Os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os maiores produtores de cebola do Brasil, com uma produção em torno de 45,65% do total nacional. Todavia, o cultivo de cebola também é importante na região nordeste.
Em se tratando de produção mundial, China, Estados Unidos e Rússia são os maiores produtores. No Brasil a cebola é muito utilizada como condimento in natura ou processados na forma picles, congelada, desidratada, como essência, conserva ou cozida.
Os ácidos húmicos são oriundos da parte orgânica do solo, formandos a partir de reações de microrganismos presentes no solo. São complexos que possuem um grupo de íons organizado de modo a funcionar como quelatos e, dessa forma, regulam a biodisponibilidade de íons nos ambientes de cultivo da cebola.
Além disso, são constituintes da fração húmica presente na matéria orgânica, melhorando características físicas, químicas e biológicas do solo, como maior aeração, estruturação de agregados e drenagem.
Aumentam a resistência ao processo de erosão do solo, reduzem a toxidez e incrementam a disponibilidade de água no solo. Para ser aplicado na planta, esse ácido húmico precisa passar pelo processo de fracionamento químico.
Benefícios para a cebola
A aplicação de ácidos húmicos na cultura da cebola acarreta em vários benefícios, como aumento da atividade enzimática e absorção de nutriente, que elevam a atividade fotossintética e o conteúdo de clorofila nas folhas, resultando no incremento da biomassa vegetal e produtividade.
Em geral, o ácido húmico desenvolve melhorias tanto em características físico-químicas do solo como também no desenvolvimento da planta. Isso propicia menor incidência de doenças e pragas, maiores produtividades e menor uso de defensivos agrícolas.
O uso de ácidos húmicos no cultivo de cebola promove um incremento de nutrientes para a planta, como potássio, magnésio, zinco, cálcio, ferro, cobre e sódio, melhorando também o transporte de micronutrientes.
Em situações de aplicação de micronutriente, os ácidos húmicos são bastante importantes para a maximização da disponibilidade para planta, interagindo com os micronutrientes e impedindo que os mesmos reajam com outros íons, de forma que não fique disponível para a planta, evitando também a lixiviação desses nutrientes, sendo assim, uma maneira eficaz de aumentar o sistema de defesa e capacidade produtiva sem a participação de produtos sintéticos. Além disso, reduz a perda de nitrogênio para a atmosfera por meio da diminuição do N2.
Ainda, contribui para a nutrição mineral da planta e para a redução dos efeitos do estresse abiótico no cultivo da cebola em situações de excesso de metais pesados, sódio e alumínio, pesticidas ou esterco não curtidos. Por meio da alta capacidade de formar carga negativa no solo, reage com esses elementos, impedindo que seja absorvido durante o cultivo da cebola.
Além disso, os ácidos húmicos aumentam a concentração de hormônios vegetais, como auxina, giberelinas e citocinina, em destaque nas raízes, provocando o aumento da área de contato das raízes com o solo, causando, por sua vez, o aumento na absorção de nutrientes.
Esse fato é importante devido à exigência nutricional da cebola, tendo o nitrogênio como elemento mais necessitado, elemento esse que participa da qualidade nutricional da cebola, que é rica em vitamina B1, riboflavina e vitamina C, assim como em cálcio, ferro, fosforo, magnésio. Dessa maneira, o uso de ácidos húmicos, além de melhorar a produtividade da cebola, também otimiza a qualidade nutricional da cebola na dieta humana.
Leque de produtos e manejo
É recomendável que, antes da implementação da técnica, se realize análise de fertilidade do solo, com o objetivo de identificar o produto mais adequado, a dosagem e o número de aplicações durante o cultivo. Nisto, é necessário a orientação de um profissional para possibilitar a máxima eficiência da técnica.
No mercado brasileiro há produtos na forma líquida e solúvel, ambas com diferentes elementos na sua composição, como potássio, cálcio, magnésio e ferro. Quanto à aplicação, os ácidos húmicos, de forma geral, eram aplicados via solo.
Todavia, na atualidade pode também ser aplicado via foliar ou por meio de fertirrigação. Quando aplicado via foliar, é necessária menor dosagem para incrementos produtivos, mas deve ser aplicado na maior fase do crescimento da cebola.
A dosagem pode variar de acordo com a forma de aplicação. Nesse caso, a dose de 5,0 L/ha, com quatro aplicações no intervalo de sete dias cada é o mais indicado para a via foliar no cultivo de cebola. Já na fertirrigação, é recomendável aplicar 200 mL/100 L no intervalo de cinco dias.
Produtividade
Em termos produtivos, o uso do ácido húmicos propicia maior desenvolvimento das raízes, que resulta no aumento da absorção de nutriente, repercutindo diretamente no incremento de produtividade da cebola em torno de 17%.
Em cultivo realizado em Santa Catarina, com uso de ácido húmicos, foi observado um aumento de 33% na produção em comparação ao cultivo de cebola sem aplicação de ácidos húmicos.
Em cultivo realizado no Vale do Rio São Francisco, o uso das substâncias húmicas provocou o aumento de 18,87% na produção da variedade IPA 11, com um ganho médio de peso dos bulbos de 24 e 35 g.
Erros e soluções
A aplicação de dose alta pode promover o efeito tóxico no cultivo de cebolas em virtude que cada espécie agrícola apresenta uma necessidade de dosagem diferente, bem como pode variar de acordo com a fertilidade do solo.
Outro erro muito frequente é a aplicação dos ácidos húmicos fora dos valores de pH do solo adequado para a cultivo da cebola, que é de 6,0 a 6,5 e pH com 5%, no máximo, de saturação por alumínio. Além disso, a aplicação não deve ser realizada em horário com temperatura elevada. Também não é recomendável a aquisição de produtos sem informação quanto à formulação e também à dosagem indicada para aplicação no cultivo de cebola.
Investimento x retorno
O custo no cultivo da cebola pode variar de acordo com a área e a dosagem escolhida, sendo que no mercado nacional grande parte dos produtos é comercializada na forma líquida ou pó, com preços variando de acordo com o volume, entre R$ 63,00 e R$ 859,00. Todavia, novas formas de extração e formulação vêm reduzindo os custos de produção dos ácidos húmicos.
Em geral, o uso de ácidos húmicos apresenta uma boa viabilidade econômica, uma vez que leva melhorias quanto à parte física, química e biológica do solo. Dessa maneira, ao longo do ciclo da cebola ocorre a redução quanto aos custos de fertilizantes e defensivos agrícolas, devido às melhorias na estrutura química do solo.
Autores
Aldeir Ronaldo Silva – Engenheiro agrônomo e doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP – aldeironaldo@usp.br
João Pedro Ramos da Silva – Engenheiro agrônomo – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFPE) – joaopedro_r@outlook.com