Fertilizantes puxam custos da agricultura em 2022; criador de suíno amarga prejuízo.

Levantamento realizado em parceria pela CNA, Senar, Cepea e Universidades apontou altas de até 125% de janeiro a setembro desse ano.

Impulsionada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, a alta nos preços dos fertilizantes foi o que mais pesou sobre os custos de produção na agropecuária brasileira neste ano, com reflexos na agricultura e também na pecuária. É o que aponta levantamento realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com Senar, Cepea, Esalq, e com as universidades federais de Viçosa e de Lavras. A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (8/11), incluiu 11 atividades em 116 municípios de 21 estados.

“Se a gente pensar pelo lado agrícola, é muito fácil explicar isso tendo como base o percentual que esse item representa no custo de produção. Pelo lado da pecuária, se imaginarmos que aquilo que mais impacta nos modelos produtivos atuais é alimentação animal condicionada ao oferecimento de volumoso e ou a própria ração no cocho, a gente tem o fertilizante agindo indiretamente”, explica o coordenador do projeto Campo Futuro, Thiago Rodrigues, ao mencionar altas de até 125%, como no caso do Cloreto de Potássio (KCl).

Realizado há 15 anos, o Campo Futuro considera nos levantamentos a metodologia de Custo Operacional composto pelo Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total (COT) e o Custo Total (CT). O COE inclui todos os itens considerados variáveis ou gastos diretos, como insumos, operações mecânicas, comercialização agrícola. O COT, além das despesas desembolsadas, considera ainda os custos com depreciação e o pró-labore do produtor, e o CT traz o desafio da atividade remunerar todo o estoque de capital.

No caso da soja e do milho, por exemplo, foi constatado aumento de 34,6% e 31,1% no Custo Operacional Efetivo, respectivamente, enquanto a receita bruta com ambas as atividades caiu entre 7% e 8,3% no período. “Isso vai impactar realmente na produção de volumoso na pecuária. A silagem desse ano foi algo bastante afetado justamente por essa correlação [entre fertilizantes e custo de produção] então, se somar ainda o efeito da questão dos defensivos, a gente vera que o momento de alta já vem de algum tempo”, pontua Thiago.

Na pecuária de leite, a alta dos insumos agrícolas encareceu a produção de forrageiras comprometendo, em média, 48% da receita gerada com a venda do leite para cobrir custos com a alimentação animal. Para os sistemas mais intensivos, o levantamento mostrou que esse desembolso variou de 58% a 69%, com a aquisição de ração comprometendo 35% da receita gerada por litro.

“Quando a gente analisa só a capacidade de cada atividade remunerar o produtor no curto prazo, cobrindo as despesas referentes ao desembolso que ele precisa para a compra de insumos básicos para produção, realmente a maioria das atividades conseguiu cobrir esses custos. Mas quando a gente parte para uma análise mais crítica, considerando depreciação, custo de oportunidade do produtor, seu pro-labore, mais a remuneração daquele capital imobilizado, aí o cenário é mais desafiador para todo mundo”, explica o coordenador do projeto Campo Futuro.

Suinocultura

Ainda de acordo com o levantamento, o cenário mais grave foi observado na suinocultura onde houve, de fato, prejuízo financeiro entre aqueles que atuam na atividade. Nesse segmento, o custo com concentrado representou 82,4% do Custo Operacional Efetivo. “Nas regiões que visitamos, o produtor não estava conseguindo fazer nem as despesas de custos diretos, o que caracteriza para nós o pior dos cenários, que o produtor não consegue pelo preço do suíno terminado arcar com as despesas do dia-a-dia e isso reflete um cenário de descapitalização, com o produtor contraindo dívidas para arcar com esses custos”, ressalta o pesquisador.

Nem mesmo entre os produtores em sistema de integração, quando o frigorífico fornece os animais e a alimentação dos mesmos, a situação foi menos complicada. Nesses casos, foi constatado dificuldades para arcar com os custos de mão de obra e manutenção das instalações em meio à redução da produção e a queda nos preços pagos pela indústria pelo animal pronto para abate. “O integrado, como ele assume um risco compartilhado, ele fica preso a questões específicas do processo que estão relacionadas um pouco mais com o que está dentro da porteira então qualquer elevação nesse sentido, ele sofre diretamente”, pontua Thiago.

Para o próximo ano, as perspectivas são de redução nos custos de produção, mas também dos preços pagos ao produtores – o que exigirá cautela, segundo o coordenador do projeto Campo Futuro. “A gente está vivenciando um momento em que a curva de preços das principais commodities já está começando a se inverter e essa desaceleração dos preços recebidos e o próprio cenário produtivo mais estagnado de milho e soja. Então a gente tem uma pressão menor em custos, mas o olhar sobre a receita também está bem difícil de prever e não é favorável como os preços que tivemos em 2020, por exemplo”, completa o pesquisador.

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