Por: Lua Clara Pereira Ferreira – Engenheira Agrônoma
Nós Engenheiros Agrônomos temos a obrigação de cuidar da terra!
Somos responsáveis por trazer o alimento para a mesa de milhões de pessoas. Precisamos trata-la como nossa mãe, afinal, é ela quem nos dá o alimento.
Estamos tão habituados com o manejo convencional, seguindo calendários agrícolas, com pulverizações e adubações já definidas, mesmo sem o manifestar da praga ou doença, que não nos damos conta, que aquilo que colocarmos no solo, ele nos devolverá, se envenenarmos, ele nos envenenará, afinal, somos o que comemos!
Quando falamos em sustentável, logo assimilamos com orgânico, onde muitos produtores não têm condição de seguir este manejo.
Mas é possível ser sustentável no manejo convencional.
Existem algumas técnicas, que nos permite isso: uma delas é o MIP (Manejo Integrado de Pragas) onde, de acordo com a manifestação da praga ou doença é determinado os níveis de: equilíbrio, controle e dano econômico, avaliando se é necessária a pulverização. Dessa forma, evitamos muitas pulverizações desnecessárias e o principal: gastos desnecessários também!
Abelhas
Existe Uma grande preocupação que são as abelhas.
Elas são polinizadoras de grandes culturas como: canola, abóbora, girassol, melão, goiaba, maracujá entre tantas outras, porém são bastante sensíveis aos inseticidas usados na agricultura, tiametoxam, metidationa e abamectina, por exemplo. (CARVALHO, et al, 2009, p. 603)
Então, por que não usarmos inseticidas seletivos? Hoje com as grandes tecnologias, temos muito defensivos, que não são tão nocivos ao meio ambiente.
Um exemplo seria o inseticida a base de clorantraniliprole, que apresenta baixa toxicidade em abelhas polinizadoras. (CARMO, et al, p.148).
Outro importante passo para a preservação das abelhas é verificar o momento da pulverização. Estes polinizadores são menos ativos a noite.
Controle Biológico
Claro que não poderia deixar de falar do controle biológico.
Este manejo é a melhor solução para quem quer ficar de bem com o meio ambiente.
A premissa básica do controle biológico é controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitóides, e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias. (EMBRAPA)
Inimigos Naturais
Um clássico dos inimigos naturais são algumas espécies de vespas para o controle do bicho mineiro. Cerca de dezoito espécies de vespas parasitas e crisopídeos como o Bicho-lixeiro (Chrysoperla externa), estão ligados ao controle biológico do bicho-mineiro. Em algumas regiões até 30% das larvas e pupas desta praga podem ser infestadas por parasitoides. Em Minas Gerais, por exemplo, o controle por vespas sociais pode chegar a 70% e há relatos de até 90% de controle na região da Zona da Mata. Estes dados confirmam a importância da inserção do controle biológico no manejo integrado de pragas (MIP), principalmente em regiões problemáticas. (Moscardini, 2018)
Figura 1 – Polistes versicolor: predadora do bicho-mineiro
Beauveria bassiana
Outro controle muito eficaz é este fungo entomopatógeno, a Beauveria bassiana, no controle da Broca do Cafeeiro, já existem muitos estudos comprovando a eficiência deste fungo nesta praga chave do cafeeiro.
A infecção ocorre via tegumento, onde a B. bassiana germina em um período de 12 a 18 horas, dependendo de fatores nutricionais. Decorridos 72 horas de inoculação, o inseto apresenta-se totalmente colonizado, ocasionando a morte do inseto, devido à falta de nutrientes e ao acumulo de substâncias toxicas liberadas pelo fungo. Sobre o inseto morto ocorre a formação de conidióforos com uma grande quantidade de conídios, que após 7 a 10 dias são liberados no ambiente podendo contaminar novos indivíduos, reiniciando o ciclo do fungo (Alves, 1998).
A aplicação da B. bassiana é recomendada em temperaturas entre 25° a 30° C e umidade acima de 65%, preferencialmente em dias nublados. O intervalo de aplicação e a dosagem podem variar de acordo com a infestação da broca, sendo o monitoramento fundamental para a tomada de decisão.
Figura 2 – Broca do Café colonizada pelo fungo
Referências
Carvalho, S.M et al. Toxicidade de acaricidas/inseticidas empregados na citricultura para a abelha africanizada apis mellifera l., 1758 (hymenoptera: apidae). 2009. Disponível em: http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/docs/arq/v76_4/carvalho.pdf. Acesso em: 02 fev. 2020
Carmo, D.G et al. Toxicidade de inseticidas comerciais, por ação de contato, para Apis melífera. 2014.
Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1083971/1/CNPTID44241.pdf
Acesso em: 03 fev. 2020
ALVES, S.B. Fungos Entomopatogênicos In: ALVES, S.B. Ed. Controle Microbiano de Insetos/ Piracicaba: FEALQ, p. 289-381. 1998.