Especialistas alertam que altas temperaturas e chuvas irregulares podem impactar ciclo 23/24 do café

Calor, seca, chuva, nuvens, granizo, frio fora de época e geada abrangente. São esses os sete fatores que atingem o café no final da colheita desta safra 2022/2023 e devem tirar o sono dos produtores para o próximo ciclo (2023/2024). Esses efeitos, pós La Niña e do atual El Niño, acentuam a queda na produtividade e impactam na qualidade do grão, segundo especialistas.

Com o recorde de calor no mundo e a alta amplitude térmica no Brasil, há mudanças do ciclo de crescimento da planta do café e o estágio da florada pode ser o mais atingido, impactando na hora de colher os grãos devido a um estresse térmico, que resulta no surgimento de várias floradas.

Embora bonitas e aromáticas, as muitas floradas não garantem uma granulação padronizada e o produtor se atrapalha na hora de colher, podendo atrasar o trabalho. “As várias floradas de setembro evidenciam que a safra de 2024 pode ser super irregular e comprometida por causa da fase do florescimento e frutificação que ocorrem nos próximos meses”, explica o professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), José Donizeti Alves.

O especialista detalha que o próximo ciclo ainda é uma incógnita e que o cafeicultor terá de se desprender do calendário físico e monitorar o comportamento da planta. Há chances, inclusive, da próxima safra se comportar da mesma forma que a de 2022/2023. “São três anos de safras mais baixas e será que podemos esperar um ano melhor? Isso nos faria pensar que a bienalidade do café também está mudando. Com clima adverso, o café vai ter que tolerar os estresses hídrico e térmico, o que requer um custo e atenção altas”, avalia ele.

A colheita do ciclo atual atrasou, mas até o dia 21 de julho havia atingido 58,78% nas áreas do Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Matas de Minas e média mogiana do estado de São Paulo, de acordo com Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé).

“Atualmente, o El Niño está ativo, e a última atualização sugere um fenômeno mais forte em 2023, atingindo intensidade máxima entre setembro, outubro e novembro, períodos-chave para a floração e desenvolvimento dos frutos no Brasil”, explica Natália Gandolphi, analista de café da hEDGEpoint Global Markets.

Chuvas

A especialista comenta que, historicamente, o índice alcançou 1,5°C ou mais durante esta mesma janela em 1996/1997, 2008/2009 e 2014/2015. Nas duas primeiras ocorrências, os níveis de precipitação não foram afetados na região sul de Minas Gerais. No entanto, na última ocorrência, a precipitação ficou em 60% dos níveis normais.

A oscilação das chuvas chegou a causar um estresse hídrico nas plantas ano passado, mas nada acentuado por enquanto. “Também é importante observar que os níveis médios de precipitação diminuíram 5% da média de 30 anos para a média de 20 anos, e 9% da média de 20 anos para a média de 10 anos”, diz.

Os estudiosos projetam índices mais elevados de chuva em agosto e setembro, o que não é um fator totalmente positivo ao cultivo. “Atualmente, mostra níveis mais elevados de chuva em agosto e setembro nas áreas de cultivo de café – exceto na região sul da Bahia. No entanto, ao entrar no período de outubro a janeiro, espera-se que os níveis de chuva fiquem abaixo da média na maioria das áreas de café, o que levanta preocupações em relação ao potencial da safra 24/25”, ressalta a analista da hEDGEpoint.

Para o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, os efeitos climáticos dos últimos três anos, com seca e geada, fizeram a cafeicultura perder mercado neste período. Ele enfatiza que a mensagem de ordem do cafeicultor é “cautela” e gestão redobrada para acelerar a produtividade na próxima safra, para driblar as consequências do clima que atrapalham o manejo do grão.

“A maneira de minimizar esses impactos climáticos é uma gestão redobrada, buscando produtividade maior, que vem caindo nos últimos três anos em âmbito geral por causa do clima. Dentro da Cooxupé, sentimos uma queda muito brusca e o momento é um pouco difícil para cafeicultura, mas sigo otimista com o café”, destacou durante a abertura do 5º Fórum de Café e Clima, organizado pela entidade na última quinta-feira (27).

Nas regiões do Sul de Minas, Norte do Paraná e São Paulo, tanto o El Niño como o La Niña tem peso, principalmente nos próximos meses, quando há as estações da primavera e do outono. “No final de novembro em diante, o que mais impactará não é o fenômeno climático, mas o aquecimento das águas do Atlântico, de onde os corredores de umidade irão se formar e podem afetar em outras variações”, alertou Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da empresa Rural Clima.

Canéfora

Uma alternativa para reverter a comercialização mais lenta no mercado e os preços em queda da cafeicultura brasileira é a aposta do produtor no café canéfora, que vem ganhando espaço no mercado internacional, segundo o vice-presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Osvaldo Bachião Filho, que projeta força e muito espaço da espécie para as próximas safras. “O blend mundial cada vez mais utiliza altos percentuais do canéfora em suas composições. Temos que observar esse movimento para voltarmos a ter produtividade”, destacou.

Ele acredita em uma recuperação dos números de produção e rentabilidade, se o cafeicultor também se dedicar ao canéfora em outras áreas, que não só no Espírito Santo e Rondônia.

As informações são do Globo Rural.

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