Brasil precisa de US$ 2 bilhões para impulsionar plano de recuperação de pastagens, diz estudo

Recursos seriam em capital catalítico, modalidade de financiamento a custo mais baixo que ajuda a atrair outros investidores

O governo federal planeja recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas para elevar o nível da produção agropecuária sem desmatamento. No entanto, o Ministério da Agricultura estima que são necessários US$ 120 bilhões para a conversão das pastagens. Para ampliar a obtenção de investidores, um estudo do Boston Consulting Group (BCG) indica que serão necessários US$ 2 bilhões em capital catalítico.

O capital catalítico é um tipo de investimento normalmente realizado por fundações, organizações internacionais ou bancos de fomento com condições mais “pacientes”, flexíveis, de custo menor, e com retorno esperado para médio ou longo prazo.

A análise do BCG foi desenvolvida em conjunto com o WWF-Brasil e a Iniciativa para Financiamento da Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC).

Arthur Ramos, sócio e diretor-executivo do BCG, explica que, no mercado em geral, a cada US$ 1 bilhão aportado em um projeto via capital catalítico, é possível atrair mais US$ 4 bilhões vindos da iniciativa privada.

“É um catalisador. Então, com os US$ 2 bilhões acreditamos que seria possível obter mais US$ 8 bilhões de investidores privados para o programa de recuperação de pastagens. É uma maneira de alavancar o projeto do governo”, afirma.

Segundo Ramos, o programa de recuperação de pastagens transformará terras improdutivas em áreas de férteis, o que contribui de maneira sustentável com a produção rural e leva à geração de renda. Porém, o projeto ainda não deslanchou porque o Brasil conta com um custo de capital alto, o que dificulta a atração de investidores.

“E se você baixa a taxa de juros, inviabiliza investimentos mais longos, por isso precisamos começar de alguma forma e o uso de capital catalítico seria uma alternativa”, argumenta o especialista, citando que com mais investidores o projeto reduz o custo de capital e se torna mais atrativo.

“A gente precisa ter esse modelo de capital mais paciente para trazer os demais financiadores para o jogo”, completa.

Potenciais fontes de recursos com capital catalítico seriam os bancos ou entidades internacionais de fomento, além de outros países. As empresas envolvidas nesse processo podem cumprir metas de emissões, pois a recuperação de pastagens não só contribuirá para a produção de alimentos, mas também para a redução das emissões de gases de efeito estufa, resultando em benefícios econômicos.

Na outra ponta, o tomador de crédito para recuperação das pastagens pode ser o próprio dono da terra, o produtor rural, ou bancos comerciais que ofereçam esse recurso.

Crédito tem sido pouco efetivo

O projeto de recuperação dos 40 milhões de hectares de pastagens se torna mais relevante em um cenário em que o crédito subsidiado acessado por produtores para a recuperação de pastagens degradadas no Cerrado tem sido pouco efetivo, conforme estudo do Climate Policy Initiative/PUC-Rio (CPI/PUC-Rio) publicado em reportagem do Valor do mês passado.

Até seis anos após a tomada dos recursos pela linha específica do programa ABC do Plano Safra, 72,5% das áreas financiadas permanecem inalteradas, sem melhoria significativa na qualidade do pasto nem conversão para lavouras, mostra o levantamento.

Entre 2016 e 2018, foram financiados R$ 976,6 milhões para a recuperação de 358,3 mil hectares de pastos degradados no Cerrado. Um ano antes dos financiamentos, 72,3% dessa área era composta por pastagem (259,1 mil hectares), dos quais 71,5% (185,1 mil hectares) possuíam indícios de degradação com médio e baixo vigor.

Após o cruzamento das imagens, os pesquisadores da PUC estimaram que apenas 3,8% da área total financiada no bioma foi recuperada até 2022, cerca de 13,7 mil hectares. Nesses locais houve melhoria do grau vegetativo das pastagens.

Quando o estudo do CPI/PUC-Rio foi divulgado pela reportagem, o Ministério da Agricultura negou que a efetividade do crédito direcionado à recuperação de pastagens seja baixa. A pasta disse que 26,8 milhões de hectares degradados foram recuperados entre 2010 e 2020, quase o dobro da meta do Plano ABC para o período.

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