Mais de 500 propriedades que produzem leite já utilizaram a ferramenta IAT-Leite, desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP). IAT significa Índice de Atualização Tecnológica e, no caso, é direcionada para a produção leiteira. Trata-se de um sistema de diagnóstico que permite conhecer o grau de uso de tecnologias, acompanhar a implementação de melhorias na propriedade e um mecanismo de diálogo e planejamento entre o produtor e o técnico do serviço de extensão rural que acompanha a propriedade.
Para se ter uma ideia, o IAT-Leite contempla 190 perguntas (ou indicadores) que devem, preferencialmente, ser respondidas em conjunto pelo produtor e pelo técnico. Assim, eles podem discutir as tecnologias pertinentes para a realidade local e os recursos necessários para eventual adoção. Estes indicadores abordam as diferentes dimensões que envolvem a produção leiteira, tais como manejo de alimentação, manejo reprodutivo, manejo de ordenha, manejo sanitário, manejo ambiental, manejo de conforto e bem-estar, dentre outros.
A ferramenta ganha relevância ao atender um complexo agroindustrial que fatura R$ 68,7 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos. A produção de leite no país é estimada em 35,1 bilhões de litros, envolvendo 1,1 milhão de propriedades e mais de 2 mil unidades de recebimento e processamento agroindustrial.
A observação dos indicadores de produtividade da bovinocultura leiteira demonstra o potencial latente de melhorias. A produção por animal ainda é baixa se comparada com a produção média mundial ou de outros países que possuem médias de produção superiores a 3 mil kg/vaca/ano enquanto a média da produção brasileira foi de 1.771 kg/vaca/ano, no período de 2015 a 2017.
De acordo com a pesquisadora Claudia De Mori, a tecnologia se destaca como um elemento fundamental para alcançar este aumento de eficiência na produção de leite no país. “E, neste sentido, o IAT-Leite se apresenta como ferramenta que pode auxiliar na análise do perfil tecnológico da propriedade leiteira e visualização de potenciais ações de melhoria”, disse.
Segundo Claudia, entre 2016 e 2018, a ferramenta foi aplicada em mais de 500 propriedades do Programa “Balde Cheio”, em Minas Gerais. Esse programa transfere tecnologias para a pecuária leiteira por meio da capacitação de técnicos que atendem os produtores de leite.
A agregação dos dados de perfil de atualização tecnológica das propriedades mostrou que algumas boas práticas têm maior grau de adoção. É o caso da amostragem e análise de solo em áreas produtoras de forragens, empregada uma vez por ano por mais de 80% das propriedades. Outros exemplos: mais de 80% das propriedades mantinham registro de controle leiteiro mensal ou quinzenal e mais de 60% delas executavam os processos de pré e pós-dipping na ordenha (mergulho dos tetos da vaca em solução desinfetante).
Outras tecnologias ainda possuem baixa adoção, como a oferta de formulação mineral específica para vacas em final de gestação, aplicada por menos de 30% das propriedades; banco de dados de colostro, presente em menos de 5% das propriedades; e sistema de tratamento de dejetos dos animais, relatado em menos de 3%. Estes dados também permitiram uma discussão com os técnicos e o direcionamento das ações de capacitação de técnicos e produtores do Balde Cheio.
Claudia é uma das autoras do Comunicado Técnico “Índice de atualização tecnológica para propriedades leiteiras: IAT-Leite”, publicação disponibilizada gratuitamente neste link, onde detalhes da ferramenta podem ser consultados gratuitamente.
TÉCNICOS SENTEM IMPACTO
Para o técnico Lucas Leocádio Pereira da Silva, de Bocaiúva (MG), o IAT-Leite é uma forma de fazer uma espécie de check-list na propriedade dos produtores. “Dá para se ter uma ideia de como estão os manejos de pastagem, sanitário, reprodutivo. Aplico logo nas primeiras visitas porque ela me dá um retrato da propriedade”, afirmou.
Lucas conta que faz um tipo de “entrevista” com os produtores e alguns, ao falarem de determinada tecnologia, informam que desconheciam sua existência. “É uma oportunidade de discutir alguns conceitos com eles e definir quais tecnologias serão aplicadas naquele momento.”
Ainda de acordo com o técnico, os gráficos gerados pelo IAT-Leite permitem fácil visualização do nível tecnológico da propriedade. “A satisfação que a gente tem depois de um ano de trabalho, quando volta a aplicar e vê o impacto, vê como o índice melhorou, é muito grande. A gente aplica todo ano e estabelece uma meta para melhorar nosso índice.”
Também Fábio Silveira Moreira, técnico do Balde Cheio, de Barbacena (MG), utiliza a ferramenta. “É muito boa. Apesar de ser bem extensa e tomar um tempo para aplicar na primeira vez, é muito interessante porque vai apontar onde a propriedade está naquele momento dentro de seus macrotemas”, afirmou.
Como exemplo, ele cita o manejo de pastagem. O IAT-Leite permite levantar se o produtor está aplicando tecnologias de manejo. “Com isso, vou saber quais os gargalos da propriedade e quais ações terei que recomendar. Sento com ele, faço o diagnóstico das deficiências da propriedade e traço metas junto com ele para o ano.” Passado esse período, a ferramenta é reaplicada e as tecnologias, ajustadas.
Outro técnico, Leonardo Cotta Quintão, de Viçosa (MG), disse que o IAT-Leite é uma ótima ferramenta para diagnóstico da propriedade. “O preenchimento é simples e autoexplicativo. Como medida de segurança, a planilha é travada e não permite respostas duplicadas ou fora do local correto, ou seja, até mesmo técnicos que não estão familiarizados com a ferramenta conseguem usá-la”, explicou.
De acordo com Leonardo, após o preenchimento da planilha, um relatório bem detalhado é gerado com os pontos fortes e fracos da propriedade, semelhante a análise de Swot ou à matriz Fofa (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) usado em empresas. “Com isso podemos saber onde deve ser o foco do trabalho.”
Claudia De Mori, pesquisadores que desenvolveu o sistema de diagnóstico – Foto: Ana Maio
Para saber mais sobre o Programa Balde Cheio, consulte a página oficial do projeto neste link https://www.embrapa.br/balde-cheio.
Ana Maio (Mtb 21.928)
Embrapa Pecuária Sudeste