A safra 2019/20 de café está em desenvolvimento no Brasil, mas já conta com diversos relatos de lavouras sendo afetadas pelas altas temperaturas e baixos volumes de chuva. Perdas têm sido registradas no conilon, do Espírito Santo, e no arábica, em Minas Gerais.
“As temperaturas estão muito altas nesta safra 2019/20, além disso, também temos registrado baixos volumes de chuva. Com isso, na região, as lavouras sendo queimadas, além da desigualdade no desenvolvimento”, afirma Alexandre Maroti, produtor de café de Nova Resende (MG).
14 cidades produtoras de café, todas elas acompanhadas pelo Sistema para o Monitoramento Agro-energético da cultura do Café da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), estão sem chuvas acima de 2 milímetros há mais 20 dias, em um cenário de altas temperaturas.
Em Nova Resende, no Sul de Minas Gerais, por exemplo, as chuvas em todo o mês de janeiro acumularam 188 milímetros, quando a média histórica aponta para 281,6 mm. No Cerrado, em Coromandel, as precipitações também foram limitadas. A média seria de 315 mm e o registrado no período foi de 140,2 mm.
“Nesse mês de janeiro, tivemos temperaturas muito altas e poucas chuvas e isso impactou na formação do “coração negro”, que são frutos pretos devido às altas temperaturas e nas lavouras mais novas também tivemos frutos que reduziram massa”, explica Alysson Fagundes, engenheiro agrônomo da Fundação Procafé.
Após produção recorde no ano passado, as expectativas são de que a produção brasileira de café nesta temporada seja menor por conta da bienalidade negativa. Os problemas recentes com as altas temperaturas e baixos volumes de chuva, no entanto, podem limitar ainda mais o volume colhido.
Fernando Barbosa, presidente do Conselho do Café da AMOG (Conselho da Associação dos Municípios da Microrregião da Baixa Mogiana), destaca outro problema causado pelas condições climáticas adversas no cinturão produtivo brasileiro, a desigualdade no desenvolvimento.
“Por conta da falta de chuva em janeiro, algumas regiões estão com grãos sem a formação completa. Porém, acredito que seja cedo para analisar o enchimento. É certo que vamos ter na colheita cafés verdes, maduros e até secos”, explica Barbosa, que também é produtor em São Pedro da União (MG).
Em sua primeira estimativa para a safra 2019/20, divulgada em 17 de janeiro, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), estimava a produção de café no Brasil entre 50,48 e 54,48 milhões de sacas de 60 kg, levando em conta as variedades arábica e conilon, uma diminuição de 18,1% a 11,%.
Diante da situação registrada em campo, os produtores acreditam que os números podem cair ainda mais do que se imaginava inicialmente. “Já tínhamos uma safra com problema e com certeza vamos ter quebra, com produtores relatando até 30% ou mais de perdas na região”, afirma Maroti.
“Nós acreditamos que aqui na região São Pedro da União (MG) não teremos o volume de café que se comenta, mas ainda não temos dados finais das perdas, pondera Barbosa. Produtores da região Sul de Minas Gerais, a principal do país, ainda apontam alta incidência de broca do café.
A previsão do tempo aponta para o retorno de chuvas no decorrer desta semana em áreas de Minas Gerais. Nesta segunda-feira (04), o tempo será nublado e com pancadas de chuva e trovoadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Oeste, Sul/Sudoeste, Campo das Vertentes e Zona da Mata.
Essas precipitações, no entanto, podem ter chegado tarde. “O déficit hídrico no Sul de Minas Gerais é grande, janeiro teve muitas perdas, então não deve resolver muito”, pontua Fagundes. Ainda segundo o especialista, as chuvas previstas devem ser bastante irregulares.
Acompanhando em parte a previsão de chuvas no Brasil, a Bolsa de Nova York (ICE Futures US), principal referência para as negociações do café arábica, caiu quase 3% no acumulado de toda a semana passada, fechando em 103,70 cents/lb no vencimento referência do mercado, o março/19.
No Brasil, essa queda foi refletida, também ainda acompanhando as estimativas de ampla oferta da safra passada. “Temos preços do arábica na base de R$ 400, mas os custos de produção estão altos com a questão do petróleo, insumo e várias outras questões”, diz Barbosa.
Perdas também no café conilon
O cenário de estiagem também é registrado no Espírito Santo, principal estado produtor da variedade de café conilon. Na região de região de São Gabriel da Palha (ES), a colheita em maio deve começar com perdas entre 10% e 15%. Até a última quinta-feira (31), eram mais de 20 dias sem chuvas.
“Os grãos ficam expostos ao sol e está havendo uma queima desses grãos. Não conseguimos ainda levantar com precisão, mas acreditamos que de 10 a 15% da colheita já foi atingida”, afirma Edimilson Calegari, gerente comercial da Cooabriel (Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel).
Esse cenário, segundo o gerente, tem obrigado os produtores a investirem em irrigação, o que aumenta ainda mais os custos de produção que já estavam elevados, com alta dos insumos que chegaram a até 90% da safra passada para essa.
“Ainda não temos um levantamento de custo, porque ainda faltam de 3 a 4 meses para se concluir a safra, mas de acordo com experiências que temos já está empatando. Não está dando mais rentabilidade para o produtor com preços de R$ 290,00 o saco de 60 quilos”, conta Calegari.