Em debate no Congresso da Abag, especialistas falaram do desafio da inclusão de trabalhadores que serão alijados das cadeias produtivas num futuro próximo
A inevitável incorporação de tecnologias que devem intensificar a produtividade no campo vai trazer desafios para o agronegócio brasileiro. Se por um lado as inovações poderão dar mais mais competitividade e colocar a produção brasileira em posição de maior destaque, na outra ponta a tendência de substituição de mão de obra traz a necessidade das empresas prepararem os trabalhadores no presente e no futuro.
A discussão surgiu durante um debate no congresso da Abag, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio e pela B3 nesta segunda-feira (5/8) em São Paulo. A mesa reuniu especialistas das áreas de sustentabilidade, infraestrutura, conectividade e inovação.
“Ao mesmo tempo está gerando milhões de oportunidades, a transformação digital vai eliminar milhões de empregos no agro. E nós não podemos pegar uma pessoa eliminada hoje e colocar numa nova função amanhã”, disse o presidente da Great Place to Work Brasil, Rui Shiozawa.
Segundo o executivo, o agronegócio precisa trabalhar em conjunto com as empresas para a capacitação da mão de obra. “Nós já estamos trabalhando com empresas para formar pessoas nos próximos 4 anos”.
O professor da área de infraestrutura da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende disse que as inovações disruptivas do agronegócio são inescapáveis. “Hoje já há armazéns controlados por drones, tratores e colheitadeiras com tecnologia embarcada que dependem cada vez menos dos seres humanos. Como vamos qualificar essa massa que ficará fora do mercado?”, perguntou.
A resposta, para o presidente da Abag, Marcelo Britto, pode estar no cooperativismo, apontado por ele como saída para a inclusão de produtores pequenos e médios que não terão condição de acompanhar toda a transferência tecnológica.
Preocupação atual
Neste ano, a Great Place to Work fez o primeiro ranking das melhores empresas do agro. O trabalho, segundo Rui, reflete que o tema da gestão de pessoas está se tornando cada vez mais presente.
“Temos que ser muito bons em finanças, em análise do mercado de clientes, e em processos de tecnologia. Mas o quarto pilar, que são as pessoas, infelizmente é tratado com menos relevância.
De acordo com o especialista, as melhores empresas para trabalhar têm 85% do quadro de funcionários com orgulho do que fazem. No Brasil, a média é de 60%. “E todas elas pagam 100% dos recursos. Ou seja, estamos desperdiçando 40% dos talentos. Estou falando de produtividade, de resultado hoje”, disse a uma plateia formada por produtores, consultores e gestores do agro.
Para Rui, é necessário que o empresário verifique o tempo dedicado às pessoas. “Se for curto, pode ter certeza que está desperdiçando um recurso que já está dentro da sua casa”.
Fonte: Globo Rural