Em meio à pandemia, produtor de leite agrega valor à atividade, abre novos canais de comercialização e alavanca empreendimento rural em Bauru

Com apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) – Regional Bauru na atividade produtiva e do escritório local do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) na comercialização, produtor amplia as vendas de queijo e derivados de leite.

O dia de trabalho no Sítio Santa Luzia – localizado no município de Bauru, distante 330km da capital paulista – do casal Keller Césio e Edilaine Gomes, começa antes do raiar do sol e só termina bem depois do pôr do sol. Há dois anos, Keller deixou um emprego estável nos Correios, como supervisor de segurança eletrônica de unidades em vários estados, e investiu no seu sonho de empreender na agropecuária, atividade que é a paixão de sua família há quatro gerações. “Desde criança acompanhava meu pai e meus avós na ‘roça’. E desde a adolescência tinha o desejo de investir, mas pelo receio da minha mãe e também o medo de não dar certo viver só da terra e da produção de leite in natura, fui estudar e trabalhar fora, mas nunca deixei o sonho de lado”, explica o produtor, que manteve a atividade leiteira e a venda de leite in natura, em paralelo com o trabalho por algum tempo.

Keller conta que a situação mudou após a participação em capacitações e cursos promovidos pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), nos quais ele e a esposa obtiveram conhecimentos para que pudessem investir na produção de leite com qualidade e na confecção de queijos e derivados. “Quando entregávamos para laticínios, a remuneração não era regular e nem a mais adequada frente aos custos de produção. Vislumbrando o potencial do mercado, abrimos um pequeno laticínio, o laticínio Gubin’s, está sendo a concretização de um sonho”, afirma Keller.

No início houve investimento em tecnologia no manejo dos animais e na produção de leite e derivados. No dia 29 fevereiro deste ano, já celebrava o recebimento do selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), que permitiu a comercialização legalizada. “Logo após foi decretada a quarentena, por conta da pandemia de Covid-19, e os nossos planos de alcançar o mercado planejado em um tempo pré-determinado pareceram ficar distantes”, conta.

Mas o que para alguns foi motivo de desânimo, para o produtor foi impulso para mais estudos e busca por novos caminhos. “Com apoio do escritório local do Sebrae, dos extensionistas da CDRS e da Prefeitura busquei mais conhecimento e capacitação. Aprendi a lidar com canais online (Facebook, WhatsApp, Instagram), o delivery foi incorporado, pois já que as pessoas não estavam indo aos locais de compra, eu faria o meu produto chegar até elas”, rememora Keller, revelando que não foi um aprendizado fácil, nem as vendas aconteceram da noite para o dia, mas os resultados positivos estão se multiplicando. “Além da divulgação no ambiente virtual, o ‘boca a boca’ tem funcionado muito. Quem experimenta fala para o vizinho e, assim, a nossa base de clientes tem aumentado dia a dia”.

Desde o início das entregas em domicílio, Keller vem contabilizando um grande aumento na produção. Diariamente, ele retira entre 250 e 300 litros de leite, e com a esposa produz, semanalmente, 400kg de queijo frescal, 300 peças de requeijão de corte, 140 potes de requeijão cremoso e 50 potes de doce de leite e de frutas (estas adquiridas no pomar do sítio do sogro). “A demanda triplicou nesse período de pandemia e, por consequência, também o trabalho, que é todo feito em regime familiar, desde o manejo e a ordenha dos animais, até a elaboração dos derivados, a venda e as entregas. Temos colhido o fruto do nosso esforço e dedicação, vendo a nossa renda aumentar, com a agregação de valor gerado pelo laticínio neste momento que, para muitos, só trouxe impactos negativos”, relata o produtor, informando que toda a produção tem sido comercializada.

Para Marco Aurélio Beraldo, diretor da CDRS Regional Bauru, o exemplo do casal Gomes demonstra a importância de os produtores estarem abertos a novas tecnologias e aos novos formatos de comercialização. Também é importante o investimento em metodologias e tecnologias que tragam qualidade, profissionalismo e gestão nas pequenas e médias propriedades, com agregação de valor à produção. “Em um levantamento que fizemos nos últimos meses, identificamos que 80% dos produtores entrevistados tiveram queda na comercialização e nos preços recebidos, principalmente os que têm no mercado atacadista, nas Compras Públicas, e vendas para cozinhas industriais, restaurantes e lanchonetes, os principais canais de comercialização. Nesse contexto, o exemplo do Keller e da Edilaine demonstra que é possível iniciar ou potencializar novas formas de comercialização, principalmente com a venda direta ao consumidor no sistema de delivery, desde que haja investimento em conhecimento e técnicas de marketing utilizando ferramentas que se abriram como oportunidades de negócio no ambiente virtual das redes sociais”, ressalta Marco.

O diretor reconhece que são necessárias adaptações para se obter sucesso nesse processo, desde a produção, logística de distribuição e efetiva comercialização, como a aquisição de máquinas para pagamento com cartões de crédito e débito, entre outras. “Contudo, vemos que a dedicação e abertura ao conceito de empreendedor rural levou a efetiva comercialização dos produtos e a redução de perdas, bem como a um movimento contrário ao atual cenário negativo, resultando em aumento da produção, obtenção de melhores preços e rentabilidade real da atividade. Acredito que isso irá perdurar pós-pandemia”, avalia o extensionista que, além de acompanhar tecnicamente a produção, é um cliente assíduo do laticínio.

Investimento em tecnologia fez a diferença

Apelidado de professor Pardal (em referência ao personagem das histórias em quadrinhos), Keller colocou seus conhecimentos em eletrônica e sua veia de inventor para adequar inovações na propriedade, tanto na área de produção de leite como de queijo. “Eu gosto de aprender coisas novas, quando decidi montar o laticínio, entendi que tinha que aprimorar os processos, aumentar a qualidade e reduzir custos de produção, com soluções tecnológicas. Tive a vantagem de ter conhecimentos na área, mas todos podem fazer adaptações e/ou adotar tecnologias que, em um primeiro momento, podem parecer um investimento grande, mas que em curto prazo traz muitos ganhos”, explica Keller. Entre diversas adaptações na propriedade, o produtor remodelou a área de ordenha, instalando sistema em que o leite vai direto da ordenha mecânica para o tanque de resfriamento e/ou para os recipientes onde são feitos os queijos, diminuindo o contato manual e a possível contaminação, ações necessárias de acordo com os protocolos sanitários atuais. Montou câmaras frias com sistemas de ar condicionado adaptados, com refrigeração adequada à legislação e que ainda contam com sistema de monitoramento de temperatura à distância, via aplicativo de celular.Com o aprendizado obtido neste período de pandemia, Keller deixa uma mensagem: “Nunca desista de seus sonhos, mesmo que as circunstâncias sejam contrárias. Porém sozinho não se chega a nenhum lugar, existem pessoas e entidades dispostos a ajudar na busca por conhecimento e abertura de caminhos diversos. Perseverança, amor ao que se faz, gestão, profissionalismo, desejo de aprender sempre e muito trabalho são os ingredientes do sucesso!”.

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