Diante de incêndios em lavoura de cana e milho próximas, alguns produtores adiantam colheita do cereal. Mas maior parte da produção do Estado não foi atingida pelo fogo
Em Ipaussu, próximo a Santa Cruz do Rio Pardo (SP), Edjelton Martins passou a madrugada colhendo, acelerado, o trigo que plantou em 22 de abril em razão do medo de incêndios. A região, que tem tradição canavieira, também está sofrendo com as queimadas e a ausência de chuva há mais de 100 dias e produtores de cana-de-açúcar e de milho tiveram suas lavouras impactadas no final de agosto.
Diante do fogo no campo dos vizinhos, Edjelton conta que preferiu não arriscar esperar o ponto de maturação dos cerca de 80 hectares de trigo e poder perdê-lo entre as chamas, por isso decidiu colher cerca de dez dias antes do calendário previsto. Ele já sabe que vai perder no valor da venda, pois a qualidade da commodity não será a mesma.
“Quando pega fogo, fica complicado. Este ano ainda não, mas ano passado eu tive queimada nas áreas por causa da seca. Então, desta vez eu dessequei, nunca tinha feito essa intervenção antes, e adiantei a colheita para não queimar”, lamenta.
Felizmente para a indústria de trigo do Estado, o produtor Edjeton fica em uma região de pouco cultivo do cereal. O grosso dos 120 mil hectares semeados fica no Sudoeste de São Paulo, na região que incluiu Itapetininga, Itararé e Itaberaba, onde não há indicações de incêndio.
“Ainda bem que não fogo nesta região, porque somos circundados pelas plantações de eucalipto da Suzano e Votorantim. Seria um desastre maior ainda. Além disso, o trigo já está em forma de palha, pronto para colher, completamente seco. Se chegar fogo numa lavoura assim, seria um caos”, diz o presidente da Câmara Setorial de Trigo do Estado de São Paulo, Nelson Montagna.
Tanto o produtor quanto o representante da indústria dizem que o tempo seco deixou as lavouras com menor produtividade. “Estamos passando apertado, a umidade do ar está muito baixa. Tenho vizinhos que neste ano viram os seus barracões queimares e tudo em volta da casa também “, acrescenta.
“A gente vai produzir entre 15% e 20% do que a gente esperava por causa das condições climáticas”, relata Edjelton. Nesta sexta-feira (06/09), ele começou por volta das 6 horas os trabalhos de campo para proteger o solo e tentar prevenir o plantio.
Além do trigo, o produtor também planta milho e já havia reduzido a área de cultivo do ano passado para este devido à seca. Ele ressalta que está sendo um ano muito difícil e, que apesar de ter uma safra com seguro, não quer “pagar para ver” e perder tudo em uma queimada repentina.
Montagna afirma que a entidade trabalha com uma colheita próxima a 320 mil toneladas no Estado, na comparação com 460 mil na safra passada. “Cerca de 40% da safra de São Paulo é irrigada e sabemos que não teremos problema. O restante ainda precisamos ver a qualidade”, afirma.
Danilo Crivelli, sócio da corretora de seguros agrícolas Agrotech, que cobre a região onde está a lavoura de Edjelton, observa o aumento de pedidos por sinistros no primeiro semestre do ano, em especial em agosto. Apesar de não ter um número contabilizado, ele afirma que a seguradora já pagou R$ 28 milhões em indenizações a produtores da região por causa da seca ou de incêndios.