Campinas (SP) foi palco do primeiro dia do II Fórum Mundial de Produtores de Café 2019. O dia de palestras encerrou com o tema: Promover e aumentar o consumo, com a participação de Carlos Brando, engenheiro e sócio da P&A Marketing International; Phyllis Johson, co-fundadora e presidente da BD Imports; Nathan Herszkowicz, presidente executivo do Sindicafé; Fred Kawuma, secretário geral da Organização Interafricana do Café (OIAC); Moenardji Soedargo, diretor de operações e vice-presidente da Indústria de Café Solúvel PT ANeka Coffee Industry.
Brando deu início ao último Painel do dia dizendo que segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o consumo cresceu de maneira mais intensa que no passado, o que a longo prazo pode ser uma solução para melhorar a crise dos preços. O Brasil historicamente é o País que mais aumentou o consumo interno, já que incorporamos a bebida no nosso dia a dia e passamos a incentivar novos consumidores, como China e Indonésia.
“Consuma mais café. Ao consumir mais café, você ajuda milhões de produtores a terem uma renda maior, vida melhor e preservar o meio ambiente. Será que isso é muito ingênuo ou deve ser explorado?”, foi a reflexão de Brando.
Herszkowicz trouxe um panorama sobre as razões do consumo de café no Brasil, que conta com 21 milhões de sacas de café, representando 40% da produção nacional, com 4,8% de crescimento de um ano para o outro. Números que mostram a evolução deste consumo e a qualidade dos grãos.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) conta com um longo programa de certificação para garantir aos consumidores que o café era puro. Em 2004, passou a se falar da qualidade da bebida, então se criou o Programa de Qualidade do Café (PQC), que define em que categoria de “qualidade” o café está.
Com o aumento do consumo, a ABIC precisou criar um programa extenso para explicar aos consumidores várias coisas sobre o café e principalmente transmitir como é prazeroso o hábito de tomar a bebida. Segundo Herszkowicz, o brasileiro passou a consumir mais o café especial. A média de preços de café com Selo Gourmet da ABIC que foram consumidos no ano passado foi de R$ 56,45 kg. Os cafés tradicionais estão perdendo espaço para os especiais nos supermercados, o que demonstra essa diferença do consumidor. “A preocupação da ABIC tem sido estimular a melhoria da qualidade e agregar valor aos produtos”, finalizou.
Moenardji Soedargo trouxe um panorama sobre o consumo da Indonésia que, segundo ele, não foi organizado. Tudo o que aconteceu foram os esforços esporádicos de instituições que promoviam o café. “Em algum momento chegamos a considerar adotar o guia de passo a passo da OIC, mas não estávamos prontos para implementar o programa e organizar o processo”, comentou.
Para ele, o país sempre teve a tradição de consumir chás bem doces e um café de péssima qualidade, com muito açúcar. Isso foi até os anos 90,quando uma empresa introduziu o 3 em 1, café pré-misturado, solúvel instantâneo e 2 g de café solúvel e o resto de açúcar ou leite em pó, uma forma revolucionária de servir a bebida. Assim começa crescer o consumo e a entrada do grão na Indonésia.
Foi nos anos 2000 que as bebidas com base de expresso ganharam notoriedade, como cappuccino e leite, não deixando de lado o solúvel, que marcou os hábitos do país. Hoje, a Indonésia conta com algumas cafeterias e passou a consumir e sair do papel de exportador para se tornar um mercado de consumo também. Em dez anos, a produção cresceu 17% e o consumo, 248%.
Phyllis Johson começou sua palestra contando que trabalhou em uma fazenda de algodão nos Estados Unidos aos 8 anos de idade, o que a motivou a trabalhar com o café. Falando em Estados Unidos, o país consome muito café. Em 2019, grupos minoritários estão bebendo cafés especiais, ou seja, o consumidor também buscou por novos grãos.
Os Estados Unidos gastam muito dinheiro protegendo a indústria, realizando pesquisas em empresa e no setor anualmente. As empresas que operam o café no país são pequenas. “Faça o que você puder com o que você tem e faça agora”, assim Phyllis finalizou sua apresentação.
Fred Kawuma abordou o consumo de café especial na África, uma tendência apresentada pela Organização Internacional do Café (OIC). Um desafio, segundo ele, pela falta de dados concretos do país. Com a visão geral de consumo de café local, percebe-se a melhora da qualidade do grão, mais processamento para o consumo doméstico e recentemente as marcas locais ganharam destaque no mercado global.
São 25 países africanos produtores de café, sendo a Etiópia líder de consumo, com cerca de 51%. Camarões também aumentou o consumo e conta com um festival anual chamado de Festi Coffee, um lugar onde as pessoas se reúnem para promover o café e agora irão expandir para duas cidades ao ano. Assim, as novas gerações podem degustar os novos cafés e aprender mais sobre a produção, consumo e venda.
Costa do Marfim é outro local em que o governo dedicou meio milhão de dólares para promover o consumo do café. No Quênia, o consumo cresceu em cinco anos mais de 100%. Já a Uganda aumentou 13% em cinco anos, entre jovens de 18 e 30 anos.
A última palestra do primeiro dia do Fórum contou, portanto, com a apresentação de representantes de quatro países. Todos afirmaram o aumento do consumo de cafés especiais, uma visão multicultural do que isso representa para cada país. Amanhã, o Fórum trará workshops sobre mercado, preços, aumento do consumo e análise do relatório apresentado por Jeffrey D. Sachs.
Fonte: EQUIPE CAFÉPOINT