Estimativa realizada pela Embrapa Territorial pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono e para o pagamento por serviços ambientais
A Embrapa Territorial conseguiu calcular o valor do carbono na citricultura brasileira e chegou à conclusão que vale US$ 7,72 por tonelada de gás carbônico equivalente (t/CO2e).
Segundo a analista da Embrapa Daniela Tatiane de Souza, há poucos estudos científicos no Brasil para precificar o carbono na agricultura e ainda não havia nenhum voltado para o setor citrícola. Também não há ainda um mercado de carbono regulado em operação na agricultura que permita mensurar valores efetivamente praticados.
“O que estamos fazendo é um trabalho proativo para traçar perspectivas e estabelecer referências com base em metodologias adotadas internacionalmente”, explica.
Gás-carbônico é a unidade da “régua”
Por ser o gás de efeito estufa (GEE) mais emitido na atmosfera desde o início da industrialização, o gás carbônico tornou-se indicador ambiental. Para efeitos comparativos e uniformização no mercado, a geração de outros GEEs e agentes causadores de impacto ambiental são convertidos em toneladas de CO2 equivalente para mensuração e valoração.
Ao estimar o preço do carbono de uma atividade econômica, cria-se um incentivo financeiro para investir em tecnologias e práticas mais sustentáveis. Por exemplo, a melhoria nas práticas de adubação para diminuir o uso de nitrogênio e a emissão de óxido nitroso – outro importante GEE – para a atmosfera.
“Como a redução das emissões de GEE e a remoção de CO2 da atmosfera têm um custo (social, econômico e ambiental), a precificação é necessária para saber quanto se deve pagar por uma tonelada de CO2 equivalente que deixou de ser emitida ou que foi removida da atmosfera por uma atividade ou projeto. A precificação de carbono serve de referência para quem vai receber e para quem vai pagar por isso. É claro que ela é só uma referência, pois quando já se tem o certificado de emissão reduzida (CER), pode-se negociar valores maiores do que quem ainda vai iniciar um projeto”, detalha o pesquisador da Embrapa Lauro Rodrigues Nogueira Júnior.
“Esse valor serve também para programas governamentais de redução de emissões que precisam de referências, assim como para os programas de pagamento por serviços ambientais que vêm sendo implementados no Brasil”, complementa.
O valor estimado pela Embrapa para a citricultura está próximo ao que se observa para o setor agrícola no mercado voluntário internacional. Nos últimos três anos, o valor médio do preço do carbono no mercado voluntário na agricultura mundial, levantado pelo Eurosystem Marketplace, variou de US$ 6,61 a US$ 11,02 por t/CO2e.
Como não há estimativas no Brasil, para efeito comparativo, a equipe da Embrapa valeu-se de um estudo prévio que forneceu um valor médio para o preço do carbono da agricultura e da pecuária nacionais. Considerando uma atualização monetária, ele seria de US$ 7 por t/ CO2e – muito próximo, portanto, aos US$ 7,72 por t/CO2e estimados para o setor citrícola.
Como foi feito o cálculo
Os cálculos para a citricultura foram feitos a partir de dados socioeconômicos e ambientais, combinando dois conjuntos de determinantes: o do “custo social do carbono” e do “custo marginal de abatimento”.
O primeiro atribui valor monetário para as consequências ambientais e sociais das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. O segundo inclui o custo tecnológico da redução dessas emissões.
“Nós fizemos uma modelagem, uma simulação de quanto poderia ser o preço do carbono na citricultura brasileira em função de um conjunto de determinantes que impactam o preço do carbono na agricultura”, detalha Souza.
Para a estimativa, foram considerados 297 municípios do cinturão citrícola, que compreende o Estado de São Paulo e o Sudoeste/Triângulo Mineiro. A equipe utilizou, para os cálculos, dados como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e a participação da agricultura nesse indicador, as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a parcela destinada à preservação da vegetação nativa.
Quanto maior o PIB de uma localidade, maior o valor do carbono, uma vez que um maior dinamismo da economia tende a gerar maiores emissões de GEE.
Carbono e fauna na citricultura
O trabalho faz parte de um projeto de pesquisa da Embrapa e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que avalia a dinâmica dos estoques de carbono e da biodiversidade da fauna em áreas citrícolas de São Paulo e Minas Gerais.
O projeto foi selecionado pelo Fundo de Inovação para Agricultores da empresa Innocent Drinks, do Reino Unido, que investiu recursos no estudo. Esse fundo oferece financiamento para fornecedores em iniciativas voltadas à transição para agricultura de baixo carbono, incremento da biodiversidade e práticas agrícolas justas.
A pesquisa estimou os estoques de carbono no cinturão citrícola em 36 milhões de toneladas, nos pomares, no solo e nas áreas com vegetação nativa dentro das fazendas produtoras. “Hoje sabemos que um hectare de citros estoca aproximadamente duas toneladas de carbono por ano, o que equivale a 7,32 t/CO2”, diz Nogueira Jr.
Foi um trabalho inédito, que colheu dados para estimar o volume de carbono estocado nas laranjeiras brasileiras e chegou a uma média de 50 quilos do elemento por árvore.
O mesmo projeto identificou 314 espécies de animais silvestres no cinturão citrícola brasileiro, conforme divulgou a Globo Rural em maio. Foram flagrados ou encontrados vestígios de 268 aves, 28 mamíferos e 18 anfíbios e répteis.
A onça-parda, a jaguatirica e o lobo-guará foram alguns dos animais de grande porte flagrados pelas câmeras com sensor, à noite. Outros foram avistados e fotografados ou identificados pelas pegadas, fezes, ninhos e outros vestígios.