Procura por itens do agro aumenta em plataformas digitais e desperta atenção de grandes investidores
Trator, colheitadeira, pulverizador, carregadores, enfardadeiras, caminhões e até relíquias do campo. Isso tudo pode ser consultado em detalhes sem sair da fazenda ou sem precisar ir a feiras agropecuárias, concessionárias ou revendas. As negociações envolvendo produtos do agro, incluindo insumos como sementes, fertilizantes e peças para equipamentos, estão ganhando espaço no mundo virtual, despertando a atenção de grandes investidores e fazendo nascer negócios que prometem alto faturamento.
Um deles, que começou na Argentina e acaba de desembarcar no Brasil, já recebeu mais de US$ 10 milhões de fundos de investimentos e agora está numa segunda rodada de captação de recursos para levantar outros US$ 20 milhões. O objetivo da Agrofy é globalizar o negócio de market place (como são chamadas as plataformas que reúnem diversas categorias de produtos e serviços numa mesma página na internet) para o agronegócio. Em seu país de origem, a empresa, criada em 2015, tem 65 mil produtos anunciados de 6.200 companhias.
Os itens são divididos em 11 categorias, de máquinas e implementos a veículos, insumos, produtos financeiros e até mão de obra especializada. A receita do negócio vem dos anunciantes, que pagam uma espécie de assinatura para ter sua loja online e produtos expostos na plataforma.
“Estamos trabalhando para lançar novas categorias relevantes para o agro e desenvolvendo uma ferramenta para ter um meio próprio de pagamento online”, diz Rafael Sant’Anna, responsável pela operação da companhia no Brasil.
Se na Argentina a empresa já alcança bons resultados, em território brasileiro as expectativas dos gestores são ainda mais animadoras. “Somos líderes na Argentina, onde o agronegócio tem um peso muito menor no PIB que no Brasil. Aqui, temos 3,8 milhões de produtores e uma participação no PIB de 26%, com projeções de crescimento”, afirma Rafael.
Atualmente, não há estatísticas de quanto o setor produtivo movimenta em negócios online, mas o potencial é enorme, aposta Rafael.
A consultoria Nielsen estima que, em 2019, o comércio eletrônico no país vai atingir a cifra de R$ 61,2 bilhões. Apesar do alto valor, o e-commerce, como é chamado, só representa 2,5% de todo o valor comercializado.
“É uma questão de tempo. Estamos de olho na nova geração que tomará decisões no campo”, diz o gestor da Agrofy no Brasil sobre o futuro.
O aumento da procura por máquinas agrícolas na internet levou a OLX, um dos maiores market places em operação no Brasil, a segmentar sua plataforma. No final de 2017, a palavra “trator” estava entre as mais buscadas, conta Bruno Valle, diretor de estratégia e planejamento da OLX Brasil. Foi a deixa para ir atrás desse mercado.
“Combinamos nosso foco na necessidade do usuário com a avaliação constante dos mercados e vimos que valeria a pena fazer esse investimento para customizar o segmento agro.”
Do primeiro para o segundo semestre de 2018, as vendas na categoria tratores e máquinas agrícolas aumentaram 35,7%. Entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, houve um aumento de 29,3%, com 73% dos anúncios recebendo contato em até 24 horas depois da divulgação.
“A ideia é continuar investindo no agro, com a customização e abordagem que a gente precisar”, comenta Bruno, sem detalhar metas.
Um dos destaques da plataforma neste início de ano tem sido as colhedoras de algodão, movimento que a OLX associa ao crescimento da produção na safra atual. Segundo a empresa, as ofertas desse tipo de equipamento aumentaram 33,55% entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019.
Segundo Bruno Valle, a procura pelos equipamentos agrícolas na plataforma costuma acompanhar o calendário das diversas culturas no Brasil. Mas, de um modo geral, os tratores são os itens mais buscados, além de veículos seminovos anunciados por produtores ou até mesmo revendas fazendo seu “showroom” virtual.
Além dos mais atuais e modernos maquinários e equipamentos, há verdadeiras relíquias anunciadas. Marcelo Miguel, de Santana do Parnaíba (SP), por exemplo, quer R$ 27 mil em um trator Ford 8N ano 1952. O modelo foi totalmente restaurado, inclusive com peças originais trazidas dos Estados Unidos. Foram dois anos de trabalho e R$ 25 mil de investimento.
“No passado, meu pai reformava tratores. Eu gostava, mas ficava doido quando ele vendia. Um tempo atrás, resolvi comprar um para restaurar. Esse estava em uma oficina, descaracterizado, mas íntegro”, conta Marcelo, lembrando que ele mesmo chegou a procurar tratores antigos na internet, mas não encontrou.
Ele não tem propriedade rural. Costuma dar passeios com o 8N no condomínio onde mora e resolveu colocar à venda. Há quem entre em contato só para elogiar e há quem se interessou pela raridade. “Recebi contatos do sul do Brasil e de Goiás. Vou deixar anunciado até vender.
Fonte: Globo Rural