Pesquisa mostra que o plantio direto, feito sobre a palhada da cultura anterior, é capaz de aumentar produtividade da mandioca em até 50%, além de elevar a qualidade do solo. Também chamado de plantio mínimo ou plantio reduzido, o sistema de plantio direto (SPD) é utilizado em grandes culturas de grãos, como milho, soja e trigo.
No Centro-Sul do Brasil, região de grande importância na produção brasileira de mandioca e que concentra 80% das indústrias brasileiras produtoras de fécula, o SPD tem sido testado com sucesso na cultura. Conhecida pela sua versatilidade e rusticidade, a mandioca também tem como característica esgotar rapidamente o solo quando não bem manejado, por isso, o SPD foi testado como alternativa para resolver o problema.
O trabalho foi desenvolvido por equipes da Embrapa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), que observaram que a adoção de sistemas conservacionistas de produção poderia trazer vários benefícios para toda a cadeia produtiva, desde a redução de cerca de 90% das perdas de solo, diminuição de custos de preparo da área até a melhoria da qualidade do solo e da produtividade.
Entre os resultados alcançados, foi lançada uma variedade adequada ao plantio direto, a BRS CS01, que está em franca expansão na região, e outra cultivar está prestes a ser introduzida no mercado.
O plantio direto com mandioca
Basicamente, o plantio direto é um sistema que envolve o não revolvimento do solo, como acontece no sistema convencional. Ou seja, a implantação da cultura é realizada diretamente sobre uma palhada dessecada. “Não revolvendo o solo, existe maior preservação da matéria orgânica, diminui-se o risco de erosão, têm-se custos menores e a cultura fica em um ambiente melhor, com temperatura mais amena e maior manutenção da umidade”, explica o pesquisador Marco Rangel, lotado no campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura na Embrapa Soja, em Londrina (PR). O cientista frisa que essas vantagens têm potencial para agregar valor aos produtos processados, uma vez que os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à sustentabilidade do meio ambiente.
O desafio da adaptação
A ideia de adaptar o SPD à cultura surgiu porque a maior parte da mandioca do Centro-Sul está plantada sobre um solo de arenito, bastante suscetível à erosão. “O que se faz comumente aqui é ‘tombar’ a pastagem e fazer várias operações de preparação do solo, de modo que ele fica muito mais sujeito à erosão, o que não podemos aceitar mais. A mandioca entrou na região para promover a reforma da pastagem”, destaca Rangel.
O solo chamado Arenito do Oeste é ainda mais suscetível à erosão por causa da falta de estrutura e da chuva comum na região, salienta o engenheiro-agrônomo Emerson Fey, professor da Unioeste no campus de Marechal Cândido Rondon e parceiro de das pesquisas da Embrapa no Centro-Sul. “A grande vantagem do plantio direto é a proteção do solo. O impacto da gota de chuva é menor e não se perde água”, explica.
Segundo Rangel, nas regiões onde existe rotação de culturas anuais foi mais fácil adaptar o plantio direto. “Isso aconteceu porque já existia um preparo anterior do solo. Porém, nas regiões de pastagem, com o solo já empobrecido, tivemos de ajustar o sistema para que a mandioca viesse a produzir da mesma forma que no convencional. Com os parceiros, desenvolvemos as variedades e uma máquina plantadora e chegamos a um conjunto de fatores que tornou possível o uso do plantio direto”, informa o pesquisador da Embrapa.
Nos preparos conservacionistas mantém-se pelo menos 30% do solo coberto com palha após o plantio utilizando equipamentos como escarificadores ou subsoladores que rompem o solo sem inverter as camadas, como ocorre com os arados de aivecas, de discos e grades.
“Normalmente, o produtor já usa a plantadora específica para mandioca, que deposita as manivas no sulco de plantio em condições adequadas para a brotação e o desenvolvimento das plantas. Com algumas adaptações nessa plantadora, com o sulcador e o disco para cortar a palhada, o plantio direto já fica viabilizado. Conforme a escala, o produtor também pode fazer manualmente”, assegura o pesquisador.
Cuidados e adaptações do plantio direto
A depender do tipo de palha, da região e do clima, fazem-se alguns ajustes. “Logicamente, é preciso um certo tempo para se ganhar estabilidade, verificar a dinâmica de nutrientes, a resposta das raízes etc. A produtividade não vai aumentar no primeiro ano e o produtor tem de estar ciente que podem ser necessárias adaptações. O excesso de palhada de braquiária na linha de plantio, por exemplo, pode atrapalhar o início da produção. A solução seria, então, remover um pouco dessa palhada”, detalha.