O painel “O movimento das origens controladas e o futuro da cadeia de valor do café”, que aconteceu no segundo dia da Semana Internacional do Café, mostrou as tendências de consumo e a maior importância que vem sendo dada às marcas sustentáveis e éticas.
Priscilla Lins, gerente de agronegócios do Sebrae-MG, aposta que esse jeito diferente de consumir é muito mais do que uma tendência. “É um movimento. Nós acreditamos que as origens controladas podem se tornar um instrumento poderoso de sustentabilidade”, diz.
Nesse contexto se inserem os cafés de origem controlada. Eles possuem uma certificação de que foram produzidos em uma região com características específicas e que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar, tornando aquele produto único. Além disso, uma região organizada também é capaz de atrair mais investimentos.
Alguns princípios devem ser observados para que uma região receba a certificação: demarcação da área, governança atuante, proteção, produção controlada, alta qualidade, rastreabilidade e impacto coletivo.
Minas Gerais, o maior Estado produtor de café do país, tem atualmente três regiões com certificado de origem: Cerrado Mineiro, Matas de Minas e Mantiqueira de Minas. Outras duas estão em estágio de estruturação, que são a Região dos Cafés Vulcânicos e a Chapada de Minas.
Para o consultor da Be Consulting, Paulo Vischi, os cafés de origem controlada trazem uma possibilidade para que o produtor se conecte com as principais tendências de consumo das novas gerações.
A grande diferenciação está em tornar o território demarcado em uma marca conhecida e respeitada. Para isso, os consumidores precisam enxergar que existe uma sustentabilidade real em torno do produto. Vischi explica que a chamada geração Z, que vem sendo denominada também de “geração honesta”, busca informações reais sobre o que estão consumindo.
Por sustentabilidade real se entende uma cadeia que remunera melhor seus produtores de café, com novos mecanismos de precificação e proteção do meio ambiente. Com isso, alinhada a ela, o consultor aponta que é necessário uma transparência radical e um impacto verificável, provando a esse novo consumidor através de dados fiéis o que a empresa está fazendo pelo planeta.
“Não é uma questão de produto. Café todo mundo tem. É uma questão de deixar de vender um produto para vender uma marca. A era do marketing já passou. As pessoas não querem comprar pelo o que você fala, mas pelo o que você faz. Marca não é o que você comunica, é o que você causa. Marca é propósito, direção de construção de impacto social e econômico”, enfatiza Vischi.
Lennart Clerkx, da Coffee Imported, completou enfatizando a importância da transparência. Para ele, o universo da produção de café ainda é pouco transparente e é algo que precisa ser mudado. Ele cita como um exemplo simples que os sites das importadoras tenham os telefones dos produtores de cafés para que os consumidores possam acessá-los por quaisquer dúvidas. “A transparência é algo inevitável, influenciará o mercado e as escolhas do consumidor. Eu tenho uma visão bastante utópica, obviamente, mas ao mesmo tempo muito realista. Precisamos ter mais ética e transparência na cadeia do café”, defende.
A diretora de sustentabilidade da Fazenda Da Terra, Isabela Pascoal, faz o alerta: sustentabilidade real dá trabalho, mas é um caminho sem volta. “A nova sustentabilidade deve ser um compromisso permanente. Mas nada disso faz sentido se você não desenvolve um mercado. Nós acreditamos desde o início que se fazíamos um café tão especial, não tinha como vendê-lo do jeito tradicional. Sustentabilidade real dá trabalho, não existe uma fórmula certa e depende de cada tamanho da sua empresa. É muito importante saber as escolhas que são feitas. O que eu posso fazer para ser sustentável dentro do meu modelo de negócios”, finaliza.