – Engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP – felipebaldini.fb@gmail.com
Michelly Cruz de Souza – Graduanda em Agronomia – UNEMAT-MT – michellydesouzah1234@gmail.com