De acordo com o novo presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Henrique Cambraia, as exportações brasileiras de café devem ser prejudicadas por meses por conta da escassez de contêineres que está afetando as cadeias de suprimento em todo o mundo. “Houve um atraso no embarque dos cafés por causa disso. As coisas deveriam melhorar em dezembro, mas, para ser sincero, acho que só vão começar a se normalizar no segundo semestre deste ano, porque ainda há uma demanda reprimida por produtos que são embarcados em contêineres”, disse. As exportações do Brasil caíram por sete meses consecutivos e despencaram quase 40% em novembro em relação ao ano anterior, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Os números de dezembro ainda não foram divulgados. O principal motivo citado pelo Cecafé há meses é a falta de contêineres para que os exportadores possam embarcar seus cafés para o exterior. O Brasil tem um ciclo de produção cafeeira de dois anos, com safras maiores nos anos pares e menores nos anos ímpares. Em 2021, já se esperava que o Brasil produzisse uma safra menor do que o recorde de 63,1 milhões de sacas de 2020. Uma seca que começou no fim de 2019 reduziu a produção ainda mais do que o esperado. Segundo Cambraia, há café que já foi vendido à espera de embarque para o exterior, mas os estoques de reserva para atender à demanda estão muito baixos. Ele alerta que a oferta pode ficar escassa nos próximos meses, antes que a safra de 2022 comece para valer, em maio. “Acho que teremos alguns meses tensos antes do início da colheita”, comentou. A safra 2021 também foi prejudicada por geadas e frio em julho e agosto, embora o impacto final das baixas temperaturas tenha sido menor do que o inicialmente temido, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No início do ano passado, a Conab previa que a safra de 2021 ficasse em 49,6 milhões de sacas, e, em dezembro, a agência informou que o país colheu 47,7 milhões de sacas. O mau tempo no ano passado também deve resultar em uma produção menor do que o normal em 2022, um ano que normalmente produziria uma safra volumosa. As previsões para a safra de café deste ano variam bastante. O presidente da BSCA espera uma produção de cerca de 60 milhões de sacas. A safra menor no ano passado, as dificuldades logísticas e as preocupações com a safra de 2022 elevaram os preços nos mercados mundiais, mas, ao mesmo tempo, os cafeicultores estão enfrentando custos muito mais altos. Muitos dos insumos usados pelos produtores no Brasil são cotados em dólar, e os custos de envio também são maiores. De acordo com Cambraia, os cafés especiais produzidos pelos membros da BSCA já são mais caros, e os produtores da associação precisam estar prontos para absorver parte de seus custos mais elevados, em vez de tentar repassá-los aos consumidores. “Se os preços dos cafés especiais subirem tanto quanto aumentaram para o café commodity, podemos perder a participação de mercado que levamos tantos anos para conquistar”, afirmou. As informações são do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais. |