Com a chegada do outono, produtores de leite devem redobrar a atenção com o rebanho. Este é o momento em que é preciso rever o manejo e tomar algumas decisões. Conversamos com Raquel Breitenbach, especialista na área de gestão rural, para saber quais são as principais mudanças da produção de leite no inverno.
Destaque Rural- Outono chegou. Como o produtor de leite pode se preparar para o inverno?
Raquel – Boa parte dos agricultores enfrenta uma escolha difícil de equalizar quando precisam tomar a decisão de quanta área destinar para produção de grãos e quanta área utilizar para a pecuária de leite. Porém, em comparação com o que é produzido no verão, existe uma subutilização de áreas de inverno para produção de grãos no Rio Grande do Sul. Por isso, no inverno existe maior oportunidade de desenvolver atividades para produção de alimentos nessas áreas ociosas e fomentar sistemas de integração lavoura-pecuária.
A alimentação representa um percentual importante do custo de produção de leite, podendo variar de 40% até mais de 70% dos custos totais. Portanto, mudanças realizadas em nível de alimentação e nutrição animal impactam no custo final de produção. É por isso que as forragens em forma de pastagens, com valor nutritivo adequado, são apresentadas como alimentos mais econômicos para os bovinos.
Para os sistemas produtivos a pasto e semi-confinado, que utilizam boa parte de sua área no verão para produção de grãos para comercialização, o inverno pode ser uma oportunidade de reduzir custos de produção, otimizar os recursos produtivos – como terra, maquinários e mão-de-obra e aumentar a renda da atividade. Isso, desde que realizado um planejamento forrageiro adequado.
Por outro lado, no inverno, a pastagem pode não ser suficiente para alimentar adequadamente os animais. Neste caso, para evitar redução na produtividade, é imprescindível que os pecuaristas de leite se preparem armazenando alimentos como silagem e pré-secados, além de complementar a alimentação com compostos concentrados.
Destaque Rural – A principal mudança seria na parte da alimentação?
Raquel – Não é só a alimentação dos animais que passa por mudança no inverno. Este período também traz uma alteração na rotina do agricultor e do animal. Especialmente se o sistema produtivo não for confinado, o inverno interfere na redução da qualidade de vida do agricultor e da mão-de-obra envolvida na atividade de produção de leite.
Um exemplo disso é que, ao pesquisar sobre as motivações para adoção de sistemas produtivos de confinamento como o Compost Barn e Free Stall, dentre os principais fatores apontados pelos agricultores destaca-se o desejo de melhorar a qualidade de vida dos familiares. Buscar os animais na pastagem, limpeza de tetas e úbere, higiene do ambiente, ficam mais difíceis no período de inverno. Isto torna o trabalho mais penoso. A penosidade do trabalho é também um aspecto que interfere negativamente para a permanência das famílias na atividade, agravada pelos invernos rigorosos.
Destaca-se ainda, que invernos muito chuvosos diminuem os dias úteis para pastagem, bem como podem impactar na qualidade do leite, pela maior facilidade de infecções da glândula mamária. Ainda, as vacas chegam mais sujas na ordenha, aumentando a necessidade de cuidados com higiene para evitar contaminação.
Destaque Rural – Como o clima interfere nos diferentes sistemas? No inverno a produção aumenta? Diminuiu? Ou depende de cada situação?
Raquel – As pesquisas, tanto nacionais quanto internacionais, mostram que o sistema de confinamento em Compost Barn, por exemplo, tem como principal dificuldade o gerenciamento da cama para os animais. No RS essa gestão da cama fica ainda mais complexa no inverno, tendo em vista a umidade. Algumas regiões específicas do estado, onde a umidade é mais intensa, manter a cama seca pode ser um desafio ainda maior.
Sabendo disso, o pecuarista de leite deve se antecipar ao período de inverno e traçar estratégias para minimizar o impacto no sistema produtivo. Ter maior estoque de material para reposição da cama ou até mesmo construir barreiras alternativas que diminuam o ingresso da umidade externa para as camas, passa a ser uma necessidade neste sistema.
Destaque Rural – É um momento de tomada de decisões?
Raquel – Como minha área de pesquisa e docência é gestão rural, eu considero que as decisões mais assertivas são sempre aquelas que equalizam a melhor relação custo versus benefício. Porém, esta informação de custo versus benefício só é possível de ser obtida em propriedades em que o agricultor faz um controle produtivo e econômico. Por isso, estão se diferenciando positivamente aqueles agricultores que tratam com o mesmo nível de importância as tarefas operacionais (ordenha, higiene, produção de alimentos, manejo de animais, etc.) e de gestão, especificamente gestão de custos. Exemplificando, o mesmo nível de importância que você atribui à formulação de uma dieta para as matrizes de leite deve ser dado ao cálculo de custo de produção desta dieta e o impacto na produtividade animal. A tomada de decisões é facilitada e mais assertiva quando o agricultor consegue compilar e vincular informações produtivas e econômicas. Isso requer planejamento e ações para além do que o agricultor está habituado. Mas os resultados são recompensadores.
Fonte: Thaise Ribeiro