Consultorias avaliam que houve uma piora nas expectativas, mas esperam volume maior de animais no cocho em relação a 2018
Consultorias acreditam que os pecuaristas brasileiros devem confinar menos do que 5 milhões de cabeças de gado neste ano. Analistas de mercado afirmam que a intenção de confinamento está menor que no início do ano, mas, ainda assim, os volumes devem ser superiores aos de 2018.
A INTL FCStone projeta um confinamento de 4,750 milhões de cabeças, 9,19% a mais que no ano passado, quando a quantidade foi estimada pela empresa em 4,350 milhões. A Scot Consultoria fala em 5,46% a mais na mesma comparação, com o volume passando de 4,03 milhões para 4,25 milhões de bovinos de um ano para outro.
As estimativas refletem uma maior incerteza em relação ao mercado de boi gordo para estes últimos meses do ano. Além disso, os preços dos animais para a engorda subiram, assim como a cotação do milho usado na alimentação dos rebanhos, levando o pecuarista a refazer cálculos e reavaliar expectativas de rentabilidade.
Nas contas da Scot Consultoria, a cotação do boi magro subiu 5,8% durante o primeiro semestre enquanto o boi gordo ficou praticamente estável, com leve valorização de 0,9%. O milho, com base em Campinas (SP), passou de cerca de R$ 31 a saca de 60 quilos em maio para algo próximo de R$ 38, um aumento de 22,58%.
“O início de 2019 estava diferente. A relação de troca piorou para o confinador e a expectativa de rentabilidade caiu. Quem não aproveitou a oportunidade da compra dos insumos, pagará milho um pouco mais caro”, explica Felippe Reis, analista de mercado da Scot.
Caio Toledo, consultor de gerenciamento de riscos da INTL FCStone, conta que a intenção de confinamento estava maior até abril. De lá para cá, diminuiu. Além da alta do bezerro e do milho, o pecuarista tem visto um boi magro com ágios de 10% a 15% em relação à arroba do animal terminado.
“Se o pecuarista quiser comprar um animal para terminar até outubro, vai pagar mais. Se não comprou nem milho, nem animal e for fazer isso agora, a conta não deve fechar”, resume.
Diante deste cenário, grandes confinadores, com estrutura maior, tendem a trabalhar mais com os animais próprios ou em regime de parceria, acredita Toledo. Para os de menor porte, o efeito dessa alta de custos na terminação do gado dependerá de fatores como a região onde estão e a forma como produzem.
“A depender da região, do modo de produção e de como planejou, a conta pode empatar ou ficar negativa. Se comprou milho quando o valor estava mais baixo, pode até ter um ganho, mas se comprou agora, pode ter perdido”, diz.
A Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon) reforça o cenário de incerteza. Avalia que a quantidade de bovinos nos cochos pode ser 5,88% menor, de 3,2 milhões de cabeças. Em 2018, foram 3,4 milhões, diz o gerente executivo, Bruno Andrade. A estimativa toma como referência os dados dos 85 filiados e os extrapola para uma base de 1,4 mil confinamentos mapeados pela entidade.
Segundo Andrade, os associados respondem por 18% da produção dessa amostragem e não há medida precisa da participação desses confinamentos mapeados no total do país. No entanto, mesmo que não venham a refletir o mercado nacional em sentido mais amplo, os números da Assocon não deixam de ser um indicativo da preocupação de parte do setor com as condições atuais.
“Houve uma elevação no custo de produção no primeiro semestre em relação ao primeiro semestre de 2018. E há incerteza muito grande dos produtores em relação ao mercado de boi no segundo semestre”, analisa Andrade.
Fonte: Globo Rural