Pesquisador da Embrapa Gado de Corte mostrou como o pecuarista pode reproduzir a técnica do sistema Lone Tick dentro de sua porteira
Um manejo que foi estudado dentro da Embrapa Gado de Corte pode controlar a infestação de carrapatos sem o uso de químicos. É o sistema Lone Tick, que usa a rotação de pastagens para matar o parasito “de tristeza”.
Quem falou sobre o estudo foi o médico veterinário, mestre e doutor em ciências biológicas Renato Andreotti, pesquisador na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande-MS. Segundo o especialista, a infestação de carrapatos causa prejuízos de até US$ 3,2 bi por ano à pecuária brasileira.
Conforme destacou Andreotti, que liderou as pesquisas do Lone Tick, os prejuízos começam a ocorrer a partir da infestação de 40 carrapatos por animal. “Se for de gado de corte, o animal vai perder em torno de 1,2 arroba por ano. Se for gado de leite, vai ter uma perda em torno de 90 litros por ano”, alertou.
ALTERNATIVA CONTRA A RESISTÊNCIA
De acordo com Andreotti, o sistema Lone Tick resolve um dos principais gargalos no combate ao carrapato: a resistência às moléculas dos produtos acaricidas. “Então, por conta disso, nós precisamos de alternativas de controle”, sustentou.
Em seguida, o veterinário explicou de que se trata a nova técnica. Como 95% da população total de carrapatos em uma propriedade está no pasto, a ideia é que o carrapato fique sozinho no capim, sem ter a oportunidade de se instalar num bovino hospedeiro, contendo sua infestação.
Em outras palavras, Renato detalhou como se aplica a técnica. “Você deixa o boi em um pasto durante 28 dias. […] Com 28 dias, você separa o bovino do carrapato. E aí você muda de piquete, vai para um outro piquete que está com a pastagem alta, esperando os bovinos. E, de preferência, sem carrapatos. Se a gente for fazer todo esse sistema, rodar durante o ano, nós vamos fazer esse tratamento que nós estamos falando para todos os piquetes”, projetou.
Depois que sair do piquete, os animais deixam os carrapatos do piquete anterior sozinhos. Traduzindo para o inglês, o “lone tick”, ou carrapato solitário. “Ao sair desse pasto, os bovinos vão deixar os carrapatos adultos aqui fazendo a postura. Eles vão produzir larvas e esse período de 84 dias vai matar a maioria das larvas. Saindo daqui, ele vai passar em mais 28 dias em três piquetes diferentes, então o tempo total para o percurso, para ele retornar aqui, são 84 dias. Esse período a gente considera como manejo do vazio sanitário”, analisou.
EXPERIMENTO
Nesse sentido, o estudo que foi conduzido na Embrapa foi feito em uma área com quatro piquetes de oito hectares cada. Ou seja, 32 hectares com uma carga animal de 0,8 UA/ha. Em síntese, Andreotti explicou que o nome Lone Tick, escolhido para batizar o sistema, servirá para facilitar a exportação da técnica. Assim, outros países de pecuária tropical e subtropical poderão entender e utilizar o manejo.