BRASIL VÊ MENOR VOLUME DE CAFÉ DE ALTA QUALIDADE EM 2019, ALGUNS OPERADORES SOFREM

O mercado brasileiro de cafés finos está mais apertado que o normal, gerando um prêmio para a origem brasileira sobre os contratos futuros de Nova York, o que é particularmente raro nesta época do ano, disseram operadores, que pediram anonimato para falar sobre o tema devido à sensibilidade do assunto.

“Algumas tradings estão se retorcendo no mercado. Esses cafés estão sendo negociados com um prêmio para Nova York e é apenas julho. Será uma temporada longa e dolorosa para essas pessoas”, disse um operador de Londres.

O trader disse que as bebidas finas do Brasil para embarque em agosto estão sendo negociadas 4 centavos acima dos futuros de Nova York, quando elas normalmente têm desconto de 5 a 9 centavos frente ao contrato de referência.

Algumas tradings que fizeram vendas antecipadas esperando diferenciais negativos no momento da entrega agora são forçadas a comprar com um prêmio, tomando prejuízos.

As várias floradas nas lavouras do Brasil levantaram preocupações sobre a qualidade da safra atual, conforme noticiou a Reuters anteriormente, mas a questão pode ser pior do que muitos esperavam.

O exportador Escritório Carvalhaes disse que o comércio estava inusitadamente lento, no auge da colheita.

“Há muitos anos não presenciávamos uma semana como esta. Estamos em plena entrada da nova safra 2019/2020, o mercado é comprador, mas os cafeicultores não vendem nas bases oferecidas pelos compradores”, afirmou o Carvalhaes em nota na sexta-feira.

“Os produtores mostram preocupação com o tamanho e qualidade da safra que está entrando nos armazéns.”

Segundo o exportador, o clima irregular no segundo semestre de 2018 desorientou os cafeeiros e as floradas acabaram eclodindo em quatro a cinco etapas.

“No verão, período de crescimento e amadurecimento dos frutos, novamente o clima não ajudou. O tempo apresentou-se seco em janeiro e bem chuvoso a partir de meados de fevereiro”, disse Carvalhaes, citando ainda que temperaturas ficaram acima da média, inclusive no período noturno, por longos períodos no verão de 2019.

“Essas seguidas intempéries levaram a um precoce e desigual amadurecimento dos frutos… Essas chuvas derrubaram frutos maduros, as ‘cerejas’…”, comentou Carvalhaes, ressaltando que o resultado “é uma safra menor que a prevista e de pior qualidade”.

“Teremos menos lotes de boa qualidade a finos e um volume maior de varrições, bem como de cafés com xícaras riadas e rio. O volume de CDs (Cerejas Descascados) produzidos é sensivelmente menor que o estimado inicialmente.”

A produtora Daniella Pelosini, fornecedora regular da torrefadora italiana Illy, disse que vai se esforçar para produzir os cafés que as marcas de alta qualidade buscam.

“Não temos certeza do que aconteceu, mas o grão passou rapidamente de verde a seco. Estou achando muito difícil fazer volumes de cerejas para lotes descascados”, disse ela durante visita à sua fazenda em Pardinho, no Estado de São Paulo.

“É um ano muito atípico”, disse ela, estimando que 15% a 20% de sua produção será natural descascado, contra 35% em um ano normal.

Hélcio Junior, um dos proprietários da Unique Cafés, empresa que trabalha com grãos especiais de Carmo de Minas, nas terras altas da Mantiqueira, afirmou que a região tem visto queda de cerca de 50% na produção de cafés especiais, na comparação com o ano passado, que foi muito bom.

Junior explicou que o problema na região, conhecida pela alta qualidade do café, ocorreu pelo excesso de chuvas, que trouxe muitas floradas em vários períodos, quando a safra foi formada.

“Isso acabou trazendo maturação muito desuniforme, importante para café especial, o cereja, que é o café maduro. Há muita dificuldade de colher o café cereja, está muito desuniforme e isso está encarecendo muito a colheita”, destacou.

Fonte: Coopercitrus

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