O ácaro da leprose (Brevipalpus phoenicis) é considerado uma praga-chave para a citricultura brasileira, por atacar frequentemente as laranjeiras doces durante todo o ano e causar grandes prejuízos, quando não controlado adequadamente.
Além dos danos diretos às plantas, ele é vetor do vírus “Citrus Leprosis Virus” (CiLV), agente causal da leprose, considerada uma das mais graves doenças da citricultura brasileira devido às perdas de produção e redução da vida útil das árvores.
O ácaro não nasce contaminado, mas adquire o vírus da leprose ao se alimentar de um tecido contaminado e, uma vez infectado, é capaz de transmitir o vírus por toda a sua vida. A virose não é sistêmica, ficando restrita ao local da alimentação, e as fêmeas não transmitem o vírus aos seus descendentes.
Danos
O ácaro provoca lesões nos frutos, levando a perdas consideráveis nos pomares atacados. Os sintomas decorrentes da alimentação do ácaro não são facilmente reconhecidos, porque seu nível populacional é baixo na cultura.
A incidência severa da leprose pode tornar um pomar economicamente inviável, devido à baixa produtividade e redução no tamanho dos frutos. A doença afeta frutos, ramos e folhas e provoca manchas marrons circundadas por um halo amarelado.
Estes sintomas se manifestam duas semanas após o ataque do ácaro e as folhas caem após 12 semanas. Dependendo da severidade, pode causar redução de 30 a 100% na produção do ano, pela depreciação de frutos para mercado e queda prematura dos frutos e folhas.
Além disso, pode haver queda na produção dos próximos anos, devido à seca de ramos e diminuição da vida útil da planta.
Época do ataque
O ácaro da leprose infesta os pomares durante todo o ano, mas sua ocorrência é maior em períodos de seca e de crescimento dos frutos – quando sua reprodução é favorecida. Longos períodos de seca, que induzem o estresse hídrico nas plantas, aumentam a população da praga e a consequente a disseminação da doença.
A partir de junho, a população da praga se eleva, com pico em setembro e outubro, diminuindo com as chuvas de verão e com a colheita dos frutos.
Nos últimos cinco anos, a doença tem resultado em maiores prejuízos aos citricultores do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais pelo aumento na participação da queda prematura de frutos.
Na safra de 2016/17, a taxa de queda por leprose foi de 0,25%, correspondendo a 700 mil caixas de 40,8 kg. Na safra de 2020/2021, a leprose derrubou precocemente 5,8 milhões de caixas (taxa de queda de 1,7%) (Fundecitrus, 2021).
Além disso, os produtores têm relatado dificuldades de controle do ácaro da leprose, com redução do período de controle obtido após a aplicação do acaricida, resultando em um maior número de aplicações por safra.
Fique de olho
O monitoramento da população do ácaro da leprose é essencial para embasar a tomada de ação de controle. A área do pomar deve ser subdividida em talhões identificados de acordo com a variedade, idade e uniformidade das plantas.
O inspetor deve percorrer todo o talhão seguindo um caminhamento em zigue-zague ou sistemático. Em cada inspeção devem ser vistoriados de três a cinco frutos por planta em pelo menos 1% das plantas do pomar. Na ausência de frutos, é recomendado inspecionar os ramos mais internos em seus primeiros 30 centímetros.
Na amostragem, deve-se dar preferência aos frutos mais internos, maduros, temporões ou com sintomas de verrugose. Para visualização e reconhecimento do ácaro da leprose, o inspetor deve observar toda a superfície do fruto com auxílio de uma lupa com lente de dez aumentos.
A aplicação do acaricida vai depender do nível de ação praticado na propriedade, com variação de 3,0 a 15% de frutos com a presença do ácaro.
É comum observar intervalos entre inspeções acima de 15 dias, o que não é recomendado. Também se verifica redução no tamanho da amostra por talhão, com menos de 1% das plantas amostradas e com a observação de menos frutos e/ou ramos por planta.
Tudo isso leva a maiores erros da estimativa da densidade populacional do ácaro e a uma detecção, muitas vezes, bem acima do nível de ação estipulado.
Hora de agir
Uma vez que o nível de ação for detectado no talhão, a aplicação do acaricida deve ser feita imediatamente e de modo a ter uma boa deposição e cobertura acima de 50% sobre os frutos, ramos e folhas localizados no interior da planta e por toda sua copa.
As misturas de produtos no tanque de pulverização devem ser evitadas, pois algumas delas podem afetar a eficácia dos acaricidas. Ademais, deve-se evitar o uso do mesmo princípio ativo e classe química nas pulverizações no período de um ano, para que não haja seleção de ácaros resistentes ao acaricida.
Critérios
A escolha dos acaricidas deve respeitar a lista PIC (Produção Integrada de Citros), as condições climáticas e o monitoramento de populações resistentes aos acaricidas. Também deve considerar o modo de ação dos acaricidas (ovicida, larvicida ou adulticida) e a sua seletividade aos inimigos naturais, como os ácaros predadores.
Apesar da pulverização das plantas com acaricidas seletivos e com mecanismos de ação distintos ser a principal prática adotada pelos citricultores para o controle do ácaro da leprose, e consequentemente da doença, a eficácia depende da adoção conjunta de medidas de controle da população do ácaro e eliminação das fontes de inóculo do vírus.
Recomendações
Para reduzir a população de ácaros, além das pulverizações com acaricidas, as medidas recomendadas são:
- Aquisição de mudas sadias livres de ácaros e de vírus;
- Poda de limpeza dos ramos afetados durante o inverno;
- Erradicação das plantas quando as lesões atingem toda a copa;
- Desinfestação de materiais de colheita para evitar a introdução do ácaro em áreas livres;
- Utilização de quebra-ventos para reduzir a entrada e disseminação do ácaro;
- Colheita prioritária de talhões sem o ácaro e a doença antes dos talhões com histórico de contaminação;
- Colheita antecipada e retirada de todos os frutos da planta na ocasião da colheita, sem deixar frutos remanescentes;
- Retirada de frutos temporões, com sintomas ou caídos no solo;
- Controle da verrugose e do ataque do minador do citros, uma vez que as lesões servem de abrigo ao ácaro;
- E eliminação de plantas daninhas hospedeiras.
MIP
Uma das estratégias do manejo integrado de pragas para amenizar o problema relativo à leprose é a adoção de medidas que preservem a fauna predadora, bastante numerosa na cultura dos citros.
Dentre os predadores comuns em citros na região sudeste do Brasil, destacam-se os ácaros da família Phytoseiidae. Ressalta-se que, em decorrência dos danos causados pela doença, há um aumento dos custos de produção para os produtores devido ao controle da leprose e do vetor, da recuperação de árvores debilitadas e da renovação prematura do pomar.